ADORNO, Theodor W. Aspectos do novo radicalismo de direita. São Paulo: Editora Unesp, 2020. Um país que cabe nos olhos

AutorSaulo Pinto
CargoEconomista
Páginas686-691
RESENHA
ADORNO, Theodor W. Aspectos do novo radicalismo de direita. São Paulo: Editora Unesp, 2020.
UM PAÍS QUE CABE NOS OLHOS
Saulo Pinto1
É mais do que necessário se defrontar com o colapso. Jean Baudrillard sentenciou,
quando o mundo parecia outra coisa que não o “desmundo” que experimentamos hoje, que “a orgia é o
momento explosivo da modernidade, o da liberação em todos os domínios”1. Ele escrevia na virada dos
anos 1980 para o tempo intocável da hegemonia do neoliberalismo autoritário. O paradoxo é que as
últimas décadas foram definidas por forte confronto entre políticas de estabilização econômica e
tentativas de adaptação do social ao estreito programa da economia neoliberal. Tariq Ali, curiosamente,
classificou de ‘extremo centro’ as variações extremas do centro da política dominante. Com a
normalização da economia política do neoliberalismo, as únicas variações possíveis estariam em torno
do reconhecimento (“quem merece direitos”) e da distribuição (“quem merece renda”).
O problema é que o “após a orgia” não pode ser pensado como algo diferente do colapso,
ou da catástrofe. Estamos diante de uma experiência compartilhada regressiva que tem em Trump,
Erdogan, Marine Le Pen, Viktor Orban, Giorgia Meloni e Bolsonaro etc., as principais referências
políticas e de identificação ideológica. A perturbação mental é enorme. Fala-se em “populismo” para
caracterizar o autoritarismo político aberto. Nessa equação, teríamos um universo ideológico em que o
confronto político se daria pela disputa entre populismos de direita e de esquerda (Chantal Mouffe
chega a propor uma espécie de “populismo de esquerda”). O que essa elaboração garante, apenas, é a
normalização do populismo como o campo compartilhado das cisões político-ideológica decisivas. Por
outro lado, tomar o antagonismo político atual pelo léxico da ‘extrema direita’ também significa
destotalizar o significado do radicalismo de direita que temos como fenômeno social no capitalismo
contemporâneo.
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v26n2p686-691
1 Economista. Doutor em Políticas Públicas (UFMA). Professor do Departamento de Economia da U FMA.

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