O BOM, O ABJETO E O CÔMICO: CONSTRUÇÃO VISUAL DAS MASCULINIDADES NA ANIMAÇÃO ALADDIN (1992)

AutorJoão Paulo Baliscei, Geiva Carolina Calsa
Páginas184-203
GÊNERO|Niterói|v.19|n.1|184 |2. sem.2018
O BOM, O ABJETO E O CÔMICO: CONSTRUÇÃO VISUAL
DAS MASCULINIDADES NA ANIMAÇÃO ALADDIN (1992)1
João Paulo Baliscei2
Geiva Carolina Calsa3
Resumo: O objetivo proposto neste estudo foi o de analisar como os sistemas
de representação, especificamente os filmes de animação, têm investido na
construção visual de identidades masculinas. Debruçou-se sobre os Estudos
das Masculinidades para investigar a construção visual de nove personagens
masculinos da animação Aladdin (1992), produzida pela Disney. Três eixos
analíticos foram apresentados e revelam relações estabelecidas entre a) o vilão e
outros personagens coadjuvantes; b) o herói e outros personagens coadjuvantes;
e c) o herói e o vilão. As interpretações associaram o herói/bom à Masculinidade
Hegemônica; o vilão/abjeto à Masculinidade Subordinada; e coadjuvantes/
cômicos às Masculinidades Cúmplices e Marginalizadas.
Palavras-chave: Gênero; Visualidade; Disney.
Abstract: The objective of this study was to analyze how the systems of
representation, specifically the animated movies, have invested in the visual
construction of masculine identities. Was used the Masculinities Studies to
analyze the visual construction of nine male characters of animated movie
Aladdin (1992), produced by Disney. Three analytical axes have been presented
that reveal the relations established between a) the villain and other supporting
characters; b) the hero and other supporting characters; and c) the hero and the
villain. Interpretations associated the hero/good with Hegemonic Masculinity;
the villain/abject to Subordinate Masculinity; and the supporting characters/
comedians to the Complicit and Marginalized Masculinities.
Keywords: Gender; Visuality; Disney.
Introdução
Sob um viés construtivista, entendemos que os gêneros são construções
elaboradas e reelaboradas, sobretudo, nas relações sócio-culturais que
legitimam, denunciam e problematizam o que é tido como adequado ou não
1 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-
rior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.q.
2 Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Maringá. Professor da Universidade Estadual de Maringá.
E-mail: vjbaliste@gmail.com.
3 Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Professora Adjunta da Universidade Estadual
de Maringá. E-mail: gccalsa@hotmail.com.
p.184-203
GÊNERO|Niterói|v.19|n.1| 185|2. sem.2018
aos comportamentos dos indivíduos. Logo, “ser homem” ou “ser mulher” pode
ser compreendido mais como uma identidade de projeto individual e coletivo, e
menos como um dado natural, fixo e homogêneo - como pressupõem as teorias
sociobiológicas e essencialistas das quais procuramos nos afastar. Concordamos
com Louro (1997, p.21) que não são as características sexuais propriamente ditas
“[...] mas é a forma como essas características são representadas ou valorizadas,
aquilo que se diz ou se pensa sobre elas que vai constituir, efetivamente, o que é
feminino ou masculino em uma dada sociedade e em um dado momento histórico”.
Para demonstrar a transitoriedade do gênero e as modificações que a cultura
pode lhe proporcionar, Perry (2018), por exemplo, recorre à história da cor rosa,
que antes do século XIX fora atribuída aos garotos, e que hoje é demasiadamente
utilizada para identificar objetos, espaços, roupas e corpos femininos. O fato
de em outras épocas os meninos usarem roupas e objetos rosa, explica o autor,
pode ser associado aos uniformes vermelhos que os homens adultos usavam.
Nesse caso, a cor rosa - um vermelho mais claro - caracterizava um menino que
provavelmente se tornaria homem. A modificação no uso da referida cor, ainda
segundo o autor, pode ser associada à expansão do consumismo, a estratégias
publicitárias e a influência de ícones femininos que contribuíram para que o rosa,
gradualmente, fosse vinculada às garotas.
Na década de 1950, por exemplo, Mamie Eisenhower (1896-1979) foi
um dos ícones femininos que contribuiu para que os significados da cor rosa
fossem modificados. A esposa do então presidente dos Estados Unidos aparecia
constantemente com vestidos e acessórios rosas, vinculando à cor a elegância e
sensibilidade feminina. O seu gosto pela cor apareceu também na cozinha e em
outros cômodos da casa Branca que foram pintados e decorados de rosa. Além disso,
quando viajava acompanhando o marido, Mamie solicitava que as habitações fossem
pintadas e decoradas de rosa para que pudesse se sentir em casa (PERRY, 2018).
A história da cor rosa e de outros signos que colam significados a corpos
masculinos e femininos são exemplos de que o gênero, como propõe o movimento
feminista desde o século XIX, é uma identidade relacional, isto é, que se forma
e se transforma nas interações com as diferenças. Contudo, numa análise
especificamente sobre masculinidades, ao contrário do que se poderia supor, as
diferenças não são integradas exclusivamente pelas identidades femininas, mas
também pelos homens que expressam masculinidades desiguais entre si.
A masculinidade, como explica Connell (1997)4, pode ser definida como as
práticas pelas quais homens e mulheres se comprometem com essa identidade de
gênero, e como os efeitos que essas práticas ocasionam na experiência corporal,
individual e coletiva. Sobre isso, concordamos com Connell (1997, p.39) que
afirma que:
4 Ainda que na autoria dos artigos e livros referenciados a autoria de Connell seja indicada por seu nome civil
masculino - Robert William Connell - , em respeito à sua identidade de gênero, utilizamos pronomes e substantivos femininos
para nos referirmos à autora, agora uma mulher transexual, conhecida por Raewyn Connell.
p.185-203

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT