Canudos
| Autor | Pedro Paulo Filho |
| Ocupação do Autor | Formado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, foi o 1º presidente da 84ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil |
| Páginas | 90-94 |
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Após a proclamação da República, o Conselheiro ficou desgostoso, pois era monarquista e, por isso, preferiu recolher-se em local tranqüilo onde pudesse encontrar a paz para si e para as famílias que o acompanhavam na construção de cemitérios e igrejas.
Observou Manoel Benício que a procissão que o seguia "era um numeroso magote de ciganos, errando por países estrangeiros. Aleijados, doidos, donzelas, ladrões, doentes, assassinos, vagabundos,
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cantadores, macumbeiros, cegos, possessos, incestuosos, pobres, afortunados, prostitutas, a mais hedionda mescla que se pode aglomerar por monomania religiosa, estendia-se atrás do Conselheiro, o chefe, o pastor e o pai daquele ambulante Pátio dos Milagres".
Era ele o guia do fantástico comboio humano".12O Conselheiro escolheu Canudos, antiga fazenda de criação, às margens do Rio Vaza-Barris, abandonada completamente.
A escolha ocorreu em 1893.
O beato pregava contra a República e a Igreja o perseguia. Achava que o novo governo era um intruso, obra do Diabo. "Dizia "Ré-pública, mulher à toa".
A origem da denominação Canudos vinha de longe, porque sua gente gostava de fumar esquisitos cachimbos de barro, em canudos, de metro de extensão.
Inicialmente, o Conselheiro chamou o local de Belo Monte, mas o nome não pegou e aí Canudos conheceu um progresso vertiginoso, onde se construía doze casas por dia, de pau-a-pique, em três cômodos, mobiliadas toscamente. Cada um construía onde quisesse, sem qualquer alinhamento, sob a forma de mutirão.
Ali era fundado o Arraial do Bom Jesus.
Consignou José Antonio Sola que "as pessoas viviam tranquilamente sem temer o amanhã, o desemprego, o despejo ou a fome. Não havia nenhuma autoridade policial, pois não havia assaltantes".
A terra pertencia a todos e não eram arrecadados impostos de qualquer natureza. As mulheres tinham um papel de destaque na comunidade canudense. Dedicavam-se à confecção de objetos de cerâmica e artesanato caseiro.
Não existia prostíbulos, pois as mulheres não precisavam vender-se para ganhar a vida. O álcool era proibido, pois além de viciar os habitantes, poderia gerar brigas e desentendimentos.
Todos os moradores trabalhavam.
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Assim como o trabalho, a safra era dividida, segundo as necessidades. Apesar das pessoas não precisarem de dinheiro, as moedas e notas republicanas circulavam para negócios com as pessoas das cidades circunvizinhas.
O dinheiro arrecadado era recolhido em um cofre para ser usado na compra de...
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