Advances and challenges of conceptualization and operationalization of organizational skills in 15 years of international scientific production/Avancos e desafios da conceituacao e operacionalizacao das competencias organizacionais em 15 anos de producao cientifica internacional/Avances y desafios de la conceptualizacion y....

AutorMunck, Luciano
CargoARTIGO--GESTAO DE PESSOAS EM ORGANIZACOES
  1. INTRODUCAO

    Diante do heterogeneo universo teorico que tangencia a construcao do conceito de competencias no campo da Administracao, evidenciado a partir da pesquisa em 104 artigos filtrados da plataforma Periodicos Capes, percebese que os estudos que abordam a competencia nas esferas humana e individual sao em numero substancialmente superior aos que a discutem no ambito organizacional. O mesmo se observa em levantamento feito nos principais periodicos nacionais caracterizados como B2 ou acima, no Qualis CAPES. Nesta pesquisa, constatou-se tambem a falta de uma fonte unificadora de conceitos e formas de operacionalizacao da competencia organizacional, portanto, uma lacuna.

    E justamente essa lacuna que este artigo pretende comecar a preencher, descrevendo e discutindo os avancos e desafios da aplicacao dos conceitos nos ultimos 15 anos (1997 a 2012) e fazendo consideracoes sobre algumas fontes seminais. Pesquisou-se pelas palavras-chave competencias organizacionais e modelos de competencias, na area de Ciencias Sociais Aplicadas, na subarea "Administracao de Empresas, Administracao Publica, Contabilidade" e nas bases escolhidas: EBSCO, ProQuest, Emerald, SAGE Journals Online, SciELO.ORG e Web of Science. Foram apontados 104 artigos que tratavam diretamente do tema. Destes, 31 se relacionavam proximamente aos interesses do artigo, quais sejam: apresentar e sintetizar conceitos, desafios e avancos do uso e da pratica do conceito de competencia organizacional no campo da Administracao. E com base nesses 31 artigos que se desenvolve este trabalho.

    Percebe-se que as raizes teoricas do conceito de competencia estao imbricadas com a visao da empresa baseada em recursos (RBV, do ingles Resource Based View) (FERNANDES; FLEURY; MILLS, 2006). Desde meados de 1990, passaram a receber atencao substancial de academicos e empresarios as abordagens baseadas em recursos e em competencias consideradas como sendo as que representam os conceitos mais recentes, porem mais contributivos, que buscam explicacoes para o teor competitivo das empresas (DREJER, 2002; MILLS; PLATS; BOURNE, 2003).

    Ainda que o debate referente as competencias organizacionais tenha assumido importancia crescente, extrapolando os muros da academia (FERNANDES; FLEURY; MILLS, 2006) e adaptando-se a varios ambitos, como a psicologia organizacional e a organizacao militar, seu conceito ainda nao encontra consenso na literatura (THACH; ENG; THOMAS, 2002). E possivel encontrar esse termo definido de diversas formas, sob a otica de diversos paradigmas e com enfoques individuais, humanos, coletivos, organizacionais, nos quais e possivel encontrar outras inumeras classificacoes.

    Em relacao a terminologia, encontram-se "capacidades organizacionais", "capacidades distintivas", "metacompetencias", "competencias essenciais", "suficiencia", "habilidades", "capacidade dinamica" e ate mesmo "recursos" (PRAHALAD; HAMEL, 1990; BAKER et al., 1997; MILLS et al, 2002; DE CAROLIS, 2003; MILLS; PLATTS; BOURNE, 2003; FLEURY, M.; FLEURY, A., 2004; BITAR; HAFSI, 2007; VAN KLEEF; ROOME, 2007; SMITH, 2008). Entendendo que esses diferentes termos, na maioria dos casos, referem-se a um mesmo fenomeno, serao adotadas exclusivamente as nocoes de competencia organizacional e individual. Vale frisar que as competencias organizacionais serao abordadas de modo geral, sem enfase nas competencias essenciais, como preconizam Prahalad e Hamel (1990).

    Na visao de Smith (2008), essas diversas nomenclaturas fazem apenas com que confusoes permeiem o estudo sobre competencias. Nicolai e Dautwiz (2010) afirmam que o conceito de competencia ou de core competence tornou-se uma das definicoes mais populares da gestao, podendo ser encontrada em linguagens ambiguas, abstratas, vagas e ate mesmo contraditorias no meio empresarial. De fato, sua aplicacao como instrumento fundamental para subsidiar decisoes relacionadas a gestao de pessoas e a empresa como um todo tem confundido muitas organizacoes (MUNCK et al, 2011).

    O fato e que a multiplicidade terminologica e conceitual das competencias organizacionais e a confusao dela decorrente podem acarretar inadequacoes tambem no ambito de sua operacionalizacao. A identificacao, a formacao, o desenvolvimento e a utilizacao de modelos de gestao articulados por competencias correm o risco de se tornar incoerentes ou inviaveis se fundamentados em bases conceituais frageis e/ou ate mesmo conflitantes.

    A partir dessas consideracoes, chegou-se a seguinte pergunta de pesquisa, que orientara este estudo: quais sao as atuais discussoes academicas sobre a conceituacao e operacionalizacao de competencias organizacionais? Nao sendo a finalidade deste artigo propor uma nova teoria sobre competencias organizacionais, os autores limitam-se a descrever e discutir os avancos e desafios da aplicacao dos conceitos sobre competencias organizacionais nos ultimos 15 anos, focando suas abordagens, definicoes e modelos.

