Barcarolas do boca livre - velejando por águas arcádias

AutorTiago Hermano Breunig
Páginas205-212
BARCAROLAS DO BOCA LIVRE: VELEJANDO POR ÁGUAS
ARCÁDICAS
Tiago Hermano Breunig
Antes de embarcar, é imprescindível esclarecer estar se tratando não de objetos
relacionados à embarcações, como pode parecer. Barcarola deriva do italiano barcarola
e denota canção romântica dos gondoleiros de Veneza; peça vocal ou instrumental cujo
ritmo ternário sugere o balançar de uma barca sobre as águas ou um tipo de cantiga
trovadoresca de influência italiana, que se referia a assuntos marítimos.
Proponho-me aqui a traçar um paralelo, extraindo os elementos comuns, entre
fragmentos poéticos encontrados no álbum Boca Livre, do grupo vocal carioca
homônimo, datado de 1979 e o movimento literário denominado arcadismo, a partir de
textos teórico-literários do ensino médio e superior, com o intuito de sugerir a utilização
desta relação em salas de aula, estimulando o prazer inerente ao reconhecimento e
provocando o interesse dos alunos com uma produção poética mais próxima de sua
realidade e seu tempo.
De Arcádia, mítica região da Grécia habitada por pastores chefiados por Pan,
dedicados ao pastoreio e à poesia, provém o termo que vai definir o movimento literário
que tem na natureza o objeto de sua poesia. Inserido no século XVIII, o século das
Luzes, o Arcadismo está estreitamente relacionado ao Iluminismo, mas especialmente
como expressão de uma estrutura social que se traduz, segundo Saraiva, em críticas à
ordem social vigente implícitas ou explícitas no Iluminismo, compreendidas como
negação das desigualdades e a afirmação de que a sociedade é produto do arbítrio e
deve ser racionalmente reformada 1, daí Merquior compreendê-lo como o primeiro
período ideologicamente articulado 2.
Como reação à morte de Pan e a conseqüente dessacralização da natureza,
cultuando a teoria aristotélica da arte como imitação daquela que, segundo Proença
Filho, aparece supervalorizada, tornando-se centro das atenções, como paisagem e sede
de uma vida estranha e exótica, povoada de pastores e pastoras, em contraste com a vida

1 SARAIVA, História da literatura portuguesa. p.90.
2 MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979,
p.24.
205

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT