Babel - vista dos anacronismos da revista

AutorLuísa Cristina dos Santos Fontes
Páginas81-92
BABEL – VISTA DOS ANACRONISMOS DA REVISTA
Luísa Cristina dos Santos Fontes
Em um de seus contos mais conhecidos, “A Biblioteca de Babel”, que
integra o livro Ficções – de 1944, Borges constrói uma “situação filosófico-
narrativa”, na expressão de Beatriz Sarlo1, para explicar a realidade como uma
biblioteca sem fim que abriga uma quantidade também infinita de livros, em sua
maioria, inúteis. Um dos bibliotecários, narrador do conto, explica que se supõe
que cada volume contenha uma possibilidade de realidade, por isso a busca por
alguém que consiga decifrar os volumes escritos em línguas desconhecidas.
Talvez o cerne de toda a obra borgiana, na realidade (se é que essa expressão
tem algum efeito falando de Borges), absolutamente presente em Ficções, mais
ainda no conto “A Biblioteca de Babel”, seja a questão do real e sua relação com a
linguagem. “A Biblioteca de Babel” é o universo, um caos insolitamente ordenado
e inesgotável, onde cada homem pode encontrar justificativas para sua própria
existência. “Não há, na vasta Biblioteca, dois livros idênticos... a biblioteca é total e
suas prateleiras registram todas as possíveis combinações dos vinte e tantos
símbolos ortográficos (número, ainda que vastíssimo, não infinito), ou seja, tudo o
que é dado a expressar: em todos os idiomas. Tudo: a história minuciosa do
futuro, as autobiografias dos arcanjos, o catálogo fiel da Biblioteca, milhares e
milhares de catálogos falsos, a demonstração da falácia do catálogo verdadeiro, o
evangelho gnóstico de Basílides, o comentário desse evangelho, o comentário do
comentário desse evangelho ...”
Não consta que, para o escritor argentino, profeta da web, refém do
presente2, existisse algo externo à biblioteca. Ela é, portanto, tudo o que há, tudo
o que existe. Entretanto, a biblioteca não passa de palavras, ela não pode
1 In TITAN JR., Samuel. Arsenal coeso e poderoso de idéias. Caderno 2. Cultura. O Estado de S. Paulo, 25 de
novembro de 2007. p. D10.
2 No dizer de Leyla Perrone-Moisés. Caderno 2. Cultura. O Estado de S. Paulo, 25 de novembro de 2007. p.
D11.

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