Relatório 2020 dos ODS: pandemia e o desenvolvimento sustentável

O recém publicado Relatório 2020 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável(ODS)1 da Organização das Nações Unidas deixa claro que o mundo está progredindo, todavia de modo inconstante e insatisfatório para alcançar os 17 ODS previstos na Agenda 2030.2 Embora se constate uma evolução em alguns índices como saúde materna e infantil, no acesso à energia elétrica e um maior empoderamento da mulher, de outro lado houve um alarmante aumento na insegurança alimentar, na deterioração do meio ambiente natural (evolução das poluições, dos desmatamentos e das queimadas) e no crescimento das persistentes e generalizadas desigualdades.

Não existe dúvida que a pandemia da COVID-19 tornou-se a pior catástrofe humana, social e econômica dos nossos tempos, espraiando-se por todos os países, causando mortes que globalmente excedem 500.000 vidas, somadas aos casos confirmados de contágio que ultrapassam os 10 milhões.

E, de acordo com a leitura que se pode fazer do relatório, a pandemia terá implicações profundas e dificultará o cumprimento dos ODS, cuja observância tem sido monitorada pela ONU desde 2016. Os dados apresentados no relatório deste ano foram, em grande parte, colhidos antes do início da pandemia, por isso não espelham o real impacto da Covid-19. Portanto, nota-se que constam no relatório uma análise sobre as eventuais implicações da pandemia sobre o cumprimento dos ODS baseada em dados científicos e descobertas empíricas nas nações ricas e pobres. A natureza destas descobertas é preliminar e incerta, mas estes achados podem ser úteis na discussão política e científica sobre a relação entre a pandemia e os ODS.

O Relatório 2020, tem cunho intergeracional, pois busca levantar dados e propor estratégias para implementar os ODS tendo em vista proporcionar uma vida boa para as atuais e as futuras gerações dentro de uma perspectiva holística. Não obstante a completude do relatório, importante frisar que não se desenvolveu ainda uma vacina de cunho preventivo contra o vírus e, tampouco, um antirretroviral de amplo espectro para tratar da doença quando instalada nas vítimas. Portanto, ainda existe um longo caminho a ser percorrido no combate à pandemia. Pandemias anteriores, como a Gripe Espanhola, sugerem que pode haver várias novas ondas de contágio, e é impossível prever as nefastas e desastrosas consequências nas economias, na coesão social, no meio ambiente e na diplomacia internacional (a pandemia também gera consequências políticas). Os países, de modo globalista, precisam agir em conjunto praticando o que se chama de solidariedade internacional ao mesmo tempo que devem repudiar o isolacionismo xenófobo.

Os ODS, não se pode ignorar, são objetivos comuns das nações para o desenvolvimento sustentável, e a eclosão da Covid-19 faz a observância dos mesmos cada vez mais urgente e necessária. Relevante, igualmente, pensar no pós-pandemia, e na reconstrução econômica, social, política e ambiental mundial. O Relatório 2020, neste sentido, aí um dos seus grandes méritos, descreve as ideias preliminares de como os ODS podem fornecer a estrutura para a ação nacional e a cooperação internacional após a Covid-19.

No relatório constam distintas prioridades, elaboradas tecnicamente, de curto e de longo prazo. No curto prazo, a prioridade absoluta obviamente é controlar a propagação do vírus e conter a mortalidade em todos os países, em especial nos mais pobres. As nações e a comunidade internacional também precisam mitigar o impacto negativo da pandemia na consecução dos ODS, especialmente em nações vulneráveis e...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT