'Arthur Bispo do Rosário está voltando': patrimonialização e memória na invenção de um personagem ilustre
| Autor | Viviane Trindade Borges |
| Páginas | 73-90 |
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 18, n. 26, p. 73-90, dez. 2011.
DOI: 10.5007/2175-7976.2011v18n26p73
“ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO ESTÁ VOLTANDO”:
PATRIMONIALIZAÇÃO E MEMÓRIA NA INVENÇÃO
DE UM PERSONAGEM ILUSTRE
Viviane Trindade Borges*
Resumo: O presente artigo objetiva problematizar a invenção de um
personagem ilustre, observando as estratégias de patrimonialização traçadas
patrimônio. O personagem em questão é Arthur Bispo do Rosário, que por
50 anos viveu como internado em um manicômio no Rio de Janeiro em total
reconhecido nacional e internacionalmente. Em 2004, sua cidade natal,
Japaratuba (SE) ergueu um memorial em sua homenagem, o qual passou a
abrigar seus restos mortais. O processo que liga Bispo à Sergipe é marcado
conferir reconhecimento a um artista até então desconhecido em sua cidade
o personagem como lugar de memória.
Palavras-chave: Bispo do Rosário. Patrimonialização. Lugar de memória.
Japaratuba. Sergipe.
Abstract: This paper aims to analyze the invention of an illustrious personage,
noting how he became a cultural heritage in its hometown. The character in
question is Arthur Bispo do Rosario, who lived for 50 years and hospitalized
in a mental hospital in Rio de Janeiro in total anonymity and that after his
death was established as a contemporary artist recognized nationally and
internationally. In 2004, his hometown, Japaratuba (SE) erected a memorial
in his honor, which has housed his remains. The process that connects to the
* Professora do Departamento de História da Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC). Pesquisadora do Laboratório de Patrimônio Cultural da UDESC e do Centro de
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 18, n. 26, p. 73-90, dez. 2011.
Bispo and Sergipe is marked by assigning new values, meanings, uses and
meanings that sought to give recognition to an artist hitherto unknown in his
hometown, working directly in the construction of an asset value that sets the
character as a memory site.
Keywords: Bispo do Rosario. Cultural heritage. Memory sites. Japaratuba,
Sergipe.
O livro “501 Grandes Artistas”, de Stephen Farthing1, tem a pretensão
artistas de todos os tempos”, perpassando desde a Antiguidade clássica aos
Entre os biografados, nomes como Leonardo da Vinci, Michelangelo,
Jackson Pollock, Damien Hirst, Debret, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti e
Arthur Bispo do Rosário.
nomes da arte, faleceu em julho de 1989, na Colônia Juliano Moreira, antigo
manicômio carioca, depois de 50 anos de internamento, sem nunca ter recebido
uma única visita. Seu corpo foi sepultado numa cova simples, do tipo que era
Pechincha, em Jacarépagua, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro.
O que hoje é tido como arte era por Bispo considerado um fardo, uma
Cristo e que a voz que lhe ordenava era a de Nossa Senhora, exigindo que ele
cumprisse sua tarefa, ou seja, recriar o universo a espera do Juízo Final. Como
resultado, ele compôs uma série de miniaturas e bordados que contavam a
história do homem na terra.
passaram a ser entendidas como arte e Bispo saiu do anonimato para a
espaços nacionais como o MAM do Rio de Janeiro, e internacionais,
participando de mostras nos EUA, México, Espanha e França. O trabalho de
Bispo ilustrou uma capa de Cd2, foi tema de peças de teatro3, documentários4 e
5, inspirou enredos e escolas de samba por todo o país6
e despertou o interesse da academia, suscitando estudos em diferentes áreas.7
Rio de Janeiro. Em 2001 Bispo ganhou um Museu em sua homenagem dentro da
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