As mulheres e a escrita de livros escolares no século XIX

AutorGisele Baptista Teixeira
Páginas81-96
Niterói, v. 11, n. 1, p. 81-96, 2. sem. 2010 81
AS MULHERES E A ESCRITA DE LIVROS
ESCOLARES NO SÉCULO XIX
Gisele Baptista Teixeira
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
E-mail: gizt2000@yahoo.com.br
Resumo: No percurso que envolvia os livros
esc olares n o s éculo XI X, as profe ssoras
também tiveram um papel ativo no processo,
seja analis ando e ava liando as o bras que
deveriam ser aprovadas para uso das escolas,
seja produzindo. Se levarmos em consideração
de que à época o predomíni o da esc rita
pertencia ao sexo masculino, é possível afirmar
que havia um expressivo número de mulheres
que se tornaram escritoras de compêndios.
Iniciar uma problematização sobre as relações
existentes entre condição feminina, exercício
do magistério e autoria de livros escolares no
século XIX, é o objetivo principal deste artigo.
Palavras-chave: livros escolares; Corte imperial;
professoras-autoras.
82 Niterói, v. 11, n. 1, p. 81-96, 2. sem. 2010
Introdução
Ao contrário do que se poderia imaginar, havia uma expressiva quantidade de
livros escolares no século XIX, produção que era incentivada e regulada pelo governo
imperial, já que o livro foi eleito como um dos principais instrumentos para a esco-
larização dos saberes, e uma tecnologia a serviço de um projeto civilizatório posto
em curso no Oitocentos. Os livros foram entendidos como objetos que poderiam
contribuir para viabilização das propostas existentes, sejam elas quais fossem, já que
em circulação, divulgariam um saber bem determinado. Cabe ressaltar que para que
pudessem ser utilizadas nas escolas, primeiramente as obras deveriam ser previamente
aprovadas pelas autoridades governamentais.
No percurso que envolvia os livros escolares, mais do que consumidores pas-
sivos desses objetos para auxílio de suas aulas, os professores tornaram-se sujeitos
ativos, analisando e avaliando as obras que deveriam ser aprovadas para uso das
escolas, produzindo tais compêndios. Os professores foram considerados os sujeitos
capazes e autorizados para aquela produção, cabendo destacar que este exercício não
era restrito aos homens, havendo também professoras que se tornaram escritoras.
Iniciar uma problematização sobre as relações existentes entre a condição feminina,
o exercício do magistério e a autoria de livros escolares no século XIX, é o objetivo
principal deste artigo, contudo, primeiramente torna-se necessário compreender
melhor as condições de aparecimento e de permanência do livro na ordem escolar
do Brasil e as ações que o elegeram como um suporte privilegiado para difusão dos
saberes escolarizados.
O livro escolar no Brasil: produção, controle e circulação
O século XIX pode ser caracterizado como um período de invenção e construção
do sistema educacional estabelecido pelo Estado imperial, sendo um período rico em
discussões relacionadas à educação, envolvendo autoridades e diversos segmentos
da sociedade.1 Na Corte imperial, formada por uma população extremamente hete-
rogênea, a escola foi percebida como um espaço que poderia ser responsável pela
criação de uma determinada ordem, ou seja, do disciplinamento desses distintos
sujeitos e, nessas propostas de controle dos indivíduos, o livro foi entendido como
um dos veículos de viabilização e sustentação das políticas governamentais.
Os primeiros livros escolares foram impressos pela Impressão Régia (HALLEWELL,
1985). De acordo com Tambara (2002), nesse período de monopólio da Impressão
Régia, muito pouco foi produzido em termos de livros escolares para utilização na
1 Para saber mais sobre as ações de escolarização na Corte imperial, consultar Gondra (2008).

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