O ascenso da China e o sistema mundial: relações de cooperação, futuro compartilhado ou bipolarização interimperialista?

AutorJorge Almeida
CargoProfessor Associado IV do Departamento de Ciência Política, do PPG (Programa de Pós-Graduação) em Ciências Sociais e do PPG em Ciência Política da FFCH-UFBA
Páginas109-130
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 109-130, jan./abr. 2022 | ISSN 2447-861X
O ASCENSO DA CHINA E O SISTEMA MUNDIAL: RELAÇÕES DE
COOPERAÇÃO, FUTURO COMPARTILHADO OU BIPOLARIZAÇÃO
INTERIMPERIALISTA?
1
2
The rise of China and the world system: cooperative relations, shared future or
inter-imperialist bipolarization?
Jorge Almeida
Universidade Federal da Bahia (UFBA), Brasil
Informações do artigo
Recebido em 16/05/2022
Aceito em 19/07/2022
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n255.p109-130
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
ALMEIDA, Jorge. O ascenso da China e o sistema
mundial: relações de cooperação, futuro compartilhado
ou bipolarização interimperialista? Cadernos do CEAS:
Revista Crítica de Humanidades. Salvador/Recife, v. 47,
n. 255, p. 109-130, jan./abr. 2022. DOI:
https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n255.p109-130
Resumo
O objetivo deste ensaio é a discussão dos impactos da
emergência chinesa no cenário mundial. Em especial discutimos
as relações que a China constrói com os países dependentes e
levantamos hipóteses de investigação sobre as relações atuais
entre as grandes potências. No sentido ilustrativo, faremos
referências particularmente à América do Sul. Trabalhando com
um referencial marxista, a hipótese apresentada é de que as
relações construídas entre a China e os países dependentes vêm
se afirmando como uma relação centro-periferia ou
imperialismo-dependência e que, em nível global, vem se
consolidando uma bipolarização interimperialista.
Palavras-Chave: Emergência da China; imperialismo-
dependência; bipolarização interimperialista; sociedade
harmônica; futuro compartilhado.
Abstract
The purpose of this essay is to discuss the impacts of the Chinese
emergence on the world scenery. In particular, we discuss the
relations that China builds with dependent countries and bring
up research hypotheses on current relations between the great
powers. In the illustrative sense, we will refer particularly to
South America. Using a Marxist reference, a h ypothesis
presented is that the relations built between China and the
dependent countries have been asserting themselves as a
center-periphery or imperialism-dependence relationship and
that, on a global level, an inter-imperialist bipolarization h as
been consolidating.
Keywords: China's Emergence; imperialism-dependence; inter-
imperialist bipolarization; harmonic society; shared future.
1
Uma primeira versão deste trabalho foi apresentada na mesa do Pré-ALAS 2022, Painel 3: “El ascenso de China
y el sistema mundial: El nuevo imperialismo o la emergen cia del Sur Global”. Ponentes: Elias Jabbour (U ERJ),
Francesca Staiano (Uni versidad de La Plata), Javier Vadell (PUC -MG), Jorge Almeida (U FBA) y Valeria Ribeiro
(UFABC). Debatedor: Pedro Vieira (UFSC). https://www.youtube.com/watch?v=Uw4 VPgtE5uc.
2
Este artigo beneficiou-se parcialmente das pesquisas e discussões realizadas pela equipe de pesquisa de PIBIC
sobre presença da China na América do Sul, do Grupo de Pesquisa Processos de Hegemonia e Contra-
hegemonia, que tem a participação dos graduandos em Ciências Sociais da UFBA: Jorge Antonio da Paz Ribeiro,
Fernanda Barretto de São Pedro e Marlon Alberto Rodriguez Rojas e da mestranda do PPGCS-UFBA Andrea
Ribeiro como tutora e o autor deste ensaio como orientador.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 109-130, jan./abr. 2022.
110
O ascenso da China e o sistema mundial: relações de cooperação, futuro compartilhado... | Jorge Almeida
INTRODUÇÃO
Este ensaio visa discutir, d e modo panorâmico, os impactos do ascenso chinês no
mundo, em especial as relações que a China constrói com os países dependentes, assim como
levantar hipóteses de investigação sobre as relações atuais entre as grandes potências. No
sentido ilustrativo, faremos referências particularmente à América do Sul.
Historicamente, desde a época do colonialismo, Espanha e Portugal, principalmente,
mas também Holanda, França e Inglaterra estiveram presentes no nosso subcontinente.
Após o fim da colonização espanhola e portuguesa, a Inglaterra se impôs sem
intermediários e o colonialismo foi substituído pelo neocolonialismo, pois a ind ependência
política formal dos países não rompeu as relações econômicas do tipo colonial e a
interferência política ou político-militar.
Os Estados Unidos (EUA), nascente potência no Norte, interveieram supostamente
em defesa dos povos latino-americanos, combatendo a colonização europeia com o fam oso
discurso da chamada doutrina Monroe (1823), de “América para os amer icanos”, mas
procurando fazer uma reserva de mercado de área de influência para sua própria expansão,
do Ártico à América do Sul. Objetivo que ficou melhor explicitado no discurso de posse do
presidente dos EUA James Bucharam (1857), que ficou conhecido como “Destino
Manifesto”
3
.
Recentemente, o atual presidente dos EUA, Joe Biden, tentando melhorar sua
imagem, só reafirmou as pretensões ao dizer que a América Latina e o Caribe não eram o
“quintal”, mas o “jardim da frente” dos EUA
4
.
Do neocolonialismo, passamos ao estágio imperialista do capitalismo (LENIN, 2008).
Por aqui, impuseram-se principalmente os Estados Unidos como an tes se impuseram,
principalmente, Portugal, Espanha e Inglate rra, como regra geral utilizando-se d e diversos
recursos políticos, econômicos, tecnológicos, d iplomáticos e militares. No caso dos Estados
3
A busca desse “destino” por toda a América e, particularmente n o Brasil, foi bem trabalhada por Muniz
Bandeira (2007).
4
Biden: EUA não ditam o que acontece na América do Sul e região não é 'quintal' norte-americano
https://br.sputniknews.com/20220120/biden-eua-nao-ditam-o-que-acontece-na-america-do-sul-e-regiao-
nao-e-quintal-norte-americano-21100808.html

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT