Advances and trends in interorganizational relationships: a parallel between Brazilian and international studies/Avancos e tendencias nos relacionamentos interorganizacionais: um paralelo entre estudos brasileiros e internacionais/Avances y tendencias en las relaciones interorganizacionales: un paralelo entre estudios brasilenos einternacionales.

AutorAlves, Juliano Nunes
CargoARTIGO--ADMINISTRACAO GERAL
  1. INTRODUCAO

    O cenario atual, deste inicio de seculo, vem sendo marcado por novos desafios e oportunidades para as organizacoes e, assim, uma nova realidade vem sendo definida, com o delineamento de novas caracteristicas. Nesse contexto, as relacoes interorganizacionais referem-se a interacao entre organizacoes (CROPPER et al,, 2008) e tem a prerrogativa de criar valor para os participantes que se comprometem a fazer parte dessa configuracao. Uma rede, enquanto um tipo de relacao interorganizacional, pode ser definida como "uma cadeia interligada e inter-relacionada de conceitos e relacoes" (MASTERALEXIS; BARR; HUMS, 2009:507). Alem do conceito de rede, uma variedade de outros termos e utilizada na apresentacao dos relacionamentos interorganizacionais, e,g,, redes, coligacoes, aliancas estrategicas, relacionamentos interfirma (WAUGH, 2009).

    Cropper et al, (2008) apontam que os estudos sobre os relacionamentos interorganizacionais preocupam-se com a compreensao tanto de seu carater e de seu padrao, quanto de suas origens, fundamentos e consequencias desse tipo de relacionamento. Sua importancia e bastante visivel nas empresas de pequeno e medio porte, que, em razao da grande competitividade existente, nao conseguem agir isoladamente e, assim, tornam-se dominadas pelo mercado.

    Todavia, e necessario frisar que nao existe uma teoria unica dos relacionamentos interorganizacionais e nem mesmo elementos suficientes para configurar um conjunto de preceitos universais para organizacoes em cooperacao. As teorias organizacionais sao fundamentais para o entendimento das empresas em cooperacao, mas raramente de modo isolado podem explicar os resultados, porque quase todos os efeitos estudados sao contingentes de um dado contexto.

    Empiricamente, a importancia dos relacionamentos interorganizacionais para o sucesso das redes e bastante evidente, ou seja, o simples fato de entrar e fazer parte de uma rede tende a gerar vantagens competitivas para as empresas. Entretanto, escassos sao os trabalhos que ousam mensurar os resultados provenientes desse processo de cooperacao.

    Atualmente, a gestao das redes levanta novas questoes. Ha evidencias de que existem diferencas sistematicas na capacidade dos players da rede que afetam seu desempenho (LYLES, 1988; SIMONIN, 1999). Torna-se, assim, importante aprofundar a investigacao sobre o modelo de gestao mais apropriado as redes interorganizacionais e sobre como os players podem, nessa forma organizacional, desenvolver novas capacidades.

    Apesar da significativa relevancia desse tema de estudo para as organizacoes atuais, cada teoria busca analisar a formacao de relacionamentos interorganizacionais sob sua propria otica, produzindo explicacoes distintas sobre como, onde, quando e por que as organizacoes se engajam em processos cooperativos interorganizacionais (ALTER; HAGE, 1993; AUSTER, 1994; SYDOW, 1997). Dessa forma, a discussao de diferentes abordagens, alem de constituir um avanco para o aprofundamento do tema, fragmenta o entendimento de todo o processo.

    Trata-se, assim, de um tema emergente, em que diferentes enfoques podem levar as discussoes polemicas. Nesse sentido, o objetivo do presente artigo e aprofundar o conhecimento, ampliar o dominio e oferecer uma visao analitica mais profunda do tema referente a producao dos trabalhos publicados nos periodicos nacionais e internacionais nos anos de 2004 a 2009. Assim, busca-se compreender os resultados obtidos, os avancos alcancados, os possiveis hiatos que ainda comprometem a questao, e conjecturar algumas propostas de futuros trabalhos sobre esse assunto.

    O artigo, alem de mapear a producao cientifica sobre o tema, como exposto, colabora para o entendimento das principais contribuicoes e limitacoes do estudo das redes interorganizacionais, possibilitando identificar em quais areas ocorre a concentracao de estudos e as possiveis lacunas existentes. Outra contribuicao do artigo e estabelecer um paralelo entre os estudos nacionais e internacionais, a partir do qual e possivel verificar o nivel e avanco da teoria nos dois cenarios comparativamente.

    Para que os objetivos supracitados sejam alcancados, o presente trabalho esta dividido em sessoes: a sessao seguinte aborda questoes teoricas sobre o tema, bem como sua contextualizacao; depois, apresenta-se a metodologia adotada; em seguida, os resultados sao apresentados e discutidos; a ultima sessao realiza as discussoes finais acerca do estudo realizado.

