Análise do sadomasoquismo erótico existente no mangá my beloved sadist

AutorMário Jorge de Paiva
CargoDoutor, PUC-Rio, Brasil
Páginas107-124
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GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 1 | p. 107-107 | 2. sem 2021
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ANÁLISE DO SADOMASOQUISMO ERÓTICO EXISTENTE NO
MANGÁ MY BELOVED SADIST
Mário Jorge de Paiva1
Resumo: O presente artigo busca analisar o mangá My beloved sadist pelo
prisma do conceito de sadomasoquismo. Nossa investigação é qualitativa
e tem aporte teórico amplo, que se utiliza de autores como Eliane Robert
Moraes, Jorge Leite Jr., Regina Facchini, Camilo Braz etc. Concluiu-se que,
das possíveis abordagens, My beloved sadist optou por explorar o desejo sexual
dentro do universo do “são, seguro e consensual” e do Sadomasoquismo
Erótico, com fortes elementos distanciadores em relação ao próprio Marquês
de Sade e aos quadros psicopatológicos.
Palavras-chave: Sadomasoquismo; BDSM; BL; Mangá; Erotismo.
Abstract: This article aims to analyze the manga My beloved sadist through the
prism of sadomasochism. This is a qualitative research conducted with a broad
and diverse theoretical contribution, including authors such as Eliane Robert
Moraes, Jorge Leite Jr., Regina Facchini, and Camilo Braz. The analysis reveals
that, among all possible approaches to sexual desire, My beloved sadist explores
it within sexual masochism, with strong distancing elements in relation to
Marquis de Sade and psychopathological aspects.
Keywords: Sadomasochism; BDSM; BL; Manga; Eroticism.
1 Doutor, PUC-Rio, Brasil. E-mail: mariojpaiva91@gmail.com. Orcid: 0000-0001-7158-4371.
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição -
Não Comercial 4.0 Internacional.
108 GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 1 | p. 107-124 | 2. sem 2021
Introdução
Como podemos ver em Sandra Lapeiz e Eliane Moraes (1984), ou
em Sarane Alexandrian (1993!), a existência do pornográfico e do eró-
tico é anciã2. Mesmo com mudanças históricas implicando em períodos
de maior ou menor liberdade (ALEXANDRIAN, 1993)3, acompanhamos
uma grande capilaridade do tema nos campos artísticos, envolvendo hoje
cinema4, animações5, literatura6, jogos eletrônicos etc. Assim, a pornografia
e o erotismo abarcam diversos gostos e públicos em uma incrível variância,
abrangendo até mesmo a habilidade de parodiar outros gêneros (LEITE JR.,
2014), com materiais considerados desde bastante “leves” até a estética do
grotesco, do bizarro (LEITE JR., 2009).
Como elemento histórico, entendemos que há valor sociológico em
observar a inter-relação entre o local, o tempo e suas formas de erótico/
pornográfico. Nesses termos, e seguindo Michel Foucault (2010, p.359)7,
o presente trabalho aborda um tipo de erotismo e pornografia que envolve
o conceito de sadomasoquismo.
A história do conceito de sadomasoquismo é rica. Por isso, não é nosso
objetivo esgotar o tema, mas realizar um recorte e tratá-lo a partir de uma
abordagem qualitativa e interpretativa. Do cruzamento entre o material
específico pesquisado e nosso aporte teórico, traçaremos desenvolvimen-
tos e conclusões. O foco será a análise de um mangá8, ou seja, uma história
em quadrinho9, que tem um enredo sadomasoquista. A obra é nomeada
2 Na Grécia Antiga, encontramos material abundante de literatura erótica sobre principalmente a prostitui-
ção, envolvendo as chamadas cortesãs gregas, que terminaram por inspirar homens como Demóstenes, Aristipo
e Diógenes, entre outros (LAPEIZ; MORAES, 1984, p.18).
3 Como nos lembra Alexandrian (1993, p.11), a literatura erótica entre gregos e romanos da Antiguidade era
expressa abertamente. Os gregos, assim, abriram certos caminhos com elementos de suas tradições dionisíacas,
celebrando o culto do falo com hinos licenciosos (ALEXANDRIAN, 1993, p.11).
4 A jornada até as representações sexuais existentes no cinema moderno foi longa e é tratada por Rodrigo
Gerace (2015), que mostra como mesmo que o cinema seja um meio artístico muito mais recente, possui
enorme riqueza cultural no aspecto das representações sobre a sexualidade e o sexo.
5 É interessante comentar como Gerace (2015, p.69) aponta, por exemplo, que a primeira animação eró-
tica, possivelmente, foi Eveready Harton in buried treasure, produção americana de 1929.
6 Aqui vale apontar, inclusive, as fanfics e os sites de contos adultos.
7 Autor que propõe, por exemplo, que o sadismo não pode ser visto como um elemento atemporal, mas sim
como um acontecimento cultural maciço do fim do século XVIII.
8 Em termos genéricos, uma forma de quadrinhos orientais, com algumas diferenças em relação ao padrão
americano, como iremos tratar.
9 Do ponto de vista sociológico, também é interessante notar que tal tipo de arte, o quadrinho, é pouco
abordado, o que foi observado por Bourdieu (2006, p.84), que o considera uma forma de arte média, junto da
ficção científica e dos romances policiais. Assim, são formas culturais ainda em vias de legitimação, que podem ser
desdenhadas ou ridicularizadas por detentores de maior capital escolar, mas que oferecem um refúgio para alguns.
Em outros termos: para certos setores, os quadrinhos são algo “menor”.

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