As Emoções na constituição de uma individualidade empreendedorista: Contribuições possíveis a uma sociologia econômica da atualidade

AutorTúlio Cunha Rossi
CargoUniversidade Federal do Maranhão - UFMA
Páginas119-142
Direito autoral e licença de uso: Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative
Commons. Com essa licença você pode compartilhar, adaptar, para qualquer fim, desde que
atribua a autoria da obra, forneça um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações.
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7984.2022.e91271
119119 – 142
Direito autoral e licença de uso: Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative
Commons. Com essa licença você pode compartilhar, adaptar, para qualquer fim, desde que
atribua a autoria da obra, forneça um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações.
As emoções na constituição de uma
individualidade empreendedorista:
contribuições possíveis a uma
sociologia econômica da atualidade
Túlio Cunha Rossi
Resumo
Este artigo propõe uma analítica sociológica dos processos de individualização na contemporanei-
dade, posicionando-se de forma crítica às perspectivas que tendem a identicá-lo como simples
decorrência do neoliberalismo nos campos político e econômico. Nesse sentido, a partir de uma
perspectiva compreensiva, argumenta-se em prol da individualização como processo histórico e
cultural que, ao mesmo tempo, afeta e é afetado pelo mercado nas sociedades capitalistas. Ainda,
destaca-se que, embora a individualidade fosse elemento presente nas bases políticas e ideológicas
das sociedades modernas, esta hoje seria ressignicada, conferindo lugar especial à dimensão emo-
cional e subjetiva, distinguindo-se da ênfase na racionalidade econômica liberal. Assim, propõe-se
uma contribuição da perspectiva cultural à sociologia econômica, voltada ao empreendedorismo e
à signicação que as emoções adquirem nesse contexto.
Palavras-chave: Individualização. Neoliberalismo. Emoções. Empreendedorismo,
Introdução
O presente texto propõe uma analítica sociológica do empreendedorismo
de si enquanto expressão de um processo histórico e cultural de individua-
lização radical na contemporaneidade. Nesse sentido, exploram-se, criti-
camente, as associações recorrentes entre esse processo, a economia e as
políticas neoliberais que tendem, mais ou menos explicitamente, a conferir
a estas últimas a causalidade do primeiro. Contrariando perspectivas que
As emoções na constituição de uma individualidade empreendedorista: contribuições possíveis a
uma sociologia econômica da atualidade | Túlio Cunha Rossi
120 119 – 142
tendem a condicionar a cultura e o comportamento individual às condi-
ções econômicas e estruturais do neoliberalismo, propõe-se uma analítica
mais complexa sugerindo relações de múltiplas casualidades e não deter-
ministas. Assim, na abordagem ora apresentada, as emoções ganham relevo
por sua intrínseca relação com as noções mais básicas de individualidade e
subjetividade.
A própria terminologia que se adota para se referir à constituição de
indivíduos supostamente autônomos e autossucientes, sobretudo no
mercado de trabalho, com expressões como “empreendedorismo de si” e
“gestão das emoções”, facilmente conduz à interpretação corriqueira de
uma cultura determinada, inclusive em sua linguagem, pela racionalida-
de econômica capitalista, tornando-se abrangente como espécie de lógica
única de todas as esferas das vidas social e individual. Nossa proposta segue
por outro rumo. Sem ignorar que a terminologia, a lógica e a racionalidade
neoliberais são incorporadas à cultura e às práticas cotidianas de muitos
indivíduos hoje, interferindo em como tomam suas decisões e constituem
suas identidades, acreditamos que se trate menos de uma cultura “neolibe-
ral”, levando em conta sua dimensão economicista e política, mas, antes,
da expressão de um processo histórico de individuação que passa pela eco-
nomia, ao mesmo tempo em que é atravessado por ela em sua dimensão es-
trutural. Contudo, no nível das relações cotidianas, sobretudo nos campos
do trabalho e do consumo, para os atores sociais, essa racionalidade eco-
nômica constitui apenas uma entre outras ferramentas possíveis de aqui-
sição de recursos para ns de autorrealização e construção de identidades
singulares. Assim, nossa hipótese é de que a lógica, os discursos, os valores
neoliberais são apenas parcialmente incorporados à cultura da individua-
ção como recursos práticos para uma produção consciente e intencional de
si, numa sociedade onde a individualidade assume caráter sagrado, acima
inclusive da prosperidade econômica e do sucesso pecuniário.
Para defender tal abordagem, partir-se-á da sociologia weberiana, lem-
brando seus apontamentos sobre o desenvolvimento e a transformação
de uma ética protestante para a constituição de um “espírito capitalista”,
mesmo tendo em seu cerne discursos contraditórios aos valores e às práti-
cas estabelecidos na sociedade capitalista (WEBER, 2007). Entendemos,

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT