Capítulo 2 - Quando a alienação vinga ou não vinga
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CAPíTulo 2
QuANDo A AlIENAÇÃo VINGA ou NÃo VINGA
“O que faz com que eu me mantenha próximo da
minha lha são as memórias que a gente tem juntos.
Eu quero mais memórias, eu quero mais tempo,
quero car ao lado dela para fazer coisas juntos.”
– Fala de um pai que atendi no Tribunal
Caminho percorrido
Até hoje tenho notícia de pais órfãos de lhos vivos. Em todos os lugares onde
vou, nos congressos, nas palestras, nas aulas, sempre vem até mim um pai ou mãe e
conta sua história triste: que perdeu o convívio com os lhos por uma alienação, ini-
ciada na infância, onde o lho apresentava uma resistência ao convívio espontâneo
e natural porque pareciam sempre tensos, sempre preocupados como se estivessem
sendo vigiados e controlados pelo outro genitor. O efeito desse comportamento das
crianças que se protrai no tempo sem que haja a intervenção, no sentido de mudar esse
padrão, é que o vínculo com o genitor com quem a criança convive menos tempo vai
sendo, aos poucos, minado, vai gerando na criança uma insegurança de expressar o
amor que sente pelo genitor com quem convive menos tempo.
E aí vem o efeito do tempo… se passar muito tempo e em se mantendo esse con-
vívio aparentemente satisfatório (e é só aparente), o efeito será um vínculo fragilizado
e início do comportamento de recusa do adolescente a ter contato com o genitor com
quem convive menos, ao argumento de que existe uma inadequação deste genitor.
Na verdade, noto que existe uma inadequação do genitor com quem a criança vive
a maior parte do tempo, porque de alguma forma ele expôs a criança ao litígio, ele
levou a criança para procedimentos na rede de proteção (incluindo Conselho Tutelar,
delegacia, hospital, polícia…) e principalmente ele exerce um poder de inuência
muito grande sobre a criança, lembrando que existe entre a criança e ele um vínculo de
dependência e de sobrevivência. No entanto, a justicativa para a recusa ao convívio
mais ampliado com o genitor que tem menos convívio supostamente é a disfunciona-
lidade na parentalidade desse genitor.
Convido a todos a fazer um exercício de enxergar além do óbvio, de tentar
perceber o que está por detrás da fala de uma criança que verbaliza que não quer
conviver, e quais os interesses dos adultos estão em conito. O que estou dizendo é
que existe uma palavrinha chave para entendermos a complexidade do fenômeno da
Alienação Parental e seus meandros: o clima afetivo em que a criança está inserida,
e quando eu falo em clima, eu chamo a atenção para a necessidade de compreensão
do contexto.
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