Aprendizagem profissional: a docência na biblioteconomia

AutorEdileuda Soares Diniz - Ademar de Lima Carvalho
CargoProfessora da Universidade Federal do Mato Grosso Campus de Rondonópolis - Doutor em Educação; Professor do Departamento de Educação da Universidade Federal do Mato Grosso/Campus de Rondonópolis
Páginas74-90

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Edileuda Soares Diniz

Professora da Universidade Federal do Mato Grosso

Campus de Rondonópolis mailto:eldinizbr@yahoo.com.br

eldinizbr@yahoo.com.br

Ademar de Lima Carvalho

Professor do Departamento de Educação da Universidade Federal do Mato Grosso/Campus de Rondonópolis mailto:ademarlc@terra.com.br

ademarlc@terra.com.br

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1 Introdução

A problemática da atuação do professor e a profissão docente são uma temática que envolve a formação do professor de Ensino Superior, a constituição da aula na universidade e, mais especificamente, a trajetória para ingressarse na profissão docente. Acreditamos que isso traz implicações na formação do discente universitário como um sujeito crítico com capacidade de pensar por si. Foi nessa perspectiva que encontramos motivação, impulsionandonos a buscar entender como se deu, ou como se construiu, o cenário de um grupo de professores para ingressar como docentes no Ensino Superior.

Neste sentido, vimos em Sacristán (2000, p.183) que o professor “[...] Passa de aluno „receptor? a „consumidor? acrítico de materiais didáticos e a „transmissor? com seus alunos.[...]”, de maneira que ele:

[...] passa sem processo de ruptura [...] da experiência passiva como aluno ao comportamento ativo como professor, sem que lhe seja colocado, em muitos casos, o significado educativo, social e epistemológico do conhecimento que transmite [...].

A consequência disso é uma atuação recheada de lacunas que não dá condições de observar com mais acuidade o aspecto cognitivo do discente, visto que este costuma trazer consigo uma carga de leitura de mundo que necessita, por conseguinte, da habilidade docente para lidar com as idiossincrasias. Habilidade essa que requer o habitus apregoado por Bourdieu. Assim, querer pesquisar situações que discutam a aprendizagem da profissão docente no Ensino Superior é, antes de tudo, uma oportunidade de, através do resultado que será obtido, contribuir para o aperfeiçoamento da qualidade do ensino no interior das salas de aula universitárias. Principalmente, por percebermos que no Brasil não existem programas de pósgraduação que objetivam especificamente a formação de professor para atuar na docência em Instituições de Ensino Superior.

Por outro lado, como o professor é considerado a pessoa fundamental que colabora para a qualidade do ensino, enveredar uma pesquisa que intencionalmente se volta para descobrir o que o faz ser professor é essencial, pois, desse modo, possibilitará uma sinalização de um futuro promissor para a educação superior, em que se considere, por exemplo, a qualidade profissional desse professor. Sobre isso, Lima (2003, p. 28), afirma que “[...] há indícios de que maior capacitação docente pode levar à melhores resultados de aprendizagem [...]”. O que demonstra que desejar estudar o percurso profissional da docência é importante, já que esse

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tipo de pesquisa aponta para a constatação da necessidade do professor ter uma formação consubstanciada nos saberes da docência, pois disso resulta um melhoraprendizado.

A discussão, porém, que envolve o sujeito responsável pela aprendizagem no ensino superior é muito preocupante, porque está atrelada à necessidade de uma ação pautada na práxis e não em uma atividade pragmática direcionada tão somente ao fazer por fazer, de modo que se constitua numa ação que leva em conta um instrumental básico para exercer o seu papel em sala de aula.

No ensino de Biblioteconomia, tal realidade se fez presente enfaticamente e, durante décadas, esse ensino se preocupou, em demasia, com as questões técnicas da profissão, isto é, com o serviçomeio de catalogar e classificar, em detrimento de um ensino contextualizador, como se pode constatar na literatura da área. As questões sociais passavam ao largo das discussões que envolviam a construção do currículo, por exemplo. (SOUZA, 2003).

Pensamos que esses fatos trazem consequências diretas na profissão da docência do Ensino Superior em Biblioteconomia. Diante disso, o que incita a nossa curiosidade atualmente é saber como se dá o ingresso do professor de biblioteconomia na docência do Ensino Superior. O que o faz ser professor em biblioteconomia? Será que o professor que ingressa no ensino superior em biblioteconomia é detentor de um conhecimento didático e metodológico que o capacita para atuar na sala de aula universitária?

