AS MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AutorMaria Salet Ferreira Novellino, Ana Carolina Soares Bertho
Páginas239-258
GÊNERO|Niterói|v.18|n.1| 239|2. sem.2017
AS MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO
NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Maria Salet Ferreira Novellino1
Ana Carolina Soares Bertho2
Resumo: O artigo faz uma caracterização sociodemográfica das mulheres adultas
fluminenses em situação de violência, relacionando-as aos atos de violência e aos
seus perpetradores. Tomamos como fonte de dados os registros de ocorrência
das delegacias civis do estado do Rio de Janeiro em 2010. Com esses dados e os
dados do Censo Demográfico de 2010, estabelecemos as taxas de vitimização por
classe etária e nível de escolaridade; apresentamos as distribuições percentuais
segundo os tipos de relação entre elas e perpetradores; os tipos de violência e os
locais onde os atos violentos foram cometidos. Verificamos que as mulheres em
situação de violência têm escolaridade baixa; não têm autonomia econômica; os
casos de violência física são mais frequentes entre as mais jovens e a psicológica,
entre as mulheres mais velhas; os perpetradores são majoritariamente os parceiros
íntimos. Com relação ao local de ocorrência, a residência é o principal local em
que a violência é praticada.
Palavras-chave: violência de gênero; controle coercitivo; terrorismo patriarcal
Abstract: This paper describes social and demographic characteristics of adult women
living in gender based violence in Rio de Janeiro state, relating them to the violent
acts as well as their perpetrators. Our database is made up of the registers done in the
civil delegacies in 2010. From these data as well as the Demographic Census 2010,
we calculated victimization rates according to age classes and schooling; we analyzed
the kinds of relationship between these women and the perpetrators; the kinds of
violence and the places where these acts have been committed. We verified that the
1 Doutora em Ciência da Informação pela UFRJ. Professora e pesquisadora no Programa de Pós-Graduação da
ENCE/IBGE. E-mail: saletnovellino@gmail.com.
2
Doutora em Demografia pela Unicamp. Professora e pesquisadora no Programa de Pós-Graduação da ENCE/
IBGE. E-mail: carolbertho@gmail.com.
p.239-258
GÊNERO|Niterói|v.18|n.1|240 |2. sem.2017
women living in violence have low schooling; are economically dependent; the cases
of physical violence are more frequent among the youngest and the psychological
violence among the oldest; the perpetrators are in their majority intimate partners. In
relation to the place of occurrence, the residence is the main local where the violence
is committed.
Keywords: gender based violence; coercive control; patriarchal terrorism
Introdução
O nosso propósito é analisar o fenômeno da violência de gênero no estado
do Rio de Janeiro, considerando as mulheres, os perpetradores e os atos de
violência a partir de dados contidos nos registros de ocorrência das delegacias
civis. Entendemos violência de gênero como a coerção exercida por alguns homens
sobre algumas mulheres cuja raiz está na construção social dos papéis masculinos e
femininos e, como tal, não pode ser explicada através de fatores de risco como indutores
da violência3, mas sim pelas estruturas que reforçam e perpetuam esses papéis.
A coerção compreende violência física, intimidação, isolamento e controle
e ela não se resume a um ato, mas é uma ação contínua e seus perpetradores
usam maneiras diversas de ferir, humilhar, intimidar, explorar, isolar e dominar
suas vítimas. Essas mulheres podem ser privadas de dinheiro, comida, acesso à
comunicação ou transporte, e serem obrigadas a romper relações com familiares e
amigos. O controle coercitivo é sexualizado porque depende, para o seu exercício,
da vulnerabilidade das mulheres devido à desigualdade de gênero. (DOBASH et
al. 1992; STARK 2007).
Johnson (1995) utiliza, para se referir à coerção, o conceito de ‘terrorismo
patriarcal’, o qual, segundo ele, é:
(...) um produto da tradição patriarcal que dá direito aos homens de controlarem suas
mulheres e é uma forma de controle terrorista de mulheres por seus maridos e que envolve
3 Surveys como o Estudio multipaís de la OMS sobre salud de la mujer y violencia doméstica contra la mujer voltam-
se para a prevalência de violência doméstica contra as mulheres associando-a a fatores de risco, tais como nível de instrução
e autonomia financeira das mulheres, condição de trabalho dos homens e uso de álcool e drogas, principalmente por parte
dos homens.
p.239-258

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