O Brasil de bolsonaro

AutorFabio Luis Barbosa dos Santos
CargoDoutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Pós-Doutorado no centro Genre, Travail, Mobilités, Centre de Recherches Sociologiques et Politiques de Paris (GTM-CRESPPA)
Páginas448-470
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 45, n. 250, p. 448-470, maio/ago., 2020 | ISSN 2447-861X
O BRASIL DE BOLSONARO
Bolsonaro´s Brazil
Fábio Luis Barbosa dos Santos
Universidade Federal de São Paulo, Brasil
Informações do artigo
Recebido em 28/07/2020
Aceito em 25/10/2020
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2020.n250.p448-470
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Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
SANTOS, F. L. B. O Brasil de Bolsonaro. Cadernos do
CEAS: Revista Crítica de Humanidades.
Salvador/Recife, v. 45, n. 250, p. 448-470, maio/ago.
2020. DOI: https://doi.org/10.25247/2447-
861X.2020.n250.p448-470
Resumo
Este texto discute a conjuntura brasileira no início do
segundo ano do governo Bolsonaro, quando eclodiu a
pandemia do coronavírus. O artigo se organiza em três
seções. Na primeira parte, é analisada a natureza das
gestões presidenciais petistas como premissa para
interpretar a derrocada do partido, entre o impeachment
de Rousseff em 2016 e a prisão de Lula dois anos depois.
A segunda seção analisa o significado da eleição de
Bolsonaro à luz das movimentações da classe dominante
que estão em curso, bem como o projeto político do ex-
capitão. A última seção examina os dilemas que a
esquerda enfrenta na presente conjuntura. Entende-se
que, para além dos personagens envolvidos, os
acontecimentos recentes da política brasileira devem ser
analisados à luz de uma inflexão das classes dominantes
em uma direção que compromete a institucionalidade
associada à Nova República. Discutem-se as causas desta
inflexão, suas principais expressões políticas e os desafios
que coloca para a esquerda.
Palavras-Chave: Brasil. Bolsonaro. Nova República.
Partido dos Trabalhadores.
Abstract
Bolsonaro government, when the coronavirus pa ndemic
broke out. The article is organized into three sections. In
the first part, the nature of PT's presidential
administrations is analyzed as a premise to interpret the
collapse of the party, between the impeachment of
Rousseff in 2016 and the arrest of Lula two years later.
The second section analyzes the significance of
Bolsonaro's election in light of the ongoing movements
of the ruling class, as well as the former captain's political
project. The last section examines the dilemmas that the
left faces at the present juncture. It is understood that, in
addition to the characters involved, recent events in
Brazilian politics must be analyzed in the light of an
inflection of the dominant classes in a direction that
compromises the institutionality associated with the
New Republic. The causes of this inflection, its main
political expressions and the challenges it poses to the
left are discussed.
Keywords: Brazil. Bolsonaro. New Republic. Worker´s
Party (PT)
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 45, n. 250, p. 448-470, maio/ago., 2020
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O Brasil de Bolsonaro | Fábio Luis Barbosa dos Santos
Introdução
Este texto discute a conjuntura brasileira no início do segundo ano do governo
Bolsonaro, quando eclodiu a pandemia do coronavírus. O artigo se organiza em três seções.
Na primeira parte, é analisada a natureza das gestões presidenciais petistas como premissa
para interpretar a derrocada do partido, entre o impeachment de Rousseff em 2016 e a prisão
de Lula dois anos depois. A segunda seção analisa o significado da eleição de Bolsonaro à luz
das movimentações da classe dominante que estão em curso, bem como o projeto político
do ex-capitão. A última seção examina os dilemas que a esquerda enfrenta na presente
conjuntura. Entende-se que, para além dos personagens envolvidos, os acontecimentos
recentes da política brasileira devem ser analisados à luz de uma inflexão das classes
dominantes em uma direção que compromete a institucionalidade associada à Nova
República. Discutem-se as causas desta inflexão, suas principais expressões políticas e os
desafios que coloca para a esquerda.
A natureza das gestões petistas
Embora a chamada ‘onda progressista’ sul-americana fosse identificada
corretamente em seu momento como uma reação ao neoliberalismo, é difícil sustentar que
a prática petista dele se distanciou. No plano macroeconômico, o tripé meta inflacionária,
superávit primário e câmbio flexível, estabelecido pelo plano de estabilização conhecido
como ‘Plano Real’ em 1994, foi mantido. Esta arquitetura da austeridade foi complementada
pela lei de responsabilidade fiscal: combatida pelo PT quando FHC a implementou em 2000,
a lei permaneceu intocada e, em uma ironia da história, forneceu o pretexto para o processo
de impeachment contra Rousseff em 2016.
Por outro lado, se compreendermos o neoliberalismo como uma tecnologia de
governo das pessoas presidida pelo princípio da concorrência (DARDOT; LAVAL, 2010), a
continuidade é igualmente evidente. As gestões pet istas promoveram a inclusão pelo
consumo como solução para problemas sociais - uma via individual, que mercantiliza direitos.
Mesmo o Bolsa Família, principal programa social petista, apenas consolidou esquemas
implementados sob FHC e expandiu sua cobertura. Como se sabe, o PRI mexicano foi
pioneiro em implementar um programa desta natureza, depois da fraude eleitoral de 1988.
Recentemente, diante da pandemia do coronavírus, o governo Bolsonaro se comprometeu a

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