    Acredita-se que uma proposta teorica coerente deve refletir-se diretamente em uma gestao articulada por competencias tambem coerente. Sendo assim, atingindo-se o objetivo proposto, almeja-se contribuir com o cenario academico ao expor a fragilidade conceitual das competencias organizacionais, denunciando as qualidades de proliferacao, incompletude e desarticulacao que caracterizam a area, em geral. Do mesmo modo, pretende-se atingir o publico empresarial, tendo em vista a busca por melhor esclarecimento e entendimento dos gestores sobre a necessidade de coerencia conceitual e pratica para a apropriada gestao das competencias.

    Metodologicamente, afirma-se ser esta uma pesquisa de natureza teorica, qualitativa e descritiva, cujo procedimento tecnico utilizado foi o levantamento bibliografico (MARTINS; THEOPHILO, 2007). O artigo esta estruturado da seguinte forma: introducao, conceitos e abordagens de competencias organizacionais, modelos de gestao articulados por competencias e consideracoes finais.

  2. CONSIDERACOES MULTIPLAS SOBRE A CONCEITUACAO, A CLASSIFICACAO A FORMACAO E DESENVOLVIMENTO E A GESTAO DE COMPETENCIAS ORGANIZACIONAIS

    Alem de ser reconhecida a contribuicao da visao baseada em recursos em diversas areas da Administracao, como na gestao de recursos humanos, economia e financas, empreendedorismo, marketing e comercio internacional, e fato que a aplicacao dessa abordagem e encontrada em grande parte das pesquisas sobre competencias organizacionais. Afirma-se, inclusive, que a RBV constitui a fonte e principal abordagem teorica do desenvolvimento do campo das competencias. Assertivas como as de Penrose (1959) e Wernerfelt (1984) acabaram por nortear pesquisas sobre competencias, tendo sido expandidas e adaptadas por diversos outros autores (PRAHALAD; HAMEL, 1990; HART, 1995; MILLS; PLATS; BOURNE, 2003; SPANOS; PRASTACOS, 2004; SMITH, 2008).

    Na RBV, as organizacoes sao vistas como um conjunto de recursos e competencias que nao podem ser livremente compradas e vendidas no mercado (MILLS et al, 2002). Enquanto os recursos sao considerados finitos em oferta e depreciaveis quando compartilhados com terceiros, as competencias referem-se aos processos dinamicos, nao findos, especificos e contextualizados da organizacao que sao dificeis de imitar e acumulam aprendizagem no longo prazo (SPANOS; PRASTACOS, 2004). E essa instancia de mobilizacao e coordenacao de recursos em acao que pode ser denominada competencia organizacional (FERNANDES; FLEURY; MILLS, 2006).

    Embora se argumente que os recursos e as competencias que a organizacao detem sao considerados fontes fundamentais de vantagem competitiva (LEITE; PORSSE, 2003), na realidade, os recursos sao elementos potenciais, um estoque a disposicao da organizacao, cuja simples existencia nao se traduz necessariamente em desempenho. Na maioria das circunstancias, nao sao os recursos que geram mais diretamente a vantagem competitiva, mas sim os processos de entrega desses recursos mobilizados--as competencias (LEWIS, 2003).

    Para Hart (1995), a maior lacuna na RBV e sua omissao sobre os constrangimentos impostos pelo meio ambiente natural as praticas organizacionais. Freiling, Gersch e Goeke (2008), apesar de reconhecerem a legitimidade da RBV, argumentam que essa teoria apresenta alguns problemas fundamentais. Estes se iniciam pela falta de homogeneidade e coerencia que permeiam seu debate, indo desde a simples questao de nomenclatura, a confusao na definicao do objeto explorado e dos principios basicos, ate problemas de incomensurabilidade de tradicoes cientificas.

    Ainda que nao se compactue completamente com o posicionamento dos autores acima citados, admite-se que alguns direcionamentos da RBV em pesquisas sobre competencias organizacionais mostram-se, por vezes, simplistas e ate reducionistas. Com frequencia, a nao exploracao das competencias individuais e a nao indicacao de caminhos para subsidiar a gestao orientada/articulada por competencias tem implicacoes negativas para a pratica organizacional. Ademais, o foco exclusivo na obtencao de vantagem competitiva acaba por desconsiderar a complexidade do ambiente em que a organizacao se encontra, alem de outras demandas sociais exigidas das organizacoes atualmente.

    Nao se podem negar, por outro lado, as contribuicoes da RBV (HART, 1995; HALAND; TJORA, 2006). A forca da visao baseada em recursos e relacionada com a habilidade de explicar, em termos gerenciais, como alguns competidores sao mais lucrativos que outros, como colocar a ideia de competencia organizacional em pratica e como desenvolver estrategias diversificadas que--potencialmente funcionam (PAIVA; ROTH; FENSTERSEIFER, 2008). O trabalho de Prahalad e Hamel (1990) pode ser considerado o marco academico mais representativo da discussao sobre competencias organizacionais baseada na RBV. Desde entao, inumeros outros trabalhos conceituais surgiram, sendo este o foco de discussao do proximo topico.

    O levantamento realizado nesta pesquisa permitiu identificar quatro principais grandes temas nos estudos sobre...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT