Modelo Conceitual de Análise Competitiva em Micro e Pequenas Empresas do Setor de Confecções

AutorSandra Regina Rech
CargoDoutor em Engenharia de Produção - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Docente da Universidade do Estado de Santa Catarina
Páginas5-12

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1 Introdução

O potencial de crescimento de um país é afetado pela sua capacidade de gerar conhecimento, o que demanda amplo espectro de iniciativas e reformas interconectadas. A nova configuração da competitividade sustentável prescreve reestruturação em termos de aparato tecnológico; gestão de pessoas e custos e de estratégias empresariais, sendo que este novo patamar competitivo passa a montante por atividades de pesquisa & desenvolvimento, e a jusante, pela comercialização, distribuição e estratégias de marketing.

A abertura do mercado global coopera para a circulação de idéias e para a procura por novidades, instigando a inovação e a criatividade, principais estratégias competitivas. O sucesso, neste novo contexto, é obtido através da geração, exploração, aplicação e comercialização do conhecimento. Portanto, a competitividade não está fundamentada, tão somente, nos custos, mas na natureza da competição para aspectos intangíveis tais como velocidade, inovação e design.

2 Material e Método

O presente texto corresponde ao resultado da tese de doutoramento: "Cadeia Produtiva da Moda: um modelo conceitual de análise da competitividade no elo confecção" (RECH, 2006), que teve como objetivo propor um modelo conceitual de análise competitiva para moda.

A pesquisa foi desenvolvida em 4 estágios: (a) coleta de dados secundários e primários; (b) aplicação do instrumento de coleta de dados; (c) análise e interpretação de dados; (d) elaboração de um modelo conceitual de análise competitiva da moda.

O desenho metodológico adotado compreendeu a documentação indireta e direta, objetivando a reunião de informações relevantes para a compreensão da temática investigada e para a elaboração de um referencial teórico sobre a Cadeia Produtiva da Moda, Competitividade e Confecção, enfatizando seus principais indicadores econômico-produtivos e suas peculiaridades. Caracterizou-se como uma pesquisa aplicada de cunho qualitativo e quantitativo, do ponto de vista da abordagem, e exploratória descritiva, do ponto de vista de seus objetivos.

2. 1 Pesquisa quantitativa

Nesta fase, foram utilizados métodos de pesquisa survey exploratória e a população estudada foi de 30 micro e pequenas confecções do município de Florianópolis (SC), sendo a amostragem censitária.

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A ferramenta escolhida para a coleta de dados foi questionário estruturado e não disfarçado, composto por perguntas abertas e fechadas e aplicado por entrevista pessoal com os proprietários e/ou gerentes das empresas. Inicialmente, fez-se uma análise descritiva das informações obtidas no questionário para cada categoria independentemente. Posteriormente, foi utilizado o Teste Exato de Fisher para inferência e realização de alguns cruzamentos.

2. 2 Pesquisa qualitativa

Na pesquisa qualitativa, a opção incidiu na forma de grupo de foco on-line, com a utilização da técnica Delphi, por meio de 3 rodadas de questionários enviadas para os respondentes por meio eletrônico.

A amostra investigada foi composta por pesquisadores em áreas afins (7 integrantes das áreas de moda, design, artes e tecnologia); e, especialistas de entidades representativas para o setor. A amostra foi não-probabilística intencional.

3 Cadeia Produtiva da Moda

A Cadeia Produtiva da Moda enceta o conceito de filière, considerando a coordenação e a integração entre as fases de produção da matéria-prima (agrícola ou química) e as fases industrial e distributiva. O termo, de origem francesa, significa fileira, ou seja, uma sequência de atividades empresariais que conduzem a uma sucessiva transformação de bens, do estado bruto ao acabado ou designado ao consumo. Esta cadeia de produção é dotada de elevado grau de complementaridade e engloba diversos setores produtivos, desde as atividades manufatureiras de base até os serviços avançados de distribuição.

Atualmente, encontra-se num período de profundas transformações caracterizado pelo processo de globalização econômica, pelo deslocamento da fabricação devido aos custos operacionais, pela acirrada concorrência, pelo desenvolvimento veloz das tecnologias e sistemas de informação e por mudanças graves e complexas nas estruturas dos mercados (CENTRO PORTUGUÊS DE DESIGN -CPD, 2001).

Gimeno (2000) relata que a produção, a promoção, a distribuição e a criação compõem um conjunto de elementos que configuram e que devem ser gestionados para desenvolver a competitividade das empresas desta cadeia produtiva em face da contínua evolução do mercado. Atualmente, a concorrência está ocorrendo baseada na diferenciação (criatividade-qualidade-preço) e centrada na incorporação de elementos como estilo, design e moda nos produtos.

Portanto, na Cadeia Produtiva da Moda, a hierarquização está ocorrendo de jusante a montante, do consumidor final à produção de matéria-prima. Nos países desenvolvidos, atualmente, a moda está ascendendo em nível de importância, sendo que as atividades de marketing, vendas e produção flexível adquirem relevância.

Esta nova formatação da cadeia relaciona-se à progressiva divisão entre o tangível e o intangível, o material e o imaterial, as funções produtivas e as de valorização (LUPATINI, 2005). O autor salienta que, embora, a modernização da indústria têxtil e de vestuário por meio de ativos materiais (investimentos em máquinas, equipamentos e matérias-primas) continue a ser importante, cada vez mais não é suficiente. Esta carência acentua-se ao se perquirir a competitividade da Cadeia Produtiva da Moda como todo e não tão somente em algumas empresas e/ou elos, uma vez que os ativos imateriais formam unicamente uma das dimensões para ganhos de competitividade sustentável da Cadeia.

A moda é instrumento eficaz para o aumento da competitividade das empresas, já que possibilita a diferenciação do produto e, consequentemente, da própria empresa (GIMENO, 2000).

4 Competitividade

O conceito de competitividade é objeto de apreensão autoral.

As diferenças resultam de bases teóricas, percepções da dinâmica industrial e mesmo ideologias diversas e têm implicações sobre a avaliação da indústria e sobre as propostas de política formuladas (HAGUENAUER, 1989, p. 1).

Pode-se alegar que as análises da competitividade consideram tanto os ambientes externos e internos, sejam em nível nacional ou internacional, à empresa, à esfera industrial e à situação econômica do setor produtivo.

É mister ressaltar que, devido à complexidade em explicar o conceito:

A definição de indicadores adequados para avaliar a competitividade está diretamente condicionada pela abrangência e pela profundidade com que o tema é tratado, e com quais objetivos (COUTINHO; FERRAZ, 1994, p. 459).

Assim sendo, o comportamento competitivo de uma nação, indústria ou empresa é dependente de um conjunto de fatores, que pode ser subdividido em empresarial e estrutural, pertinentes aos setores e complexos industriais; e nos de natureza sistêmica (COUTINHO; FERRAZ, 1994).

Os fatores internos à empresa estão sob o comando da firma, que sobre eles retêm poder de decisão e controle. Podese arrolar a produtividade (custo/preço), qualidade, inovação e marketing, ou seja, as:

Estratégias a serem adotadas [inovação nos processos e produtos], sistemas de gestão, políticas de capacitação e treinamento [recursos humanos], investimentos em novas plantas e tecnologia [produção] (MORAES, 2003, p. 13).

Os de natureza estrutural apresentam-se com especificações setoriais mais nítidas, na medida em que tem sua importância diretamente relacionada ao padrão de concorrência característico de cada ramo industrial (SCHENINI, 1999).

Ainda que não totalmente contidos pela empresa, esta os influencia parcialmente: a dinâmica exclusiva da concorrência, o mercado consumidor, o grau de verticalização, a configuração

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da indústria e sua relação com as escalas de operação, o acesso à tecnologia, a propriedade dos meios de produção e o sistema fiscal-tributário. E, como fatores sistêmicos, podem-se citar os macroeconômicos, os político-institucionais, legais-regulatórios, infraestruturais; sociais; internacionais (mercado internacional). "São externalidades sobre as quais o poder de intervenção é pouco ou nulo" (MALDONADO; PIO, 2004, p. 4).

Coutinho e Ferraz (1994), no Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira, em função dos distintos setores avaliados, os classificaram em três blocos: (a) setores com capacidade competitiva; (b) setores com deficiências competitivas; e, (c) setores difusos de...

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