Análise da influência do audit delay no retorno das ações e no custo da dívida de empresa brasileiras de capital aberto

AutorNikolle Takasawa Yagui - Paula Carolina Ciampaglia Nardi
CargoGraduanda em Economia Empresarial e Controladoria (USP), Ribeirão Preto/SP, Brasil - Doutora em Administração de Organizações (USP)
Páginas113-130
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Artigo
Original
Artigo
Original
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 18, n. 46, p. 113-130, jan./mar., 2021.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2021.e72985
Análise da influência do
audit delay
no retorno das ações e
no custo da dívida de empresa brasileiras de capital aberto
Analysis of the influence of audit delay on return on equity and cost of debt of Brazilian publicly
traded companies
Análisis de la influencia del retraso de la auditoría en la rentabilidad de las acciones y el costo de la
deuda de las empresas brasileñas que cotizan en bolsa
Nikolle Takasawa Yagui
Graduanda em Economia Empresarial e
Controladoria (USP), Ribeirão Preto/SP, Brasil
nikolle.yagui@usp.br
https://orcid.org/0000-0001-7328-433X
Paula Carolina Ciampaglia Nardi*
Doutora em Administração de Organizações (USP)
Professora do Departamento de Ciências Contábeis da
FEARP (USP), Ribeirão Preto/SP, Brasil
paulanardi@fearp.usp.br
https://orcid.org/0000-0001-7897-3070
Endereço do contato principal para correspondência*
Av. Bandeirantes, 3900, Monte Alegre, CEP: 14040-905 - Ribeirão Preto, SP, Brasil
Resumo
No contexto da importância da informação contábil às principais fontes de recursos das empresas, o objetivo
do estudo foi analisar o impacto do tempo (audit delay) na divulgação das demonstrações contábeis (DFPs)
para investidores e instituições bancária. A pesquisa considerou empresas brasileiras de capital aberto no
período trimestral de 2010 a 2017, via testes de correlação, diferença de média, regressão com dados
dispostos em painel e quantílica. Os resultados indicaram haver reações distintas entre investidores e bancos,
ou seja, o audit delay não apresentou impacto negativo no retorno das ações, mas foi negativo em termos de
custo da dívida. Isso sugere que investidores e bancos apresentam percepções diferentes acerca do audit
delay das DFPs. Assim, o estudo indica para as empresas a necessidade de refletir quanto ao custo de
oportunidade de maior audit delay das DFPs, principalmente quando o objetivo é financiamento via instituições
bancárias.
Palavras chave: Audit delay; Retorno das ações; Custo da dívida
Abstract
Within the context of the importance of accounting information for the main sources of corporate funds, the
objective of the study was to analyze the impact of audit delay on Standardized Financial Statements (SFS)
disclosure to investors and banking institutions. The research considered Brazilian publicly traded companies
in the quarterly period from 2010 to 2017, via correlation tests, mean difference, panel data regression and
quantile regression. The results indicated that there were different reactions between investors and banks, that
is, audit delay did not have a negative impact on return on equity, but it was negative in terms of cost of debt.
This suggests that investors and banks have different perceptions of audit delay in SFS disclosure. Thus, the
study indicates to companies the need to reflect on the opportunity cost of a larger audit delay in SFS
disclosure, especially when the objective is financing via banking institutions.
Keywords: Audit delay; Return on equity; Cost of debt
Resumen
En el contexto de la importancia de la información contable para las principales fuentes de recursos
corporativos, el objetivo del estudio fue analizar el impacto del tiempo (demora en la auditoría) en la
divulgación de estados financieros (DFP) a inversionistas e instituciones bancarias. La encuesta consideró
las empresas brasileñas que cotizan en bolsa en el período trimestral de 2010 a 2017, mediante pruebas de
correlación, diferencia de medias, regresión con datos de panel y cuantiles. Los resultados indicaron que hubo
diferentes reacciones entre inversionistas y bancos, es decir, el retraso de la auditoría no tuvo un impacto
Análise da influência do audit delay no retorno das ações e no c usto da dívida de empresa brasileiras de capital aberto
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Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 18, n. 46, p. 113-130, jan./mar., 2021.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2021.e72985
negativo en la rentabilidad de las acciones, pero sí en el costo de la deuda. Esto sugiere que los inversores y
los bancos tienen diferentes percepciones sobre el retraso de la auditoría de los DFP. Así, el estudio indica a
las empresas la necesidad de reflexionar sobre el coste de oportunidad del mayor retraso en la auditoría de
las DFP, especialmente cuando el objetivo es la financiación a través de entidades bancarias.
Palabras clave: Retraso de auditoría; Rendimiento de las acciones; Costo de la deuda
1 Introdução
O mercado de capitais e os bancos, como principais usuários da informação contábil, são importantes
para o desenvolvimento econômico do país, e estão intimamente ligados à necessidade das informações
contábeis, uma vez que a fidedignidade e a disponibilidade dessas informações é condição importante para
o funcionamento do mercado e tomada de decisão dessas fontes de recursos (Dantasm & Medeiros, 2015;
Healy & Palepu, 2001). Nesse sentido, Niyama (2005) considera a contabilidade como elemento importante
para permitir aos usuários avaliar a situação econômica e financeira da empresa e dos riscos de
investimentos, sendo que as Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFPs) torna-se o elo entre empresas
e usuários, com condições de auxiliar na formação base do conjunto de informações para decisão. Logo, a
credibilidade dessas informações é considerada peça-chave aos usuários (Pevzner, Xie, & Xin, 2015).
A importância da informação contábil para os usuários é respaldada pela relação de agência. Nesse
cenário, é possível afirmar que as informações contábeis são ferramentas imprescindíveis para a redução
dos efeitos da assimetria de informação (Chung, Judge, & Li, 2015). Todavia, segundo Jensen e Meckling
(1976), a assimetria informacional pode gerar desconfiança dos usuários sobre o conteúdo das
demonstrações, já que apenas os gestores possuem acesso aos dados internos da empresa, possibilitando
a possível intervenção destes nos relatórios, de modo que, ao gerenciar resultado, o agente pode atuar de
forma oportunista, em detrimento do retorno ao principal (Healy & Whalen, 1999; Schipper, 1989).
Nesse ponto, o gerenciamento de resultado pode iludir o usuário quanto a real rentabilidade da
empresa, aumentando a assimetria informacional e a insegurança na tomada de decisão (Nardi & Nakao,
2009), já que há uma relação direta entre qualidade da informação contábil e retorno de capital aos
investidores (Easley & O’hara, 2005). Portanto, quanto maior a qualidade das informações, menor a assimetria
de informações, reduzindo a imprecisão aos usuários (Silva, Nardi, & Tonani, 2016).
Nesse sentido, cabe ressaltar a característica qualitativa de tempestividade da informação contábil,
que significa uma informação acessível em tempo hábil aos tomadores de decisão, de modo a influenciá-los
em suas decisões, consequentemente, melhorar a eficiência de seus investimentos (Alkhatib & Marji, 2012).
Logo, caso a informação contábil não seja disponibilizada tempestivamente, após a finalização do período
contábil, ela perde seu valor econômico (Al-Ajmi, 2008), afetando a competência e o funcionamento
econômico do mercado (Alkhatib & Marji, 2012).
Nesse contexto, algumas pesquisas vêm analisando os determinantes do tempo da entrega das
DFPs, mais propriamente, a diferença entre a data de fechamento do exercício e a divulgação da informação
ao mercado, assim como a diferença entre a data de fechamento e a data de assinatura das demonstrações
(audit delay). Tais estudos identificaram que possíveis determinantes desse tempo são: i) tamanho da
empresa (Al-Ghanem & Hegazy, 2011; Abidin & Ahmad-Zaluki, 2012; Alkhatib & Marji, 2012; Cohen &
Leventis, 2013); ii) rentabilidade (Al-Ajmi, 2008; Abidin & Ahmad-Zaluki, 2012; Alkhatib & Marji, 2012; Cohen
& Leventis, 2013); iii) alavancagem (Al-Ajmi, 2008; Alkhatib & Marji, 2012; Ahmad, Mohamed, &; Nelson, 2016;
Cohen & Leventis, 2013); iv) tipo de relatório de auditoria, sendo que os modificados são divulgados depois
dos relatórios não modificados e, quanto mais grave a modificação, maior o AD (Soltani, 2002); v) as empresas
com maior número de acionistas e com maior endividamento tendem a divulgar o relatório mais rápido
(Barcellos, Costa Júnior, & Laurence, 2014); vi) mudança de auditor (Abidin & Ahmad-Zaluki, 2012; Ng & Tai,
1994; Whitworth & Lambert, 2014); vii) governança corporativa (Kirch, Lima, & Terra, 2012); viii) perda
(Sharma, Tanyi, & Litt, 2017; Whitworth & Lambert, 2014); ix) liquidez da empresa (Al-Ghanem & Hegazy,
2011; Cohen & Leventis, 2013); x) taxa da auditoria (audit fee) (Palmrose, 1986).
Todavia, apesar de haver pesquisas que observam fatores que impactam o retorno das ações das
empresas (Abidin & Ahmad-Zaluki, 2012; Barcellos et al., 2014; Robu & Robu, 2015; Pevzner et al., 2015; Lei,
Wang, & Yan, 2017; Souza & Nardi, 2018) e no custo da dívida das empresas (Nardi & Nakao, 2009; Eliwa,
Haslam, & Abraham, 2016; Lugo, 2017), não se observou trabalhos com a prerrogativa de observar a relação
entre o tempo na entrega das DFPs e o retorno das ações e o custo da dívida.
Sendo assim, dada a importância da informação contábil para o mercado de capitais, a existência de
estudos internacionais que analisam os determinantes do audit delay, das poucas pesquisas nacionais sobre
essa relação, e por não se observar estudos que analisaram o impacto dos audit delay para os principais
usuários da informação contábil, surge o interesse em observar a seguinte questão de pesquisa: Qual o
impacto do audit delay no retorno das ações e no custo da dívida das empresas brasileiras de capital aberto?
Desse modo, o objetivo do estudo é compreender os efeitos que o tempo na entrega das DFPs pode ocasionar
em termos de retorno das ações e de custo de captação via instituições bancárias. Assim, com tais resultados,
espera-se poder evidenciar às empresas brasileiras de capital aberto, o impacto que o tempo para divulgação

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