  2. TEORIAS RELACIONADAS AS REDES INTERORGANIZACIONAIS

    A formacao de redes interorganizacionais e uma perspectiva de analise relevante, pois proporciona beneficios sociais e economicos aos diversos agentes envolvidos nas relacoes de colaboracao e parceria que se estabelecem (PEDROZO; ESTIVALETE; BEGNIS, 2004). Algumas recentes escolas de redes comecaram a considerar varios niveis de analise, como os estudos de Baum (2002), Brass et al, (2004), Ibarra, Kilduff e Tsai (2005) e Kim, Oh e Swaminathan (2006), partindo do pressuposto de que as organizacoes sao sistemas multiniveis de relacionamentos (HITT et al, 2007). No entanto, a maioria das pesquisas tem se concentrado nas caracteristicas gerais das redes, ou seja, em sua evolucao, sua estrutura e seus processos de desenvolvimento (MOLLER; HALINEN 1999). Muito pouca atencao tem sido dada a gestao dos relacionamentos interorganizacionais, a criacao de valor e as teorias emergentes de governanca da rede (JONES; HESTERLY; BORGATTI, 1997; GULATI; NOHRIA; ZAHEER, 2000; AMIT; ZOTE, 2001).

    As redes podem criar valores que sao insubstituiveis, trazendo recursos superiores tanto para a rede quanto para seus integrantes (GULATI, 1999; BARNEY; HESTERLY, 2007). Esses recursos superiores podem ser criados em termos de estrutura da rede (formas de gestao), sociedade (agregacao de valor) e por meio de lacos sociais (aprendizagem). No entanto, os recursos superiores criados pela rede, ao contrario dos recursos de uma empresa individual (integrantes), situam-se no conjunto das relacoes entre as empresas e nao dentro das proprias empresas, como e o caso, por exemplo, da capacidade de aprendizado entre os membros proveniente da sua interacao na rede. Ao participar na evolucao e nas trocas que acontecem dentro da rede, uma empresa pode ter acesso a valiosos recursos ate entao desconhecidos e, a partir de entao, descobrir novas oportunidades. Assim, a empresa em uma rede pode ter acesso a uma serie de recursos envolvidos nos relacionamentos, gerando uma fonte de vantagem competitiva sustentavel (GULATI; NOHRIA; ZAHEER, 2000).

    Todavia, na literatura, a necessidade e a motivacao para a criacao de redes organizacionais tem sido explicadas por meio de duas perspectivas: a Teoria dos Custos de Transacao (TCE) e a Teoria Baseada em Recursos (RBV). A teoria baseada em recursos enfatiza o papel da colaboracao e de redes como uma fonte de recursos complementares, de conhecimento e de aprendizagem, ao passo que a teoria dos custos de transacao orienta que a rede seja construida sobre uma maior eficiencia, com o intuito de reduzir os custos de suas operacoes. Assim, as razoes gerais para a cooperacao e o trabalho em rede incluem, por exemplo, maior disponibilidade de recursos e conhecimentos, concentracao em competencias, possibilidade de criacao de novos conhecimentos e de aprendizagem, acesso a novas oportunidades (mercados, know-how, diferenciacao do produto) e a inovacao, economias de escala e de escopo ou partilha de custos e riscos (NOOTEBOOM, 1999).

    Com base nessas perspectivas, a investigacao sobre as redes podem ser categorizadas em duas dimensoes: a variavel independente a ser utilizada para o estudo (organizacoes ou redes) e a variavel dependente ou resultado, enfoque adotado pelo pesquisador deste estudo (foco em resultados organizacionais ou nos resultados das coletividades das organizacoes). Mesmo nao se tratando de um estudo quantitativo, com metodos numericos, o uso dessas variaveis (dependente e independente) baseia-se em uma tipologia desenvolvida por Provan, Fish e Sydow (2007), a qual, por meio de uma matriz de 2x2 (Quadro 1), demonstra a possibilidade de quatro tipos diferentes de abordagens em rede.

    No primeiro quadrante, trata-se da literatura que tem abordado muito questoes de capital social (confianca) para descrever e demonstrar os impactos de uma organizacao em outra dentro da rede por meio das interacoes diaticas. A avaliacao sobre o impacto da rede em uma organizacao, no segundo quadrante, pode ser encontrada nos estudos mais voltados para a aprendizagem organizacional e a inovacao nas empresas, como os estudos, por exemplo, de Ahuja (2000). A abordagem da tipologia do terceiro quadrante e o impacto da organizacao na rede, mais presente nos estudos de Uzzi (1997). Para Jarilo (1988), e comum quando a cooperacao entre as empresas e formalizada como uma nova empresa (rede como pessoa juridica), a qual centraliza as acoes dos seus membros e interfere nas decisoes dos membros participantes. Por fim, no ultimo quadrante, sao encontrados estudos que buscam avaliar o impacto de todas as estruturas e niveis interorganizacionais na propria rede. Em outras palavras, almejam avaliar como as estruturas e os diversos niveis podem afetar a rede como um todo, e nao as organizacoes individualmente, por meio de varias redes ao longo do tempo (PROVAN; FISH; SYDOW, 2007).

    Em relacao as capacidades dinamicas, a principal discussao e sobre a forma com que as empresas integram, reconfiguram, renovam e transferem seus recursos proprios ou controlaveis na rede. Para isso, primeiramente, e importante distinguir uma "rede de organizacoes" e uma "organizacao em rede". A primeira se refere a qualquer grupo de organizacoes e atores que estao interligados em relacionamentos (MOLLER; SVAHN, 2003). Essa perspectiva tambem e proxima da teoria de estudiosos da sociologia economica (GRANOVETTER, 1973, 1985; COLEMAN, 1988; BURT, 1992; KNOKE, 2001; UZZI, 1996). Essas interligacoes permitem que pessoas diferentes, de...

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