RiD: a new approach to estimate the insolvency risk/RiD: uma nova abordagem para o calculo do risco de insolvencia.

AutorSanfins, Marco Aurelio dos Santos
CargoArticulo en portugues
  1. Introducao

    A crise economica de 2008 e um desdobramento da crise financeira do subprime, desencadeada em 2006 a partir da falencia de instituicoes de credito americanas que concediam emprestimos hipotecarios de risco elevado. Bancos de varios paises do mundo, atraidos pelo diferencial das taxas de juros dos titulos hipotecarios, financiaram o mercado imobiliario americano, principalmente atraves das maiores empresas do ramo imobiliario dos Estados Unidos, a FNMA (Federal National Mortgage Association) e a FHLMC (FederalHomeLoanMortgage Corporation), tambem conhecidas como Fannie Mae e Freddie Mac. Num passo seguinte, os bancos criaram derivativos negociaveis no mercado financeiro como forma de securitizar as hipotecas, ou seja, transforma-las em titulos livremente negociaveis, e por elas lastreados, que passaram a ser vendidos para outros bancos, companhias de seguros e fundos de pensao, domesticos e extrangeiros.

    Com o inicio do ciclo expansivo dos juros, muitos mutuarios nao foram capazes de quitar suas obrigacoes com os bancos. O crescente numero de inadimplentes provocou uma crise de confianca geral no sistema de credito hipotecario. A crise de confianca congelou o mercado interbancario, pois a avaliacao dos ativos securitizados de hipotecas subprime ficou comprometida, o que levou varias instituicoes a uma situacao de insolvencia e repercutiu negativamente sobre as bolsas de valores de todo o mundo.

    Do ponto de vista corporativo, a situacao se agravou quando o posicionamento em ativos (recebiveis) no balanco patrimonial das instituicoes financeiras nao foi suficiente para cumprir com as obrigacoes existentes no passivo das mesmas. O mercado de titulos privados foi praticamente interrompido e os instrumentos criados pelos bancos para tirar as hipotecas de seus balancos ja nao conseguiam mais encontrar fontes externas de financiamento. Com a paralisacao do mercado interbancario, os Bancos Centrais da maior parte dos paises desenvolvidos foram obrigados a injetar rapidamente nas instituicoes financeiras um volume bastante expressivo de recursos e a estender credito a bancos e organizacoes que usualmente nao necessitavam de financiamento. O inicio da crise instaurou panico por conta do risco de insolvencia em que as instituicoes financeiras foram submetidas. Mesmo com a tentativa governamental de injecao de liquidez ao sistema, ainda era impossivel prever o valor real dos ativos hipotecairios que ainda continuavam nos balancos patrimoniais dos bancos, o que mantinha em patamares elevados o risco de insolvencia.

    Dada a relevancia do tema, pesquisas tem sido feitas no intuito de buscar indicadores que mensurem de forma mais eficiente a probabilidade de insolvencia a que instituicoes estao submetidas. Dentre as principais meitricas existentes na literatura, destacam-se os modelos de anailise discriminante (z-score) de Altman (1968), o modelo adaptado de riscos proporcionais de Cox (1972) e o modelo com base em regressao logistica, de Thomson (1991), que ainda sao utilizados em diversos trabalhos, como em Janot (1999), Nicolo (2000), Cihak & Heiko (2010) e Maechler et al. (2009). Tais medidas, entretanto, estao baseadas em indicadores que nao levam em consideracao a qualidade dos ativos associados (risco de credito), bem como os niveis de severidade entre descasamentos de diferentes periodos.

    Thomson (1991), a partir de uma amostra de 1736 bancos solventes e 770 bancos que faliram no periodo entre 1984 e 1989, verificou que solvencia e liquidez foram os principais fatores relacionados a falencia, considerando-se um periodo anterior de 30 meses. O autor verificou ainda, entretanto, que a qualidade dos ativos, os resultados operacionais e o desempenho gerencial adquiriam maior importancia quando estendido o periodo de analise anterior a falencia. Tais resultados tambem haviam sido encontrados por Kanitz (1976), que verificou que empresas insolventes comecam a dar sinais de dificuldades bem antes de chegarem ao ponto critico de falencia ou concordata.

    Mais recentemente, trabalhos como Segovia-Vargas et al. (2004), Salcedo-Sanz et al. (2005) e Hsiao & Whang (2009) apresentaram outras metricas para a estimacao do risco de insolvencia. Segovia-Vargas et al. (2004) e Salcedo-Sanz et al. (2005) proporam metricas aplicadas a companhias de seguro, cujas abordagens estao baseadas no mecanismo SVM (Support Vector Machine) proposto por Burges (1998) e em algoritimos geneiricos, respectivamente. Hsiao & Whang (2009), por sua vez, utilizaram uma abordagem baseada em redes neurais artficais para modelar probabilidades de insolvencia em companhias de seguro de vida. Todas essas abordagens, entretanto, embora apresentem avancos metodologicos com relacao as metricas mais tradicionais, ainda estao construidas com base em indicadores financeiros que nao sao capazes de refletir o efeito do risco de credito no risco de insolvencia.

