Association participation, fair trade and sustainable territorial development: the experience of "Toca Tapetes"/ Associativismo, comercio justo e o desenvolvimento territorial sustentavel: a experiencia da Toca Tapetes/ Asociativismo, comercio justo yel desarrollo territorial sustentable: la experiencia de "Toca Tapetes".

AutorSchmitt, Valentina Gomes Haensel
CargoArtigo--Administracao Geral
  1. INTRODUCAO

    O historico dos processos de desenvolvimento apresenta bases fortemente relacionadas ao modelo de producao em que prevalecem interesses economicos em detrimento de aspectos socioambientais. Nos paises em desenvolvimento, especialmente, ha uma forte tendencia de reproducao dos modelos provenientes de paises desenvolvidos, que nao sao necessariamente adequados, em longo prazo, as demandas dos territorios e individuos que os habitam, o que conduz a um contexto de nao sustentabilidade.

    Nos modelos desenvolvimentistas predominantes, em muitos casos, a economia e entendida como um fim para a manutencao da vida associada. O comercio e o eixo central da economia, que carece de mudancas em sua concepcao, estruturacao e operacao, bem como nos estilos de vida. Nesse contexto, o desafio e o fortalecimento dos lacos sociais, a mobilizacao dos atores e a valorizacao do patrimonio territorial. Como alternativas, surgem o associativismo e o Comercio Justo.

    O associativismo resulta do esforco coletivo de agentes produtivos em busca de melhores resultados para suas atividades. A formacao de associacoes tem como caracteristica central o deslocamento do principio de competitividade, predominante nos ambientes de producao, para a cooperacao e a conjuncao de interesses. Diversos agrupamentos produtivos tem sido formados, amparados em dimensoes territoriais ou mesmo em aspectos culturais, dando origem a distintos arranjos produtivos e redes de cooperacao.

    O Comercio Justo, ou Fair Trade, surgiu nos anos 50 decorrente da realizacao de parcerias entre importadores sem fins lucrativos do setor alimenticio, situados em paises do Hemisferio Norte, como a Holanda. Seu objetivo central e a materializacao do senso de justica nas relacoes de trocas comerciais no mercado internacional, como objeto central do desenvolvimento e como meio para a reducao de assimetrias entre as nacoes. Isso ocorreria por intermedio do estabelecimento de condicoes mais justas de producao aos trabalhadores dos paises em desenvolvimento, que suprem os mercados de paises desenvolvidos.

    Embasado nesse pressuposto conceitual, o presente artigo aborda a experiencia de associativismo e insercao no Comercio Justo da organizacao Toca Tapetes como fator de contribuicao ao desenvolvimento territorial sustentavel no municipio de Ararangua-SC.

  2. REFERENCIAL TEORICO

    A problematica atual do desenvolvimento esta centrada na resolucao de questoes derivadas da crise do fordismo e de seus reflexos na estruturacao territorial dos povos, pois as empresas inseridas na denominada economia global constantemente empreendem um conjunto de atividades que nao envolvem sustentabilidade social dos territorios (PECQUER, 2006). A nocao vigente faz do territorio um produto, passivel de consumo e de uso utilitario, ignorando a necessidade de consideracao de aspectos inerentes aos locais--tais como cultura, historia, entre outros--, uma vez que a inovacao, almejada pelas organizacoes de modo geral, e interpretada como decorrente de praticas dos individuos e nao como fruto coletivo dos atores sociais de determinados territorios, destaca Pecquer (2006).

    O desenvolvimento territorial e um processo que pode e deve ser aliado ao desenvolvimento organizacional quando compreendidos e aproveitados os "recursos territoriais". Diferentes espacos demandam organizacoes coerentes com seu contexto. A sustentabilidade, em projetos de desenvolvimento, resulta da compreensao das especificidades dos sistemas vivos nos processos de conhecimento e de acao, da avaliacao das diferentes perspectivas dos atores presentes no espaco, aliadas ao uso de conhecimento racional e intuitivo (OLLAGNON, 2000). O esforco central consiste em intermediar as relacoes entre individuos e espaco, com organizacoes e tecnologias que permitam sinergias coletivas.

    A gestao de recursos naturais e essencial ao processo de regulacao das inter-relacoes entre sistemas socioculturais e meio ambiente, pois leva em conta os diferentes atores ao analisar a relacao entre os meios naturais essenciais a vida humana e a propriedade (VIEIRA; WEBER, 2000). O desenvolvimento sustentavel e possivel quando sao observadas as interacoes entre dinamicas inerentes as esferas economica, social e ambiental. Demandase, portanto, a quebra de paradigmas vigentes de comportamentos fortemente amparados em questoes instrumentais, de modo que o resgate da dimensao substantiva seja tambem uma prioridade na vida coletiva (RAMOS, 1989). Assim, ha a necessidade de criacao, disseminacao e fortalecimento de organizacoes que compreendam e valorizem tal perspectiva.

    Grupos politicamente poderosos, mas economicamente inseguros, tendem a ter uma visao de curto prazo--realizando concessoes que oferecam retornos rapidos (STOPFORD; STRANGE; HENLEY, 1998). A formacao de parcerias e associacao entre atores e a efetiva participacao destes na conducao dos processos diretivos sao condicoes essenciais para a sustentabilidade territorial. Essa parceria deve preservar a pluralidade de comportamentos que guiam as dinamicas sociais, integrando os segmentos sociais ate entao nao inseridos (CAZELLA, 2006). Nesse contexto, o desenvolvimento passa a ser resultante do processo de negociacao e aproximacao (BIERSCHENK, 1988; CAZELLA, 2006; SACHS, 2007) entre individuos com experiencias de vida, percepcoes e interesses distintos. A gestao embasada em diferentes perspectivas propicia a solucao de questoes com maior potencial de abrangencia, possibilitando a convergencia de interesses.

    Na perspectiva em que predominam elementos da economia, historicamente as relacoes entre individuos e espacos refletem modelos de desenvolvimento que acentuam as desigualdades, desconsideram as particularidades dos povos e, progressivamente, expressam a nao sustentabilidade economica, social e territorial (SACHS, 1992). De outra perspectiva, o desenvolvimento ecologicamente viavel tem como ponto de partida a limitacao da corrida consumista, visando permitir o crescimento do bem-estar da humanidade e a preservacao do meio ambiente (LIPIETZ, 1992). Tambem em outra perspectiva, surge a economia plural, que vislumbra outras formas de regulacao para a geracao de riqueza (aquela nao financeira), respeitando a existencia de espacos diferenciados, dotados de personalidade e especificidades, assumindo significados distintos em cada regiao e resultando no fortalecimento dos lacos sociais, na mobilizacao dos atores e na valorizacao do patrimonio (ANDION; SERVA; LEVESQUE, 2006).

    No contexto da economia social o mercado e compreendido, na otica tradicional, como consequencia da insuficiencia de recursos, que acarreta a necessidade de escolhas individuais no uso desses recursos (POLANYI; ARENSBERG; PEARSON, 1957). O espaco nada mais e do que o reflexo das relacoes sociais de producao e consumo. Os sistemas sociais sao frequentemente tratados sob a otica unidimensional (RAMOS, 1989). O mercado e ordenador dos negocios e das relacoes sociais, em que predomina o comportamento de reducao do individuo a agente do utilitarismo, com personalidade e comportamento delimitados por prescricoes formais e impostas, acarretando superorganizacao e despersonalizacao.

    O processo de producao economica tem no trabalho um de seus pilares essenciais, pela transformacao dos recursos naturais em bens acabados para o consumo, com o uso de tecnologias. O trabalho humano adquire concretude por meio das formas intelectual, material e tecnica. Portanto, pressupoe a expressao das dimensoes de criatividade, esforco fisico e emprego de maquinas e equipamentos auxiliares ao processo produtivo.

    Para alcancar resultados economicos, o homem estabelece mecanismos de organizacao do trabalho, seja sob a otica cientifica, seja da perspectiva social. Na dimensao cientifica do trabalho, o principio estruturante e o da racionalizacao, voltado ao aumento dos rendimentos, da eficiencia operacional e das economias de escala, amparado na padronizacao e no controle dos processos por agentes externos. Na dimensao social, o trabalho e analisado a partir de sua alocacao domestica, ou seja, como fruto do esforco articulado de membros do mesmo agrupamento familiar. Ele pode adquirir condicao de temporal e estar sujeito a processos de divisao territorial, por manter relacao direta com os insumos extraidos do meio ou por ser resultante de processo induzido por agentes comerciais que estimulam e ganham com a intermediacao.

    Da dimensao social derivam nocoes de criacao de capital e tecnologias sociais. O capital social e visto como a maior capacidade de mobilizacao social dos membros de uma comunidade (PRATES, 2009) e uma forma de inclusao dos excluidos nas decisoes publicas, para o alcance de projetos e interesses sociais comuns (RIGO; OLIVEIRA, 2008). As tecnologias sociais despontam como "[...] produtos, tecnicas...

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