O Rábula

AutorPedro Paulo Filho
Ocupação do AutorFormado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, foi o 1º presidente da 84ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil
Páginas83-85

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Observou Ataliba Nogueira que Antônio Vicente militou no foro de Campo Grande e Ipu como advogado provisionado.3"Tem-se dito que Antônio Conselheiro não conhecia senão a Bíblia - asseverou o jurista Miguel Reale - mas essa assertiva é absurda, bastando lembrar que se, como está comprovado, ele militou no foro, em Campo Grande e Ipu, como advogado provisionado, não pode ter deixado de estudar a legislação do País".4Anotou Roberto Pompeu de Toledo que Antônio Vicente "foi professor primário, comerciante e advogado prático - rábula é a palavra - antes de se tornar beato. Não era de família pobre, mas remediada. Não era um ignorante, mas tinha as suas letras".5Em estudo sobre as raízes da violência, Roland Corbisier escreveu que, alfabetizado por um amigo de seu pai, Antônio Vicente aprendera aritmética, geografia, latim e francês, revelando-se aluno estudioso e inteligente.

Já casado, mudou-se em 1859 para Sobral, onde foi Juiz de Paz. "Em Ipu foi solicitador e requerente do foro. Em Campo Grande exerceu então as funções de solicitador, quer dizer, advogado provisionado".

Em 1861, voltou a Ipu onde, defendendo os perseguidos e necessitados, vítima da prepotência dos poderosos, indispôs-se com as autoridades locais, mudando-se então para a Fazenda Santo Amaro, perto de Tamboril, onde retomou as atividades de professor (...) Conhecia a Bíblia, cujos versículos citava em latim, os Santos da Igreja, como São Jerônimo, São Basílio e São Cristóvão, teólogos como Santo Agostinho, São Boaventura e Santo Tomás.

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Conhecia também, e os citava, Homero e Eurípedes, Virgílio e Quintiliano. Hostilizado pela Igreja, empenhava-se para demonstrar que sabia tanto ou mais que os padres que o atacavam. Em suas "Prédicas aos Canudenses" e "Discurso sobre a República", publicados em 1974, cita Tomas Morus, em cuja "Utopia" se inspirou para construir Canudos.6Para Euclides da Cunha, Antônio Vicente, em 1859, mudando-se de Sobral, empregou-se como caixeiro, demorando-se pouco ali e então "segue para Campo Grande, onde desempenhava as funções modestas de escrivão de Juiz de Paz. Daí, sem grande demora, se desloca para Ipu. Faz-se solicitador ou requerente do foro".7Também José Antônio Sola confirmou que Antônio Vicente Mendes Maciel tornou-se requerente do foro em Ipu.8Bem falante, com algum conhecimento de leis - escreveu Paulo Dantas - como solicitador do foro, defende causas. Impressiona pelo belo talhe de letra, caligrafia, que deixou boa...

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