Teologia negra como movimento antirracista/PACHECO, Ronilso. Teologia Negra: o sopro antirracista do Espirito. Brasilia: Novos Dialogos; Sao Paulo: Editora Recriar, 2019.

AutorBatista, Waleska Miguel

Oautor do livro, pastor da Igreja Evangélica Comunidade Batista em São Gonçalo, quebra o paradigma de que os cristãos evangélicos são reacionários e avessos a demandas sociais. Silvio Luiz de Almeida, filósofo e jurista, professor, presidente do Instituto Luiz Gama, afirmou que "estamos diante de um texto escrito por um intelectual de alto nível, um pensador sofisticado que, sem renegar seu lugar no mundo, oferece-nos um trabalho analítico, crítico, de inúmeras referências" (apud PACHECO, 2019: 9).

O Prefácio do livro "Teologia negra: O sopro antirracista do Espírito" foi elaborado por Silvio Luiz de Almeida, que apresenta o livro como forma de esperança e libertação em meio às violências emocionais e físicas direcionadas contra negros, mulheres e membros de religiões de matriz africana. Ele descreve a teologia apresentada por Ronilso como a manifestação dos oprimidos e marginalizados, bem como dos sobreviventes das perseguições e humilhações suportadas em razão do racismo. (1)

O livro é estruturado com introdução, quatro capítulos e conclusão. O primeiro capítulo, intitulado "Sobre a teologia", mostra como a teologia nasce no deserto, como ela é doadora de sentido na relação social. No segundo capítulo, "O sopro antirracista do Espírito", o autor narra a relevância de uma Teologia Negra, o seu surgimento e as suas principais chaves e características. No terceiro capítulo, o autor apresenta o mapeamento dos debates da Teologia Negra na sistemática política, no movimento das mulheres e na diáspora. E no quarto capítulo, o autor sugere a possibilidade de uma Teologia Negra brasileira, a partir do caminho de reconciliação com a África, com a hermenêutica bíblica comunitária e quilombista.

O nome do livro reflete o conceito difundido nos anos 1960 nos Estados Unidos por James Cone, que desenvolveu a Teologia Negra a partir da concepção de que o povo negro sempre foi resistente às artimanhas da estrutura dominante que o subalternava, não reconhecendo sua humanidade. Agostinho José Pereira, pastor, também conhecido como Lutero Negro, profético e libertador, foi apontado, segundo o autor, como símbolo de combate contra o racismo. (2)

O estudo da Teologia Negra de James Cone surgiu no mesmo período que as lutas pelos Direitos Civis, e podemos citar nomes como Martin Luther King Junior e Malcolm X, e posteriormente na África do Sul, em razão do regime apartheid, (3) onde podemos mencionar o Arcebispo Desmond Tutu.

O autor afirma que a discussão sobre uma Teologia Negra faz sentido quando há o reconhecimento de que as sociedades colonizadas foram submetidas às imposições eurocêntricas, na medida em que o racismo e o regime escravocrata foram mecanismos utilizados como forma de determinação das relações sociais, políticas, econômicas e religiosas. O autor entende que "Sem a compreensão de como o mundo é "racializado" a partir da Europa, a Teologia Negra perde seu pano de fundo" (PACHECO, 2019: 17).

A Teologia Negra tem força nos movimentos religiosos, não importando a sua crença, pois está presente nas igrejas protestantes, católicas e de matriz africana. Inclusive, a Revolução Haitiana foi colocada como uma conquista alcançada pela manifestação do vodu, segundo as crenças populares.

Bernand S. Cohn (1928: 143) narrou a dominação da Europa na Índia e evidencia que todos os colonizadores utilizavam da religião para demonizar o grupo dominado, bem como impor novos costumes religiosos e culturais. (4) Gilberto Freyre (2003) no livro Casa Grande e Senzala narrou que o catecismo dos indígenas pelos jesuítas refletiu, em grande parte, este mesmo quadro. A religião foi utilizada como forma de imposição de novos costumes visando à dominação estrutural.

Da mesma forma, o continente africano ainda é estigmatizado como amaldiçoado, bem como composto por criaturas amaldiçoadas por Deus, o que afasta o reconhecimento de qualquer humanidade dos homens negros e mulheres negras. Com isso, as histórias cristãs impostas e difundidas massivamente na colonização transformaram personagens bíblicos negros em pessoas com estereótipo europeu.

Certamente que a religião cristã europeia não é o fundamento do racismo, mas serviu como justificativa utilizada para legitimar práticas racistas. Silvio Luiz de Almeida (2018), Achille Mbembe (2014), Michele Alexander (2017), entre outros pesquisadores, narram que o racismo é estrutural e construído socialmente a partir dos interesses do sistema econômico, e a igreja não fica afastada dessa lógica.

Ronilso Pacheco, a...

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