A solidão do gay preto

AutorMarcelo Maciel Ramos, Pedro Augusto Gravatá Nicoli, Paula Rocha Gouvêa Brener
Páginas405-424
CAPÍTULO 27
A SOLIDÃO DO GAY PRETO
Rafael Porto Francisco227
“(...)
Aguarde cenas do próximo episódio
Cês diz que nosso pau é grande
Espera até ver nosso ódio
(...)”
Boa esperança – Emicida
Introdução
Inicialmente é importante pontuar: este capítulo é preto. Devo
dizer, o lugar que eu, homem negro, gay e periférico, não pretendo
assumir um discurso técnico, distante e impessoal. Também não
proponho um artigo científico. Seria contraditório reafirmar este lugar
privilegiado que preza pela neutralidade, sendo esta uma grande
ilusão, pois seria impossível falar de lugar nenhum, diante disso,
afirmo meu lugar subalterno.
Negros e negras ainda não são respeitados como pessoas
capazes de produzir conhecimento, a ciência ainda é branca e mora
lá pelas bandas da zona norte do Globo. Por isso, a necessidade de
tentar mesmo que minimamente subverter esta lógica violenta,
por meio de uma escolha bibliográfica formada apenas por homens
e, sobretudo, por mulheres negras. A partir disso, questiono o
privilégio do lugar europeizado, a universidade corporativista que
exclui saberes subalternos e impossibilita uma mudança racial e de
gênero na produção do conhecimento na perspectiva de outras
vivências. É fundamental repensar a história ocultada, a violência
diária e os não-lugares que os negros ocupam atualmente, porém
isso seria possível se o negro passasse de objeto para sujeito,
pois nesta condição ele teria fala, questionaria e transgrediria a
lógica racista pré-estabelecida há séculos. O lugar do objeto, em
que historicamente nos foi reservada, nunca nos foi satisfatória, pois
o ser observado, analisado e estudado por brancos é algo que
desmoronou a negritude de um povo. Pois a saída, para muitos,
dessa lógica seria a negação de sua própria negritude, a partir de
um ideal de branqueamento.
A construção do corpo negro é uma espécie de prisão do gay
preto. pretensões sobre nossos corpos e até limites. Podemos
acessar determinados espaços e ter determinadas relações afetivas,
por exemplo. Essa construção não nos possibilitou um dinamismo,
pois temos (espera-se) que cumprir o papel de macho-ativo-dotado.
Além disso, há um complexo de inferioridade que nos é imposto
cotidianamente. O negro gay tornou-se um membro. Um pênis para
uso branco, no entanto, o amor ainda o é negado. O que leva a

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