Atemporalidade do trabalho, violência do capital e a ampliação das jornadas de trabalho

AutorCândida da Costa, Carlos Roberto Horta, Sadi Dal Rosso
CargoProfessora do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas (UFMA). Doutora em Ciências Sociais (UFRN). Pós- Doutorado em Sociologia (UnB). candidacosta@uol.com.br. / Professor Aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Ciência Política. Doutor em Educação FAE/UFMG. atroh@uol.com.br. / Professor Titular do ...
Páginas176-195
ATEMPORALIDADE DO TRABALHO, VIOLÊNCIA DO CAPITAL E A AMPLIAÇÃO DAS
JORNADAS DE TRABALHO
Cândida da Costa
1
Carlos Roberto Horta
2
Sadi Dal Rosso
3
Resumo
O trabalho como fenômeno atemporal. Trabalho e criatividade. O trabalho sob ataque do capital. O novo mundo do trabalho
e as formas d e resistência de trabalhadores e trabalhadoras. Destacam -se as mudanças enfrentadas pelo mundo do
trabalho frente às formas de flexibilização e precarização introduzidas pelo modelo de globalização em curso no mundo.
Apresentam-se as estatísticas que evidenciam o crescimento do desemprego no Brasil na última década. Analisam-se as
modalidades de trabalho introduzidas pela legislação trabalhista que cria o trabalhador sem direitos, ampliando ainda mais a
precarização do trabalho e a desproteção social dos trabalhadores. Desenvolvem-se reflexões sobre mudanças que
trouxeram para a dominação do capital sobre o trabalho não apenas a mod ernização tecnológica característica do
neoliberalismo, mas também as opções impostas à class e trabalhadora no contexto dessas mudanças. Intenta-se
apresentar u m olhar diferenciado para a relação empírica existente entre escolaridade e trabalho, tendo como objeto as
jornadas de trabalho, por exprimirem de forma singular a manifestação social do trabalho. Diante de tantas transformações,
o nível de instrução se desvencilhou da velha narrativa de segurança e se impregnou com o trabalho flexível. Frente ao
aumento da participação da população com nível superior no mercado de trabalho, observa -se que, num cenário de
redução das jornadas de trabalho, e sse nível de instrução começa a avançar de maneira tímida para as jornadas extensas,
embora se concentre nas jornadas de tempo integral. Outro fenômeno observado foi o comportamento inverso presente na
relação entre arrefecimento econômico e concentração da população em jornadas de tempo integral.
Palavras-chave: Atemporalidade do trabalho; capital financeiro; jornada de trabalho.
TIMELESSNESS OF WORK, VIOLENCE OF CAPITAL AND THE EXPANSION OF WORKING HOURS
Abstract
Work as a timeless phenomenon. Work and creativity. Labor under attack by capital. The new world of work and the forms of
resistance of male and female workers. It highlights the changes faced by the world of work in face of the forms of
flexibilization and precariousness introduced by the globalization model in course in the world. The statistics that show the
growth of unemploy ment in Brazil in the last decade are pres ented. The work modalities introduced by the labor legislation
that c reate the worker without rights are analyzed, widening the precariousness of work and the social lack of workers’
protection. Reflections are developed on changes that brought to the domination of capital over labor not only the
technological modernization characteristic of neoliberalism, but also the options that were imposed to the working class in
the context of these changes. It intends to pres ent a different look at the existing empirical relationship between schooling
and work, having as object the working hours, as they express in a unique way the social manifestation of work. In face of so
many transformations, the level of education got rid of the old security narrative and b ecame impregnated with flexible work.
Before the increase in the participation of the population with higher education in the labor market, o ne observes that, in a
scenary of reduction in working hours, this level of education begins to move timidly towards long hours, although it is
concentrated on full-time hours. Another phenomenon observed was the inverse behavior present in the relationship
between the economic downturn and the concentration of the population in full-time hours.
Keywords: Timelessness of work; Financial capital; Working journey.
Artigo recebido em: 14/02/2022 Aprovado em: 27/04/2022
1
Professora do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas (UFMA). Doutora em Ciências Sociais (UFRN). Pós -
Doutorado em Sociologia (UnB). candidacosta@uol.com.br.
2
Professor Aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Ciência Política. Doutor em Educação
FAE/UFMG. atroh@uol.com.br.
3
Professor Titular do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília. Doutor em Sociologia - University of Texas
System (1978). Pós-doutorados na Itália, França, Estados Unidos e Mexico sadi@unb.br.
Cândida da Costa, Carlos Roberto Horta e Sadi Dal Rosso
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1 INTRODUÇÃO
O debate acerca do lugar do trabalho no mundo não é novo. Entretanto, nas três últimas
décadas, tem sido recolocado em novas bases, a ponto de suscitar questionamentos sobre a sua
centralidade.
Neste artigo, pretende-se abordar a nova dinâmica em desenvolvimento no mundo do
trabalho, a violência do capital sobre o trabalho e ampliação das jornadas de trabalho. Tal abordagem
parte da definição conceitual do trabalho, do mundo do trabalho para dirigir-se às transformações em
curso no mundo do trabalho.
Historicamente, a violência do capital sobre o trabalho se manifesta pela proibição das
greves, prisões de líderes, além da construção de políticas que desvalorizam o trabalho e trazem o
aumento do desemprego. Este, que tanto cresceu nas economias capitalistas desde o final do século
XX se explica por “escolhas” desde a clara opção por ele, no âmbito da formulação de políticas
econômicas, passando pela questão das inovações tecnológicas, da automação e da reestruturação
empresarial, até as contradições no campo do capital, tanto produtivo, quanto das suas relações com o
capital especulativo, atualmente hegemônico.
As mudanças verificadas no processo produtivo e também na reestruturação das
empresas, no contexto de recessão econômica, provocaram forte precarização do trabalho,
viabilizando propostas de desregulamentação e de flexibilização, abrindo espaço para a defesa da
privatização, processos que estão relacionados com a desindustrialização, a qual, por sua vez, está
envolvida com um crescimento explosivo do mercado informal.
No Brasil, esta situação se repete, agravada pelas condições típicas de país do terceiro
mundo, onde o poder de interferir na formulação de políticas está sempre mais concentrado nos pontos
mais altos da escala social. Independentemente do fato de que, há já algum tempo, a maioria das
pesquisas de opinião aponta o desemprego como o maior problema do país nos dias de hoje, é
imperativo discutir profundamente a questão, sob todos os aspectos que com ela tenham relação.
Há concepções presentes no senso comum que, por estarem tão envolvidas com os
nossos códigos do cotidiano, perdem a sua visibilidade como fatores integrantes de um contexto
favorável ao desemprego. Concepções voltadas para uma visão administrativa do mundo do trabalho,
numa perspectiva empresarial, dificultam as possíveis soluções para o problema do desemprego, e
passam como portadoras de uma pretensa neutralidade, que vai desaguar em visões conformistas com
relação ao desemprego e às suas consequências sociais.

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