Bancos públicos e política anticíclica: uma análise exploratória com indicadores de alavancagem e liquidez da Caixa, Banco do Brasil e BNDES, no período de 2005 a 2014

AutorDaniel de Santana Vasconcelos - Ana Paula Klaumann - Andrey Hamilka Ipiranga
CargoUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Páginas26-49
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8085.2018v21n2p26
Rev. Text. Econ., Florianópolis, v. 21 n. 2, p. 01 25, abr/out. 2018 ISSN 217 5-8085
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Bancos públicos e política anticíclica: uma análise exploratória
com indicadores de alavancagem e liquidez da Caixa, Banco do
Brasil e BNDES, no período de 2005 a 2014
State Owned Banks and anti-cyclical policy: an analysis of leverage and liquidity indicators
from Caixa, Banco do Brazil and BNDES, in the period from 2005 to 2014
Daniel de Santana Vasconcelos,
daniel.s.vasconcelos@ufsc.br
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Ana Paula Klaumann
anaklaumann96@gmail.com
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Andrey Hamilka Ipiranga
andrey.ipiranga@yahoo.com
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Resumo: O presente trabalho avalia o uso de bancos p úblicos na promoção de ações anticíclicas, no contexto
da economia brasileira após a Crise de 2008, a partir de um referencial teórico pós-keynesiano. A utilização de
bancos públicos na promoção do desenvolvimento e como parte do arsenal anticíclico de governos é bastante
discutida nessa literatura. O trabalho analisa indicadores de alavancagem e liquidez da CEF, Banco do Brasil e
BNDES no períod o de 2005 a 2014 , levando em conta as condições financeiras desses bancos no período e sua
atuação nas políticas anticíclicas de concessão de crédito no pós-crise de 2008. O artigo conclui q ue os três
bancos públicos brasileiros ass umiram um perfil financeiro mais arriscado, refletindo sua participação no
conjunto de políticas anticíclicas tomadas no momento em que o setor bancário privado entrava no processo de
empoçamento de liquidez pós-crise.
Palavras-Chave: Bancos Públicos; Políticas Anticíclicas; Alavancagem Financeira; Liquidez
Códigos JEL: E52; E61; E63.
Abstract: This paper eva luates the use of state owned banks in the promotion of countercyclical policy for the
Brazilian economy after the 2008 Crisis, based on a post-keynesian theoretical framework. The use of state
owned banks in promoting development and as part of the countercyclical arsenal of governments is much
discussed in this literature. The paper analyzes the indicators of leverage and liquidity of CEF, Banco do Brazil
and BNDES in the period from 2005 to 2014, taking into account the financial conditions of these banks in tho se
years and their performance in countercyclical credit policies in the post-crisis of 2008. The article concludes
that the three Brazilian state owned banks had taken a more risky finan cial profile, reflecting their participation
in the set o f countercyclical policies taken when the private banking sector entered the process of post-crisis
flight to liquidity.
Keywords: State Owned Banks; Countercyclical Economic Policies; Financial Leverage; Liquidity
JEL Codes: E52; E61; E63
Recebido em: 21-02-2018. Aceito em: 16-04-2018.
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8085.2018v21n2p26
Rev. Text. Econ., Florianópolis, v. 21 n. 2, p. 01 25, abr/out. 2018 ISSN 217 5-8085
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1. INTRODUÇÃO
A necessidade de investimentos para a dinamização econômica das economias
modernas passa, como coloca Gershenkron (1962), pela disponibilidade de fontes de
financiamento que complementem os mecanismos de autofinanciamento. Já nos anos 1950
Gurley e Shaw (1955) enfatizavam as questões que ligam o desenvolvimento a um sistema
financeiro nacional dinâmico e diversificado. Zysman (1983) coloca que não há modelo ideal
de sistema financeiro, seja ele baseado em mercado de capitais ou no crédito bancário para o
financiamento de longo prazo. Esses autores afirmam o papel fundamental dos canais de
financiamento que possibilitam a mudança estrutural ligada ao desenvolvimento.
O papel de um sistema bancário no processo de desenvolvimento econômico é objeto
de análise em diversos estudos sob a perspectiva teórica pós-keynesiana. No caso de países
onde os sistemas financeiros não apresentam o grau de maturidade ou o perfil de aptidão para
assumir os riscos de investimentos de longa maturação, parece claro que se faz necessário que
tais deficiências sejam cobertas pela ação do Estado, em particular via bancos públicos.
1
Carvalho (2005), Cintra (2005), Hermann (2009a; 2009b) avaliam especificamente o papel
dos bancos públicos e sua relação com o desenvolvimento. Hermann (2010) e Carvalho
(2010)
2
discutem os papeis do sistema financeiro e em especial dos bancos públicos na
promoção de financiamento para o processo produtivo e o investimento com vistas ao
desenvolvimento econômico brasileiro. Cordeiro (2015) também avalia a atuação dos bancos
públicos brasileiros especialmente no pós-crise de 2008.
Para Hermann (2009a; 2010), várias são as características do desenvolvimento
econômico que podem justificar a ação de bancos públicos no processo de financiamento,
entre os quais destacam-se: i) a “incompletude” do mercado financeiro no que tange às
necessidades de investimento, ligadas às elevadas incertezas associadas a investimentos de
longo prazo em países em desenvolvimento; ii) a necessidade de autonomia financeira para a
implementação de políticas de desenvolvimento, com os bancos públicos possuindo maior
1
Daqui por diante, a expressão “bancos públicos” será utilizada sempre para referir-se a bancos que sejam
puramente estatais o u de economia mista nos quais o governo detenha a maior parte das ações, constituindo -se,
nesse se ntido, em seu efetivo controlador societário. Na literatura em inglês, são o equivalente a state o wned
enterprises. Para fins do presente trabalho, portanto, a Caixa Econômica Federal (CEF), o Banco do Brasil (BB)
e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) constituem bancos públicos, sem levar
em conta maiores detalhes sobre sua forma de organização em termos legais.
2
Esses dois textos encontram-se em IPEA (2010), respectivamente nos capítulos 9 e 10. Embora os respectivos
capítulos não contenham as autorias, estas são informadas na abertura (“Agradecimentos”) do referido volume.
Doravante, vamos nos referir diretamente aos autores dos capítulos.

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