Acórdão Nº 08083995520208200000 de TJRN. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, Segunda Câmara Cível, 27-05-2021

Data de Julgamento27 Maio 2021
Classe processualAGRAVO DE INSTRUMENTO
Número do processo08083995520208200000
ÓrgãoSegunda Câmara Cível
Tipo de documentoAcórdão

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
SEGUNDA CÂMARA CÍVEL

Processo: AGRAVO DE INSTRUMENTO - 0808399-55.2020.8.20.0000
Polo ativo
VIRNA LYGIA LOBO ROCHA DE SOUSA e outros
Advogado(s): LENNIO MAIA MATTOZO
Polo passivo
BANCO BRADESCO S/A
Advogado(s): JOSE ALMIR DA ROCHA MENDES JUNIOR

AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0808399-55.2020.8.20.0000

AGRAVANTES: VIRNA LYGIA LOBO ROCHA DE SOUSA E ANDRE GUSTAVO PIRES DE SOUSA

ADVOGADO: LENNIO MAIA MATTOZO

AGRAVADO: BANCO BRADESCO S/A

ADVOGADO: JOSE ALMIR DA ROCHA MENDES JUNIOR

RELATOR: DESEMBARGADOR VIRGÍLIO MACEDO JR.


EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRETENSÃO DE REFORMA DA DECISÃO INDEFERIU A ANTECIPAÇÃO DA TUTELA RECURSAL. EXISTÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. DEMANDA QUE VISA A BAIXA NO REGISTRO DA GARANTIA REAL INSTITUÍDA ENTRE A CONSTRUTORA E O BANCO. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO INTERNO CONHECIDO E DESPROVIDO.

1. Inexistentes razões de fato e de direito bastantes para que seja modificada a decisão agravada, deve, nessa oportunidade, ser ratificado o pronunciamento jurisdicional monocrático, por todos os seus fundamentos.

2. Agravo interno conhecido e desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima nominadas.

Acordam os Desembargadores que integram a Segunda Câmara Cível deste Egrégio Tribunal de Justiça, em Turma, por unanimidade de votos, conhecer e negar provimento ao agravo interno, nos termos do voto do Relator, parte integrante deste.

RELATÓRIO

1. Trata-se de agravo interno interposto por VIRNA LYGIA LOBO ROCHA DE SOUSA e ANDRÉ GUSTAVO PIRES DE SOUSA contra a decisão monocrática que indeferiu a antecipação da tutela recursal (Id 7610386).

2. Em suas razões (Id 7665222), debateram os agravantes o desacerto da decisão ao argumento de que a construtora não deve compor o polo passivo da Ação de Obrigação de Fazer com Pedido de Tutela Antecipada (Proc. nº 0840970-14.2020.8.20.5001), ponderando que: (i) emitiu a declaração de quitação do imóvel, outorgando aos agravantes o título de proprietário; (ii) a construtora não é credora hipotecária; (iii) somente o Banco Bradesco possui poderes para dar baixa no gravame hipotecário; (iv) a ação é de cunho eminentemente obrigacional intuito personae; (v), e por fim, a jurisprudência invocada diz respeito a ação onde equivocadamente somente a construtora fora chamada para compor o polo passivo, sendo certo que o credor hipotecário (Banco) deveria responder à ação, situação diametralmente oposta a ora aqui discutida.

3. Pediu, assim, o provimento do presente agravo interno para que seja reformada a decisão monocrática objurgada, deferindo o efeito suspensivo ao presente agravo e, ato contínuo, conceder a tutela antecipada para retificar o despacho inicial, mantendo apenas o Banco réu na relação jurídica processual, ora agravado, único credor hipotecário existente.

4. Em sede de contrarrazões (Id 7801405), a parte agravada pugnou pelo desprovimento do agravo interno.

5. É o relatório.

VOTO

6. Conheço do presente agravo interno.

7. Pretendem os agravantes que seja reformada a decisão recorrida e, por via de consequência, conceder a antecipação da tutela recursal para retificar o despacho inicial, mantendo apenas o Banco réu/agravado na relação jurídica processual.

8. Entretanto, os recorrentes não lograram apontar fundamentos bastantes para que seja reformada a decisão recorrida, que merece, nessa oportunidade, ratificação por todos os seus fundamentos.

