Capítulo 3 - Quando a alienação parental gera autoalienação

Páginas117-130
CAPíTulo 3
QUANDO A ALIENAÇÃO PARENTAL
GERA AUTOALIENAÇÃO
“A criança invisível aparentemente é vista, não é
enxergada.”
Glicia Brazil
Caminho percorrido
Caminho percorrido por Letícia Costa, primeira estagiária da Glicia no Núcleo
de Psicologia do TJRJ
No quinto período de psicologia resolvi buscar um estágio com famílias da Justiça.
Lembro da primeira vez que entrei no Núcleo de Psicologia, e de ter pensado: como
esse lugar é frio. Nunca gostei do Tribunal, inclusive uma das razões que fugi da gra-
duação em direito foi o fato de nunca me imaginar trabalhando lá, de roupa social, em
um lugar tão cheio e intimidador. Mal sabia eu que pelos próximos dois anos aqueles
corredores se tornariam uma parte constante do meu dia a dia.
Cheguei no núcleo meio assustada, e sentei do lado de fora, aguardando a minha
entrevista. Não conseguia de jeito nenhum lembrar do nome da psicóloga que iria me
receber de tão nervosa que estava. Após alguns momentos chega a Glicia, e me chama
para conversar. Confesso que, a partir desse momento, não tenho muita recordação de
como as coisas aconteceram, mas que saí da entrevista com um combinado: que pelos
anos seguintes, minhas tardes iriam ser preenchidas por muito trabalho, atendimentos
e parceria no Núcleo de Psicologia das Varas de Família da Capital.
No meu primeiro atendimento como estagiária, recebemos um menino que es-
tava sofrendo alienação parental por parte da mãe, e que estava em tanto sofrimento
que tinha ameaçado matar o pai, e se matar depois. Ao ouvir esse relato, senti os meus
olhos se encherem de lágrimas e um nó se formar na minha garganta, que aumentava
com cada palavra que o menino dizia. No meio do atendimento, a Glicia percebeu o
quanto aquilo estava sendo difícil para mim. Lembro que ela me olhou e disse de forma
doce: Lelê, já deu sua hora, pode ir para casa. Não entendi de cara, mas levantei e saí
da sala, aliviada por perceber o quanto estava tensa, e segurando a minha respiração.
Assim que vi a Glicia acompanhar o menino para fora da sala, alguns bons minutos
depois, eu estava convicta que iria levar a primeira bronca no trabalho, anal, tinha
sido uma postura pouco prossional da minha parte. Mas, a Glicia chegou, segurou
minhas mãos e me disse, olhando nos meus olhos: está tudo bem, esse trabalho é difícil
e vai sempre nos mobilizar, vai com calma, no seu tempo.
E a partir desse momento entendi que trabalhar com a Glicia é trabalhar com
suporte, ética e sensibilidade. Nunca senti vergonha de perguntar nada, cometer erros
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