Autonomia: o resgate do sujeito de direito por trás do paciente
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Autonomia:
o resgate do sujeito de direito
por trás do paciente
Não há nada de mais sedutor para o homem que o livre
arbítrio, mas também nada de mais doloroso.48
Dostoiévski
O CARÁTER POSITIVISTA DA MEDICINA
No capítulo anterior, armou-se a urgência da autodetermi-
nação do paciente. Há necessidade, pois, de se realizar respectivo
estudo. Para tanto, proceder-se-á a uma análise de estrutura da
relação atual entre a medicina e seu objeto de conhecimento, com
um breve e genérico ensaio epistemológico.
De fato, com essa análise, revela-se clara a imposição ao pa-
ciente do status de mero objeto, quando não é respeitada a sua
vontade no tratamento.
Em termos genéricos, o exercício da ciência, segundo o mo-
delo positivista, pode ser ilustrado com o seguinte esquema:
48 DOSTOIÉVSKI, Fiódor M. Os irmãos Karamazov. Trad. Natália Nunes e
Oscar Mendes. Rio de Janeiro: abril, 1971, p. 190.
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Brunello Stancioli
SUJEITO
OBJETO
(observação, compreensão,
dominação)
Figura 1 – Relação cognitivo-cientíca
Podem ser dados exemplos de aplicação desse modelo po-
sitivista (de ciência), pertencentes a áreas alheias à medicina: o
físico tentava dominar a natureza, observando suas regularidades
e traçando leis; o cientista social procedia igualmente em relação
à sociedade etc.
Na ciência médica, a situação agrava-se, pois seu objeto
coincide com o ser humano:
MÉDICO
PACIENTE
(observação, compreensão,
dominação)
Figura 2 – Relação cognitivo-cientíca na medicina
Ocorre, portanto, uma “objeticação” do homem.49
49 O neologismo pareceu inevitável, pois não foi encontrado vocábulo, em
português, que designasse a “condição de tornar objeto”. Assim, lançou-
se mão dos vocábulos latinos objectume facere(fazer objeto) para cunhar
tal palavra. A língua inglesa emprega o equivalente objectication, ampla-
mente utilizado na doutrina bioética.
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