O Brasil na reestruturação produtiva da manufatura avançada: políticas, ações e desafios

AutorFábio Luiz Tezini Crocco
CargoÉ professor do Departamento de Humanidades (IEFH) do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e membro do Laboratório de Cidadania e Tecnologias Sociais (LabCTS)
Páginas576-600
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 257, p. 576-600, set./dez. 2022 | ISSN 24 47-861X
O BRASIL NA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DA MANUFATURA
AVANÇADA: POLÍTICAS, AÇÕES E DESAFIOS1
Brazil in the productive restructuring of advanced manufacturing: policies, actions
and challenges
Fábio Luiz Tezini Crocco
Departamento de Humanidades (IEFH) do Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA), São Pau lo, Brasil
Informações do artigo
Recebido em 28/12/2022
Aceito em 03/03/2023
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n257.p57 6-600
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CROCCO, Fábio Luiz Tezini. O Brasil na reestr uturação
produtiva da manufatura avançada: políticas, ações e
desafios. Cadernos do CEAS: Revista Crítica de
Humanidades. Salvador/Recife, v. 47, n. 257, p. 576-600,
set./dez. 2022. DOI: https://doi.org/10.25247/2447-
861X.2022.n257.p576-600
Resumo
A partir da segunda década do século XXI, vivenciamos o
acirramento da concorrência global e o florescim ento de novas
estratégias produtivas e organizacionai s de desenvolvimento
pautadas no incentivo à ciência, à tecnolog ia e à inovação. Para
compreender as particularidades dessa nova fase política e
econômica do capitalismo global e do engajamento do Brasil
nesse processo, este artigo analisa o que denominamos d e
Reestruturação Produtiva da Manufatura Avançada (R PMA). As
reflexões estão amparadas em investigação bibliográfica
exploratória e em pesquisa de campo, a partir de entrevistas
semiestruturadas com atores diretamente relacionados à
produção e à pesquisa da Manufatura Avançada. Os resultados
da investigação demonstram que apesar das proposições
políticas e das ações nacionais públicas e privadas sintonizadas
com a nova reestruturação produtiva e organizacional, o Brasil
carece de uma estratégia de desenvolvimento m ultisetorial
robusta e meios políticos e econômicos para efeti vá-la, além de
defrontar-se com antigos e persistentes desafios políticos,
infraestruturais e socioeconômicos.
Palavras-Chave: Capitalismo. Competitividade. Tecnologias.
Trabalho. Desenvolvimento.
Abstract
Since the second decade of the 21st century , we have
experienced the intensification of global competi tion and the
flourishing of new productive and organizational development
strategies based on the promotion of science, technology and
innovation. In order to understand the parti cularities of this new
political and economic phase of global capitalism and Brazil's
engagement in this process, this article analyzes wha t we call
the Productive Restructuring of Advanced Manufacturing
(RPMA). The reflections are based on exp loratory bibliographic
research and field research, based on semi -structured interviews
with actors directly related to production a nd research in
Advanced Manufacturing. The research results show that despite
the political propositions and the public and private national
actions in tune with the new productive and org anizational
restructuring, Brazil lacks a robu st multi-sector development
strategy and political and economical means to implement it,
besides facing old and persistent political, infrastructural and
socioeconomic challenges.
Keywords: Capitalism. Competitiveness. Technologies. Work.
Development.
1 Este trabalho contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP
(Processo 2019/01303-3).
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 257, p. 576-600, set./dez. 2022.
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O Brasil na reestruturação produtiva da manufatura avançada: políticas, ações e desafios | Fábio Luiz Tezini Crocco
INTRODUÇÃO
A partir da segunda década deste século, como resultado da retração da taxa de lucro
do capital, agravada pela crise econômica de 2008, notamos o acirramento da concorrência
econômica global e, consequentemente, da intensificação de processos prévios relacionados
à aquisição de competitividade a partir de fatores tecnocientíficos e da flexibilização
produtiva, organizacional e laboral.
Denominamos essa nova fase de desenvolvimento político e econômico das forças
produtivas e de reconfiguração das relações de produção de Reestruturação Produtiva da
Manufatura Avançada (RPMA2).
Ela não é simplesmente uma disrupção tecnocientífica aplicada à produção e à
organização empresarial, mas um processo de continuidade e descontinuidade na lógica
concorrencial e expansionista do capitalismo.
Esse processo estrutural é popularmente identificado nas discussões da Manufatura
Avançada, Indústria 4.0 e Quarta Revolução Industrial e sustenta-se no desenvolvimento de
tecnologias com foco na digitalização, integração, automação e controle dos processos
produtivos e gerenciais. Mas não tratamos aqui, diretamente, das suas ditas tecnologias
convergentes e habilitadoras, mas de plataformas, estratégias e políticas nacionais e
internacionais de desenvolvimento que visam redefinir os padrões produtivos, aumentar a
eficiência e a produtividade das empresas e, consequentemente, ampliar suas capacidades
de competir nos mercados local e global.
Estamos no início desse processo, mas já observamos, principalmente nas grandes
empresas multinacionais, a implementação da RPMA e seus efeitos na produção, na gestão
e no trabalho. Dentre outros fatores relativos à RPMA, notamos transformações produtivas
e organizacionais intra e extrafábrica, a partir da constituição de processos enxutos e
digitalizados (Lean Production Digital) sustentados na vigilância, no controle e no
gerenciamento algorítmico da informa ção promovidos pelo Kanban digital-informacional.
Globalmente combinada, a RPMA potencializa a competição política e econômica
entre empresas, trabalhadores e nações e reforça formas desiguais de desenvolvimento
2 O acrônimo RPMA será utilizado ao longo do texto como referência à Reestruturação Produtiva d a Manufatura
Avançada.

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