A Vaidade no Judiciário significa traição ao Povo
| Autor | Luiz Guilherme Marques |
| Páginas | 139-140 |
a VaidadE No judiciário
siGNifica traição ao PoVo
Nem todo trabalho que realizamos se constitui de mera repetição daquilo
que automatizamos através do estudo e da experiência.
Há situações em que se fazem necessárias a criação, a improvisação, a
intuição.
Nesses momentos nos igualamos aos artistas e inventores, que procu-
ram sintonizar as antenas psíquicas em direção do Imponderável, de onde
ui a inspiração.
BEETHOVEN dizia que suas melhores composições representavam
um minuto de inspiração e noventa e nove de transpiração, querendo signi-
car que trabalhava arduamente para aperfeiçoar a imprecisa e fugaz lumino-
sidade representada por uma ideia genial.
Assim também fazemos nós: as ideias surgidas em nossa mente têm de
ser tratadas, polidas e esculpidas através da clareza e segurança das palavras
e frases.
O mármore que esculpimos são as palavras.
Mas, considerando que não somos donos da inspiração e que ela nos
visita quando menos esperamos, ela nos cobra humildade.
A vaidade é justamente o oposto da humildade, pois deforma nossa
visão a respeito do nosso valor.
Se é verdade que ninguém é desprezível e insignicante – pois cada um
é uma peça importante em qualquer conjunto – não somos também um pri-
mor de virtudes e méritos.
Quando o sucesso passa a alcançar-nos seguidamente, há o perigo do
envaidecimento.
Talvez visando eximir-se da vaidade, MICHEL DE MONTAIGNE
procurou muitas vezes diminuir seus méritos no seu livro Ensaios. Como
propunha-se a aprofundar a sonda da observação no seu mundo pessoal, não
podia hipocritamente enxergar-se melhor do que realmente era.
Quanto a nós, o que importa é que saibamos dimensionar nossa atua-
ção dentro do que é realmente útil para os jurisdicionados, pois essa é nossa
função.
Transformar nosso cargo em pedestal de vaidade representa trair o man-
dato que nos outorgou a comunidade a quem devemos servir.
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