    O risco de credito e importante no contexto de risco de insolvencia uma vez que mesmo em periiodos em que os recebiiveis sejam superiores as respectivas obrigacoes, existe a possibilidade de que o recebimento de parte dos ativos nao seja efetuado, ou seja, de que as perdas realizadas estejam acima do valor esperado dos ativos provisionados como nao recebiveis. O impacto do risco de credito no risco de insolvencia pode ser ainda maior quando o descasamento entre ativos e passivos nao for suficiente para compensar a diferenca entre ativos provisionados como recebiveis e ativos efetivamente recebidos. Motivado pela lacuna teorica existente na relacao endogena entre risco de credito, severidade dos descasamentos e risco de insolvencia, este trabalho tem como objetivo formalizar matematicamente uma medida com base no descasamento entre ativos e passivos (RiD) que indique a valor presente o risco de insolvencia a que determinada instituicao esta submetida, de forma que sejam considerados, alem dos recebiveis e obrigacoes futuras, a qualidade dos recebiveis associados e o grau de severidade de cada descasamento.

    A partir de simulacoes de Monte Carlo e de um exemplo hipotetico, verificou-se que a medida RiD proposta e capaz de capturar os efeitos dos descasamentos entre ativos e passivos, e que a ausencia de uma distribuicao harmoniosa desses descasamentos pode incitar um aumento do risco de insolvencia, ainda que o total de ativos a valor presente seja superior ao total de passivos. Alem do risco de insolvencia, a nova abordagem permite que sejam detectados os periodos que mais contribuem marginalmente para o aumento desse risco. Nossos resultados sugerem que periodos com elevados impactos marginais devem ser observados com maior cautela, dado que o redirecionamento de recursos ineficaz para esses periodos ou a presenca de recebiveis com elevado risco de creidito podem elevar a probabilidade de insolvencia.

    Os resultados obtidos foram ainda comparados aos resultados de uma medida que recentemente passou a ser implementada por algumas instituicoes financeiras do mercado e tambem baseada nos descasamentos entre ativos e passivos. Tal medida, entretanto, nao leva em consideracao o efeito do risco de credito sobre o risco de insolvencia. A medida utilizada como benchmark e, na verdade, um caso particular da RiD quando o risco de credito de todas as carteiras de ativos e nulo (ou quando desconsidera-se o risco de credito nas analises de insolvencia). Atraves de uma simulacao que levou em consideracao diferentes cenarios de descasamentos aleatorios entre ativos e passivos, verificou-se que a medida RiD e capaz de capturar os efeitos do descasamento entre ativos e passivos. Analisando-se a evolucao da diferenca entre o verdadeiro percentual de descasamento e o percentual calculado pela RiD, verificou-se que os valores dos erros cometidos pela RiD foram inferiores a 7 x [10.sup.-6] para quaisquer niveis percentuais de descasamento aleatorizados.

    A nova abordagem proposta contribui para o arcabouco de analise do risco de insolvencia uma vez que as interpretacoes dos resultados fornecidos permitem que seja feito um melhor posicionamento dos recebivies e obrigacoes presentes no balanco patrimonial, no que tange principalmente aos quesitos cumprimento de metas e redirecionamento de recursos no longo prazo. Nossos resultados sugerem que o acompanhamento dos periodos mais distantes, com elevados descasamentos e com elevados riscos de credito pode ser determinante para que estrategias de captacao e distribuicao de recursos sejam elaboradas de forma mais eficazes, e para que decisoes de alongar ou encurtar dividas sejam tomadas de forma a diminuir o risco de insolvencia.

    Esse artigo contribui ainda para a literatura de falencia e recuperacao judicial, as quais tem sido amplamente discutidas no atual cenario de aumento do numero de pedidos de recuperacao judicial. Quando o patrimonio do devedor possui valor inferior ao total de suas dividas, a regra da individualidade de execucao pode nao ser aplicada, de forma que sejam criadas oportunidades de realizacao de credito a todos os credores de uma mesma categoria. O processo de recuperacao judicial, quando instaurado, permite ao devedor a postergacao do vencimento de suas obrigacoes, reducao de valor ou instauracao de outros meios que impecam a execucao concursal. Os resultados obtidos tanto pela medida RiD quanto pela RiD Marginal podem ser utilizados para que as empresas tracem estrateigias de forma a minimizar as probabilidades de falencia, dadas as perdas esperadas associadas a atividade em questao, ou para que os processos de recuperacao sejam desenhados de forma a se permitir a efetiva recuperacao da referida empresa.

    O restante desse artigo esta organizado da seguinte forma: na secao 2 e feita uma breve revisao acerca dos principais trabalhos relacionados a insolvencia; na secao 3 a medida proposta e introduzida; na secao 4 sao realizadas simulacoes e uma aplicacao hipotetica para que seja demonstrada a capacidade da nova medida em capturar os efeitos do...

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