Sete ensaios de interpretação da realidade peruana na época dos estados plurinacionais

AutorVivian Grace Fernández-Dávila Urquidi
CargoProfessora Adjunta da Universidade de São Paulo no curso de Políticas Públicas e no Programa de Pós-graduação em Integração da América Latina
Páginas169-171

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De tempos em tempos, a teoria social costuma revisitar seus autores fundadores para recuperar grandes questões não resolvidas. É o que tem ocorrido com a obra do peruano José Carlos Mariátegui (1895-1930), talvez o principal marxista latino-americano, cujo trabalho datado das primeiras décadas do século XX tem inspirado desde então a crítica de cientistas sociais e políticos, assim como a ação de movimentos revolucionários da região.

O resgate desta vez da obra de Mariátegui — dentre outros grandes autores latino-americanos —, porém, deve ser visto mais que um simples revivalismo da esquerda em tempos de socialismo do século XXI.

De fato, a crise do socialismo real, que culminou com a queda do Muro de Berlim dos anos 1980, e que forçou a crítica marxista a questionar seus paradigmas teóricos, operou também uma devastadora dúvida existencial ao promissor pensamento político e social latino-americano, que nas décadas de 60 e 70 parecia, finalmente, ter encontrado um alicerce firme para tratar sua situação de dependência e herança colonial num marxismo localmente situado.

As violentas ditaduras regionais que depois foram seguidas, já em tempos de democracia, por profundas reformas estruturais de ordem liberal no Estado, como se sabe, expulsaram dos centros do debate crítico e político não apenas a imaginação política revolucionária como também seus sujeitos e projetos locais.

Em tal contexto de incertezas, ao longo da década de 1990, ficou por conta de novos setores sociais, entre eles os movimentos indígenas, trazer de volta as grandes questões não resolvidas da região: a ausência de projetos autônomos de desenvolvimento para o país, o padrão de dominação interna e a incapacidade das elites locais de articular a totalidade social e cultural do país.

Eis que Mariátegui de repente volta mais uma vez em obras reeditadas, e inéditas no Brasil, por ser um dos primeiros e o maior pensador marxista latino-americano e,

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também, porque sua vida e obra, ao longo do século XX, servem de fonte de reflexão para analisar o caráter da luta revolucionária socialista.

Seu principal trabalho, Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana (relançado no Brasil em 2008 pela Editora Expressão Popular) foi publicado em 1928, pouco antes da sua morte, e se constituiu desde então no produto literário mais vendido no Peru, e no livro peruano traduzido no maior número de línguas, o que lhe confere relevância...

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