Por outro lado, acreditamos que as implicações provenientes do desconhecimento de questões básicas da área da Educação são inquietantes no sentido de não conseguir atentar para as estratégias da aprendizagem significativa que possibilitem obter um retorno expressivo do discente.

Situações como essas nos induziram a querer conhecer a trajetória da aprendizagem profissional da docência dos professores substitutos do curso de Biblioteconomia da UFMT/ICHS/CUR no período de 2005 a 2007 ao ingressarem na profissão docente. Além de querer saber, dentre outros fatores, como eles apreendem suas práticas pedagógicas. Sucintamente, portanto, o problema se constituiu em querer saber qual o caminho por eles traçado para ingressarem na docência do Ensino Superior.

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2 Ofício da docência/identidade

Bourdieu, numa de suas obras, faz o seguinte questionamento: “[...] Por que é importante questionar o interesse que os agentes podem ter em fazer o que fazem? [...]”, (1996, p.137). Em se tratando da temática que envolve a formação de professores, uma resposta a essa pergunta pode certamente ser dada a partir do momento em que se acredita que não existe ato desinteressado. Se um sujeito escolhe uma dada profissão, por exemplo, no nosso entender sua ação foi pautada na intenção que ele tinha por aquela determinada escolha, isto é, não foi desinteressada, mas sim impregnada de intenções. Por esse ponto de vista, a escolha pela docência, no Ensino Superior, dáse pela via do interesse pessoal ou mesmo por uma opção intuitiva, a princípio. Pressupõese, portanto, que quem ingressa na docência possui uma identidade própria, como os advogados, os médicos, engenheiros, entre outros, de maneira que se espera que possuam uma formação que os caracterizem enquanto profissionais.

Por outro lado, vale ressaltar que esse é um ofício difícil de seguir, em especial no nosso país, porque, historicamente, o docente se constituiu e se constitui pelo acesso a concursos públicos, no caso das universidades federais, e através de convite nas instituições particulares, como vemos em Anastasiou (2002). Para essa autora, o ingresso na profissão docente nas diferentes áreas do saber não se dá por meio de uma formação pedagógica, de maneira que os que se propõem a serem professores no Ensino Superior buscam, por exemplo, referências no modelo obtido de seus mestres, enquanto graduandos e pósgraduandos.

Dentro dessa perspectiva, alguns questionamentos são inevitáveis: como inserir uma postura reflexiva do professor no sentido do que o faz professor? Como a aprendizagem significativa poderá fazer sentido para o docente que não teve uma formação adequada? Como aplicar isso em sala de aula? Como conseguir apreender que o mais importante é ensinar o aluno a aprender a pensar?

O que se ressalta na literatura é a percepção de que os professores universitários não possuem “[...] formação específica como professor universitário [...]” (BENEDITO apud PIMENTA, 2002, p.36). E, nesse sentido, suas identidades ficam comprometidas, pois o que existe, na verdade, é a exigência por uma titulação com pósgraduação stricto sensu, mestres ou doutores, não se especificando, portanto, a necessidade da formação para ser professor de Ensino Superior. O resultado disso é que:

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Na maioria das instituições de ensino superior, incluindo as universidades, embora seus professores possuam experiência significativa e mesmo anos de estudos em suas áreas específicas, predomina o despreparo e até um desconhecimento científico do que seja o processo de ensino e de aprendizagem, pelo qual passam a ser responsáveis a partir do instante em que ingressam na sala de aula. (PIMENTA, ANASTASIOU,2002,p.37).

Além de ser um dado corriqueiro nas Instituições de Ensino Superior/IES, observase por sua vez, que, nos editais dessas instituições para o preenchimento do quadro docente, não se estipula a formação específica para ser professor de Ensino Superior, e sim que o candidato seja detentor de um título em uma área específica do conhecimento.

Todavia, cabe aqui comentar o que os professores também desconhecem quando são confrontados com a sua atividade da docência. É comumente percebida a confusão a respeito do que vem a ser Didática. Em geral, os professores universitários se referem à Didática como sendo “[...] as técnicas de ensinar – mesmo porque, de uma forma ou de outra, aprenderam a ensinar com sua experiência e mirandose em seus próprios professores [...]”. Isso perdura ainda hoje, de maneira que se entende que ela está centrada na “[...] perspectiva normativa e prescritiva de métodos e técnicas de ensinar [...]”. (PIMENTA, ANASTASIOU, 2002, p.62-63).

A Didática, na visão dessas autoras, referese a uma área da pedagogia que busca investigar “[...] os fundamentos, as condições e os modos de realizar a educação mediante o ensino [...]”. Assim, para elas, a...

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