APRESENTAÇÃO

AutorAna Paula Vosne Martins
Páginas9-12
GÊNERO | Niterói | v.15 | n.2 | p. 7 - 12 | 1.sem.2015 9
APRESENTAÇÃO
Ana Paula Vosne Martins
(Organizadora)
Universidade Federal do Paraná
E-mail: ana_martins@uol.com.br
Os artigos que compõem este dossiê se lançaram à tarefa de propor novas
formas de problematização sobre as relações entre o gênero, a assistência e a
filantropia. O traço em comum é a busca pelo protagonismo feminino a partir
de práticas até bem recentemente consideradas pela história das mulheres e
também pela história do serviço social como representativas do conservado-
rismo de classe e da subalternidade das mulheres de elites, restritas a ativida-
des sociais mitigadoras e normatizadoras da vida das pessoas mais pobres. A
atuação de boa parte das mulheres que frequentam as páginas destes artigos
pode, à primeira impressão, ser tributada à origem de classe, afinal eram de
famílias reconhecidas por seu nome, poderio econômico e capital cultural,
como também demonstraram notável desenvoltura nas redes de sociabilidade
das elites às quais pertenciam. Entretanto, a origem de classe é somente um
componente, não pouco importante, da visibilidade e do protagonismo exer-
cido por elas, que sozinho não explica suas trajetórias sociais e políticas, bem
como de suas contemporâneas envolvidas com a assistência social que arti-
culou diferentes agentes e instituições no Brasil desde meados do século XIX.
As pesquisadoras e o pesquisador que contribuem para este dossiê de-
fendem que se faz necessário repensar, tanto do ponto de vista conceitual,
quanto empírico, o que significou o envolvimento das mulheres das classes
sociais mais privilegiadas com a caridade e a filantropia, naquilo que chama-
mos de trabalho assistencial, tanto na sua dimensão voluntária, quanto no âm-
bito profissional. A organização de profissões como a enfermagem, o serviço
social, a nutrição e mesmo o magistério esteve em suas origens ligada à ação
voluntária do trabalho assistencial de mulheres conhecidas no passado como
as damas de caridade, à frente das mais diversas associações caritativo-fi-
lantrópicas de assistência. Os artigos procuram mostrar que por caminhos
diferentes as mulheres que se envolveram com a filantropia passaram por esta
experiência de ir além de seus jardins. Mobilizadas pela religião, pelo discurso
laico reformista, pelo humanismo ou mesmo pelo envolvimento político, en-
tenderam que seu lugar no mundo poderia ser mais amplo. Para muitas delas
não se tratava tão somente de conquistar mais status de classe, mas outros

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT