Capítulo 2 - Quando a alienação vinga ou não vinga

Páginas105-116
CAPíTulo 2
QuANDo A AlIENAÇÃo VINGA ou NÃo VINGA
“O que faz com que eu me mantenha próximo da
minha lha são as memórias que a gente tem juntos.
Eu quero mais memórias, eu quero mais tempo,
quero car ao lado dela para fazer coisas juntos.”
– Fala de um pai que atendi no Tribunal
Caminho percorrido
Até hoje tenho notícia de pais órfãos de lhos vivos. Em todos os lugares onde
vou, nos congressos, nas palestras, nas aulas, sempre vem até mim um pai ou mãe e
conta sua história triste: que perdeu o convívio com os lhos por uma alienação, ini-
ciada na infância, onde o lho apresentava uma resistência ao convívio espontâneo
e natural porque pareciam sempre tensos, sempre preocupados como se estivessem
sendo vigiados e controlados pelo outro genitor. O efeito desse comportamento das
crianças que se protrai no tempo sem que haja a intervenção, no sentido de mudar esse
padrão, é que o vínculo com o genitor com quem a criança convive menos tempo vai
sendo, aos poucos, minado, vai gerando na criança uma insegurança de expressar o
amor que sente pelo genitor com quem convive menos tempo.
E aí vem o efeito do tempo… se passar muito tempo e em se mantendo esse con-
vívio aparentemente satisfatório (e é só aparente), o efeito será um vínculo fragilizado
e início do comportamento de recusa do adolescente a ter contato com o genitor com
quem convive menos, ao argumento de que existe uma inadequação deste genitor.
Na verdade, noto que existe uma inadequação do genitor com quem a criança vive
a maior parte do tempo, porque de alguma forma ele expôs a criança ao litígio, ele
levou a criança para procedimentos na rede de proteção (incluindo Conselho Tutelar,
delegacia, hospital, polícia…) e principalmente ele exerce um poder de inuência
muito grande sobre a criança, lembrando que existe entre a criança e ele um vínculo de
dependência e de sobrevivência. No entanto, a justicativa para a recusa ao convívio
mais ampliado com o genitor que tem menos convívio supostamente é a disfunciona-
lidade na parentalidade desse genitor.
Convido a todos a fazer um exercício de enxergar além do óbvio, de tentar
perceber o que está por detrás da fala de uma criança que verbaliza que não quer
conviver, e quais os interesses dos adultos estão em conito. O que estou dizendo é
que existe uma palavrinha chave para entendermos a complexidade do fenômeno da
Alienação Parental e seus meandros: o clima afetivo em que a criança está inserida,
e quando eu falo em clima, eu chamo a atenção para a necessidade de compreensão
do contexto.
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