9. Com efeito, inobstante o enunciado da Súmula nº 308/STJ - "A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel", o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento consolidado de que há litisconsórcio passivo necessário entre a construtora (devedora hipotecária) e o agente financeiro (credor hipotecário), pois o cancelamento da hipoteca depende da quitação da dívida ou de manifestação de vontade do credor hipotecário. Veja-se:

“AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. PAGAMENTO INTEGRAL DO PREÇO. OUTORGA DE ESCRITURA. CANCELAMENTO DE HIPOTECA. CREDOR HIPOTECÁRIO QUE NÃO INTEGROU A LIDE. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. AGRAVO INTERNO PROVIDO PARA CONHECER DO AGRAVO E DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL. 1. Não obstante o enunciado da Súmula 308/STJ estabeleça que "a hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel", deve o agente financeiro, que detém a hipoteca, figurar no polo passivo da ação que objetiva o levantamento do gravame para fins de outorga da escritura definitiva de compra e venda do imóvel litigioso, sob pena de tornar-se inexequível o julgado.

2. "Na hipótese em exame, considerando que o cancelamento da hipoteca não é ato unilateral da devedora, pois depende da quitação da dívida ou de manifestação de vontade do credor hipotecário, deveria este ter integrado a lide, na condição de litisconsorte necessário, a fim de que contra ele pudesse ser imposto o comando condenatório inserto na sentença transitada em julgado" (REsp 440.783/DF, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 18/10/2012, DJe de 5/3/2013).

3. Agravo interno provido para conhecer do agravo e dar parcial provimento ao recurso especial, a fim de determinar a citação do credor hipotecário.”

(STJ, AgInt no AREsp 1452256/SP, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, j. 24/09/2019)

“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. DECISÃO JUDICIAL. CANCELAMENTO DE HIPOTECA. CREDOR HIPOTECÁRIO QUE NÃO INTEGROU A LIDE. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. INEFICÁCIA DA SENTENÇA. IMPOSSIBILIDADE DE EXTENSÃO SUBJETIVA DA COISA JULGADA. RECURSO DESPROVIDO.

1. Na hipótese em exame, considerando que o cancelamento da hipoteca não é ato unilateral da devedora, pois depende da quitação da dívida ou de manifestação de vontade do credor hipotecário, deveria este ter integrado a lide, na condição de litisconsorte necessário, a fim de que contra ele pudesse ser imposto o comando condenatório inserto na sentença transitada em julgado.

2. Recurso especial desprovido.”

(STJ, REsp 440.783/DF, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, j. 18/10/2012)

“CIVIL E PROCESSUAL. PRIMEIRO RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO POR SER PREMATURO. INTERPOSIÇÃO ANTERIOR AO JULGAMENTO DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS. NÃO-EXAURIMENTO DA INSTÂNCIA ORDINÁRIA. AUSÊNCIA DE RENOVAÇÃO. PRECEDENTES DO STJ. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. IMÓVEL DADO EM HIPOTECA PELA CONSTRUTORA A AGENTE FINANCEIRO. QUITAÇÃO DO PREÇO PELO ADQUIRENTE. OUTORGA DE ESCRITURA DEFINITIVA. LIBERAÇÃO DO ÔNUS REAL. DEMANDA MOVIDA CONTRA A INCORPORADORA E O AGENTE FINANCIADOR. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. CPC, ART. 47. SÚMULA N. 308-STJ. DANOS MATERIAIS. PROVA DO PREJUÍZO INEXISTENTE. RECURSO ESPECIAL. SÚMULA N. 7-STJ. PROVIMENTO PARCIAL DO SEGUNDO ESPECIAL.

I. Estando pendente o julgamento dos aclaratórios, é inoportuna a interposição do recurso especial, vez que não houve o necessário exaurimento da instância. Precedentes do STJ.

II. Deve o banco financiador, que detém a hipoteca, figurar no pólo passivo da lide, na condição de litisconsorte necessário, sob pena de tornar-se inexequível o julgado, que determinou a liberação do gravame.

III. "A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel" - Súmula 308 -STJ.

IV. Desacolhidos os danos materiais pelas instâncias ordinárias, por ausência de efetiva demonstração dos prejuízos, a controvérsia recai no reexame fático, vedado ao STJ por força da Súmula n. 7.”

(STJ, REsp 625.091/RJ, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, j. 09/02/2010)

10. Ademais, se não fosse a hipótese de litisconsórcio passivo necessário entre a construtora (devedora hipotecária) e o agente financeiro (credor hipotecário), haveria de se falar em ilegitimidade passiva da construtora (devedora hipotecária), o que não ocorreu diante da inquestionável a obrigação da construtora que, recebendo o preço e ocorrida a quitação do imóvel, deve outorgar o título, consoante obrigação assumida por força de contrato de compra e venda firmado com os compradores.

11. Inexistentes razões de fato e de direito bastantes para que seja modificada a decisão agravada, deve, nessa oportunidade, ser ratificado o pronunciamento jurisdicional monocrático, por todos os seus fundamentos.

12. Por esses fundamentos, voto pelo conhecimento e desprovimento do agravo interno.

13. É como voto.

Desembargador Virgílio Macedo Jr.

Relator

7

Natal/RN, 24 de Maio de 2021.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT