Acórdão Nº 08042529120158205001 de TJRN. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, Terceira Câmara Cível, 10-08-2020

Data de Julgamento10 Agosto 2020
Classe processualAPELAÇÃO CÍVEL
Número do processo08042529120158205001
ÓrgãoTerceira Câmara Cível
Tipo de documentoAcórdão

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
TERCEIRA CÂMARA CÍVEL

Processo: APELAÇÃO CÍVEL - 0804252-91.2015.8.20.5001
Polo ativo
Z.M.M. DE OLIVEIRA RIBEIRO EIRELI - EPP
Advogado(s): MARIANA AMARAL DE MELO, RENATO DUARTE MELO
Polo passivo
ALBRA INVESTIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA - EPP e outros
Advogado(s): GLEYDSON KLEBER LOPES DE OLIVEIRA, LIEGE MARIA ZAFFARI, LARISSA JULIANA SOUSA DE MEDEIROS ARAUJO LIMA

Relator: DESEMBARGADOR VIVALDO PINHEIRO

Relator para o Acórdão: JUIZ CONVOCADO JOÃO AFONSO PORDEUS


EMENTA: DIREITO DO CONSUMIDOR E CIVIL. APELAÇÕES CÍVEIS. ANÁLISE CONJUNTA DOS APELOS. AÇÃO DE ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA. IMÓVEL DEVIDAMENTE QUITADO. APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 308 DO STJ. INEFICÁCIA DA HIPOTECA FIRMADA ENTRE A CONSTRUTORA DO IMÓVEL E A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA EM RELAÇÃO AO COMPRADOR. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTIA INDENIZATÓRIA ARBITRADA DE MANEIRA INSUFICIENTE. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. MAJORAÇÃO DA VERBA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS FIXADOS SOBRE O VALOR DA CONDENAÇÃO. MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. POSSIBILIDADE. APLICABILIDADE DO DISPOSTO NO ART. 85, §2º, DO CPC. VERBA SUCUMBENCIAL FIXADA SOBRE O VALOR DA CAUSA. APELO DO AUTOR CONHECIDO E PROVIDO. RECURSO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA CONHECIDO E DESPROVIDO.



ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima nominadas.

Acordam os Desembargadores que integram a 3ª Câmara Cível deste Egrégio Tribunal de Justiça, em julgamento com quórum ampliado, nos termos do art. 942, do CPC, por maioria de votos, conheceu e negou provimento ao recurso da parte ré e, por outro lado, conheceu e deu provimento ao recurso interposto pela parte autora, para reformar parcialmente a sentença, no sentido de majorar o quantum indenizatório fixado a títulos de danos morais para R$ 10.000,00 (dez mil reais) e, no tocante aos honorários advocatícios, fixá-los em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa, nos termos do § 2º do art. 85 do CPC, mantendo a sentença nos demais termos. Vencidos o Desembargador Vivaldo Pinheiro e Dr. Eduardo Pinheiro (Juiz convocado em substituição legal ao Des. João Rebouças), que deu provimento parcial ao recurso da parte demandante majorando os danos morais para R$ 10.000,00 (dez mil reais) e fixando os honorários advocatícios em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação e negou provimento ao recurso da parte demandada. Relator para o acórdão: Dr. João Pordeus (Juiz convocado em substituição ao Des. Amaury Moura Sobrinho). Participaram do julgamento o Des. Ibanez Monteiro e a Dra. Berenice Capuxu (Juíza convocada em substituição ao Des. Claudio Santos)

RELATÓRIO

Trata-se de Apelações Cíveis interpostas pela Z.M.M de Oliveira Ribeiro Eireli - EPP e pelo Banco Bradesco S/A em face da sentença proferida pelo Juízo da 20ª Vara Cível da Comarca de Natal que, nos autos da Ação de Adjudicação Compulsória c/c Indenização por Danos Morais ajuizada contra a Albra Investimentos Imobiliários Ltda e Banco Bradesco S/A, julgou procedente o pleito autoral para: i) declarar adjudicado em favor do autor o imóvel constituído como unidade nº 100, parte integrante do imóvel objeto da matrícula nº 32.797, livro 2-RG, 3º Ofício de Notas neste Capital, devendo outorgar-se em nome da parte autora a escritura definitiva para que surta os seus efeitos jurídicos e legais; ii) declarar a ineficácia do gravame hipotecário incidente sobre a fração ideal correspondente a unidade habitacional nº 100; iii) condenar os demandados a indenizarem os danos morais sofridos pela parte autora na quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Em suas razões recursais, a ZMM de Oliveira Ribeiro alega que apesar de ter cumprido com todas as suas obrigações contratuais, adimplindo completamente o preço do imóvel, restou impedida de lavrar escritura pública de compra e venda para posterior registro na matrícula do imóvel negociado, em razão de um impasse existente entre a construtora (Albra Investimentos Imobiliários) e o agente financeiro (Banco Bradesco).

Informa que a Albra Investimentos contratou uma linha de crédito junto ao Banco Bradesco no valor de R$ 3.851.000.00 (três milhões e oitocentos e cinquenta mil reais) para construir o empreendimento Bellevue.

Narra que a construtora, todavia, ficou inadimplente com o agente financeiro e, por esse motivo, o Banco Bradesco recusou que a parte apelante, adquirente da unidade habitacional nº 100, lavrasse a escritura pública de compra e venda e registrasse o imóvel em seu nome.

Defende que foi coagida pelo Banco Bradesco a pagar a dívida da Albra Investimentos como condição para o registro das unidades autônomas em seu nome.

Assevera que o Magistrado de Primeiro Grau arbitrou o valor ínfimo de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a título de danos morais.

Ressalta que o valor da indenização deve ser majorado para o montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais), como fixado, em situação praticamente idêntica, na Apelação Cível nº 2016.012424-4.

Questiona, ainda, o valor dos honorários sucumbenciais em relação as ações de adjudicação.

Ao final, pugna pelo conhecimento e provimento do recurso a fim de que a sentença seja reformada.

Por sua vez, o Banco Bradesco S/A aduz que firmou com a construtora Albra Investimentos um financiamento imobiliário com o objetivo de fornecer recursos para a construção do empreendimento imobiliário objeto da demanda.

Informa que a mencionada construtora, em garantia do fiel cumprimento das condições pactuadas, deu em garantia hipotecária as frações ideais correspondentes as unidades a serem construídas, dentre elas o apartamento e box, fato normal no que diz respeito ao tipo de contratação.

Defende que além de não ter ciência, não participou do instrumento particular de promessa de compra e venda sobre a unidade indicada na exordial firmado entre o autor e a Albra Investimentos, fornecendo, apenas, um financiamento para construção do empreendimento imobiliário.

Ressalta que a simples juntada da cópia de recibo ou mesmo da outorga da escritura pública de venda, emitida pela Albra Investimentos, não significa dizer que houve o pagamento da obrigação.

Salienta que o autor não comprovou ter sofrido qualquer dano, nem que o contestante tenha praticado um ato culposo ou ilícito, oposto ao direito, requisito essencial para configurar o dever de indenizar, não havendo nexo de causalidade.

Requer, por fim, o conhecimento e provimento do recurso para reformar a sentença recorrida.

As contrarrazões foram apresentadas pela ZMM de Oliveira Ribeiro (Id. 1618406).

O Banco Bradesco S/A não apresentou contrarrazões.

A 8ª Procuradoria de Justiça declinou de intervir no feito (Id. 2507934).

É o relatório.

VOTO VENCEDOR


Inicialmente, conheço dos recursos e acompanho a bem lançada fundamentação do voto do eminente Relator quanto a impossibilidade da hipoteca inscrita junto à matrícula imobiliária formalizada entre a construtora e o banco produzir efeitos em relação ao adquirente do imóvel (Súmula 308/STJ), bem como em relação a majoração dos danos morais para o valor de R$10.000,00 (dez mil reais).

Contudo, no que diz respeito ao valor dos honorários fixados, peço vênia para divergir.

A r. sentença fixou a verba no percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação.

Ocorre que, a condenação na obrigação de fazer relativa ao cancelamento da hipoteca e outorga da escritura não tem conteúdo econômico afora o próprio valor do imóvel, devendo a verba sucumbencial, portanto, ser fixada com base no art. 85, § 2º, do CPC, utilizando o valor da causa como base de cálculo.

Com efeito, o preço do imóvel constante do compromisso de compra e venda é de R$ 783.318,00 (setecentos e oitenta e três mil e trezentos e dezoito reais), importância que foi dada como valor da causa sem qualquer impugnação. Assim, a condenação no ônus da sucumbência, com verba honorária fixada em 10% sobre esta quantia, a ser rateada pelas rés, corresponde ao valor envolvido na ação, devendo os honorários serem arbitrados no mínimo legal previsto em lei, como requer a parte autora/apelante.

Nesse sentido, converge o julgado do Superior Tribunal de Justiça abaixo colacionado:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. JUÍZO DE EQUIDADE NA FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA. NOVAS REGRAS: CPC/2015, ART. 85, §§ 2º E 8º. REGRA GERAL OBRIGATÓRIA (ART. 85, § 2º). REGRA SUBSIDIÁRIA (ART. 85, § 8º). PRIMEIRO RECURSO ESPECIAL PROVIDO. SEGUNDO RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. O novo Código de Processo Civil - CPC/2015 promoveu expressivas mudanças na disciplina da fixação dos honorários advocatícios sucumbenciais na sentença de condenação do vencido. 2. Dentre as alterações, reduziu, visivelmente, a subjetividade do julgador, restringindo as hipóteses nas quais cabe a fixação dos honorários de sucumbência por equidade, pois: a) enquanto, no CPC/1973, a atribuição equitativa era possível: (a.I) nas causas de pequeno valor; (a.II) nas de valor inestimável; (a.III) naquelas em que não houvesse condenação ou fosse vencida a Fazenda Pública; e (a.IV) nas execuções, embargadas ou não (art. 20, § 4º); b) no CPC/2015 tais hipóteses são restritas às causas: (b.I) em que o proveito econômico for inestimável ou irrisório ou, ainda, quando (b.II) o valor da causa for muito baixo (art. 85, § 8º). 3. Com isso, o CPC/2015 tornou mais objetivo o processo de determinação da verba sucumbencial, introduzindo, na conjugação dos §§ 2º e 8º do art. 85, ordem decrescente de preferência de critérios (ordem de vocação) para fixação da base de cálculo dos honorários, na qual a subsunção do caso concreto a uma das hipóteses legais prévias impede o avanço para outra categoria. 4. Tem-se, então, a seguinte ordem de preferência: (I) primeiro, quando houver condenação, devem ser fixados entre 10%...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT