Acórdão nº 50005505120168210045 Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Décima Quinta Câmara Cível, 30-03-2022

Data de Julgamento30 Março 2022
Tribunal de OrigemTribunal de Justiça do RS
Classe processualApelação
Número do processo50005505120168210045
Tipo de documentoAcórdão

PODER JUDICIÁRIO

Documento:20001810348
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

15ª Câmara Cível

Avenida Borges de Medeiros, 1565 - Porto Alegre/RS - CEP 90110-906

Apelação Cível Nº 5000550-51.2016.8.21.0045/RS

TIPO DE AÇÃO: Compra e venda

RELATOR: Desembargador ROBERTO CARVALHO FRAGA

APELANTE: MODARC AGRONEGOCIOS LTDA (RÉU)

APELADO: AQUILES LUIZ GUARIENTI (AUTOR)

RELATÓRIO

Trata-se de recurso de apelação interposto por MODARC AGRONEGÓCIOS LTDA e COMERCIAL AGRÍCOLA SAFRA nos autos da ação declaratória de inexigibilidade de debito c/c sustação de protesto movida por AQUILES LUIZ GUARIENTI, contra a sentença que julgou parcialmente procedente o pedido nos seguintes termos:

Diante do exposto, com fundamento no art 487,I, do CPC, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a ação ajuizada por AQUILES LUIZ GUARIENTI contra COMERCIAL AGRÍCOLA SAFRA LTDA, para o fim de declarar a nulidade dos títulos protestados sob os protocolos de n- 148276-9, 148277-7, 148279-3 e 148280-7 e, com base no art. 487, I, do CPC, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a RECONVENÇÃO oposta por COMERCIAL AGRÍCOLA SAFRA LTDA contra AQUILES LUIZ GUARIENTI, para o fim de reconhecer o débito de R$ R$ 3.210,00, referente os notas fiscais acostadas aos autos e condenar o reconvindo 00 pagamento de 180.000Kg de soja, corrigidos na forma da fundamentação.

Em razão da sucumbência recíproca, considerando a proporção em que cada parte foi sucumbente e tendo em vista o disposto no art. 86, caput, do CPC, condeno a parte autora/reconvinda a pagar 60% das custas e despesas processuais, e a parte requerida/reconvinte a pagar os restantes 40%. Fixo honorários advocatícios em 10% do valor da condenação, sendo que 8% a ser pago pela parte autora/reconvinda ao patrono da parte ré/reconvinte, e 2% a ser pago pela parte ré/reconvinte ao patrono da parte autora/reconvinda.

Em razões recursais sustentou a existência de equívoco na decisão, pois deixou de considerar a prova produzida nos autos. Afirmou que as mercadorias descritas nas Notas Fiscais foram devidamente entregues ao autor, frisando o depoimento da testemunha Neimar que corrobora os fatos. Disse que o apelado não manifestou a falta de entrega de mercadorias no prazo legal. Reiterou que o total das compras realizadas pelo ora apelado perfazem o valor total de R$ 553.564,00, do qual é subtraído a quantia de R$ 106.405,71 relativo as mercadorias devolvidas e R$ 154.169,36 efetivamente pagos pelo autor, tendo por saldo a quitar o montante de R$ 292.988,93. Disse que a cédula de produtor rural pactuada entre as partes prevê a aquisição de 60 sacas de insumos pelo autor, pelo valor de R$ 60,00 cada saca, somando-se R$ 180.000,00. Propugnou pela reforma sentencial para que seja julgado improcedentes os pedidos iniciais e procedente a reconvenção. Alternativamente requereu a alteração da incidência dos juros para a data do vencimento da nota.

Devidamente intimado o requerido deixou de apresentar contrarrazões.

Vieram os autos conclusos para julgamento.

É o relatório.

VOTO

Eminentes Colegas.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Cuida-se de ação declaratória de inexigibilidade de débito c/c determinação de exclusão de protesto, na qual o autor relata ter adquirido do réu insumos para plantio de soja no valor total de R$ 154.169,36. Reconhece o atraso no pagamento, tendo afirmado a realização de dois depósitos sendo um no valor de R$ 70.000,00, dia 20/07/2016, e outro de R$ 50.000,00 em 27/07/2016. Disse que o réu não esperou o prazo para pagamento do valor residual, consoante acordo verbal, realizando o protesto dos títulos de forma indevida, razão pela qual intentou a presente demanda, depositando judicialmente a quantia de R$ 34.169,36. (fls. 07/15)

O réu, por sua vez, informa que a compra de insumos realizada pelo autor ultrapassa em muito o valor articulado em sede inicial, chegando a quantia de R$ 553.564,00. Referiu que parte da mercadoria foi devolvida no valor de R$ 106.405,71 e descontado o montante incontroverso tem o autor um saldo de R$ 292.988,93, os quais pretende rever postulando a condenação autor ao pagamento por meio de reconvenção (fls. 52/60)

Inicialmente consigno que o contrato de cédula de crédito rural (fls. 63/65) abrange a entrega de 180.000 quilos de soja totalizando 3000 sacas as quais deveria o autor ter repassado ao réu, não especificando a contraprestação atribuída ao demandado que originou a obrigação. Igualmente não há especificação da conversão do valor das sacas para reais, não expondo o autor em débito.

Com efeito o autor não nega a relação comercial de compra e venda de insumos para plantação perfectibilizado com o réu, divergindo apenas na quantia paga.

A cobrança feita pelo demandado que acarretou no protesto de títulos refere-se à relação comercial que originou as notas fiscais de fls. 88/117. Todavia, nem todas as notas estão assinadas, não havendo prova cabal do recebimento da mercadoria, por parte do demandante. Nesse sentido a sentença analisou com adequação a prova colida, razão pela qual colaciono o quadro explicativo confeccionado, para fins de evitar tautologia.

NF nº fl. Valor Comprovante de entrega Protestada/fl.
7653 66 R$ 4.325,00 Não Não
8973 67 R$ 2.280,00 Não Não
9514 68 R$ 1.500,00 Não Não
21240 69 R$ 10.000,00 Não Não
21241 70 R$ 2.732,00 Não Não
21749 71 R$ 3.930,00 Reconhecida fl. 19 Não
21839 72 R$ 3.750,00 Sim Não
22047 73 R$ 1.620,00 – R$ 540,00 = R$ 1.080,00 Sim Não
23809 74 DEVOLUÇÃO R$ 540,00 ↑ - -
23083 75 R$ 3.240,00 Não Sim / fl. 58
23203 76 R$ 3.000,00 Sim Não
23892 77 R$ 19.236,00 Não Não
24082 78 R$ 64.680,60 Reconhecida fl. 18 Sim / fl. 60
24354 79 R$ 7.296,00 Não Não
24672 80 R$ 112.386,00 Não Sim / fl. 62
25480 81 R$ 1.500,00 Não Não
25598 82 R$ 30.000,00 Não Sim / fl. 64
25808 83 R$ 53.540,00 Não Não

21236

84

R$ 220.980,00

Não

Parcialmente fl. 56

R$ 115.114,29

Referente a NF 21236

21236 86 R$ 19.103,95 Não Não
21456 87 R$ 13.619,60 Não Não
22119 88 R$ 1.639,20 Não Não
23082 89 R$ 80.938,76 Sim Não
27047 90 Devolução R$ 105.865,71 - -
21558 91 R$ 7.966,80 Não Não
Total de Nfs c/ entrega: R$ 157.379,36
Valor pago (incontroverso): R$ 154.169,36

Valor devido (Nfs) = R$ 3.210,00

Assim, diante da análise dos canhotos denota-se que houve a entrega efetiva dos produtos relacionados nas notas de fls. 93/103 e 114, as quais somam o valor de R$ 157.379,36. Tratando-se de duplicata mercantil cabia ao réu comprovar o recebimento das mercadorias (art. 15, inciso II, e §2º, da Lei 5.474/68)1, ônus do qual não se desincumbiu, razão pela qual indevida a quantia postulada em sede reconvenção e, por conseguinte, indevido os protestos realizados às fls. 18/22.

Nesse sentido:

APELAÇÃO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. PESSOA JURÍDICA. AÇÃO MONITÓRIA. DUPLICATA SEM ACEITE E PROTESTADA. AUSENTE COMPROVANTE DE ENTREGA DA MERCADORIA. DOCUMENTOS INAPTOS A APARELHAR A MONITÓRIA. ÔNUS DA PROVA QUE COMPETIA À AUTORA. 1. A teor da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a concessão da gratuidade à pessoa jurídica é possível quando comprovada a incapacidade financeira para arcar com as despesas processuais. Caso em que há prova dessa incapacidade. Benefício concedido. 2. A pretensão da autora, apesar de amparada em prova escrita e em duplicata protestada, não se reveste da presunção necessária para ensejar a ação monitória, tendo em vista que a duplicata mercantil sem aceite e protestada por falta de pagamento não desobriga o credor de conferir verossimilhança quanto à certeza da dívida, o que não se verifica no caso, pois inexistente o comprovante de recebimento da mercadoria ou da prestação do...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT