Capítulo 4 - Falsas memórias e alienação parental

Páginas131-146
CAPíTulo 4
FAlSAS MEMÓRIAS E AlIENAÇÃo PARENTAl
“Eu tenho doze anos e já posso escolher.”
Caminho percorrido
A juíza de família mandou me chamar. Estava confusa porque acabara de ouvir
uma menina de 12 anos de idade, que tinha dito que sofreu violência física em face
do pai. Ao término da audiência, ao se encaminhar para a saída da sala e ir para o cor-
redor do fórum, a lha abraçou o pai e pai e lha choraram copiosamente por alguns
instantes. Essa cena fez com que a juíza não suspendesse o convívio entre pai e lho
e determinasse avaliação psicológica com urgência.
Percebi ali no relato da Juíza o tanto de responsabilidade que existe em uma de-
cisão judicial: e se ela mantém a jovem convivendo com um agressor contumaz? E se
ela afasta essa jovem desse pai até que seja julgada a ação criminal de lesão corporal?
A diculdade está nas duas consequências que são drásticas: o risco de manter uma
criança vítima de abuso ou o risco do próprio poder judiciário alienar.
Conversamos um pouco eu e a Juíza e agora quem estava sentido o peso da res-
ponsabilidade era eu porque ela depositou todas as expectativas no meu trabalho, a
m de que eu vericasse se era abuso físico por parte do pai ou abuso emocional por
parte da mãe.
Confesso que esses nem são os piores processos porque fatalmente acharemos
um genitor culpado pelo sofrimento do lho, que teve uma ação inadequada e quan-
do há um culpado para o sofrimento da criança ca mais fácil entender o sofrimento
apresentado pela criança. Os piores processos são aqueles em que não há algoz, em
que ambos os pais são adequados, mas que por alguma situação da vida real, a criança
não poderá conviver com ambos de forma ideal, por exemplo, naqueles processos em
que um dos pais muda de cidade e se comprova, ao nal da avaliação psicológica, que
o vínculo afetivo da criança com ambos os pais é solidicado, é forte, porém, haverá
uma perda inevitável por circunstâncias da vida.
Comecei atendendo o pai da criança, ele mais chorou do que conseguiu falar. Tratava-
-se de um homem grande, de quase dois metros de altura, mas a imagem que estava diante
de meus olhos era de uma criaturinha bem pequena, indefesa, com medo e em intenso
sofrimento. A experiência me dizia que aquele homem não seria capaz de maltratar a lha;
mas a experiência também me dizia: “Glicia, não seja precipitada, quantas vezes você já
se surpreendeu e foi traída pelas suas expectativas e conclusões precipitadas”.
Em seguida, entrevistei a mãe, a mesma destilava ódio em face do pai. Falou
durante 90 minutos da entrevista o quanto aquele ex-marido era violento com ela,
grosso com a lha, intransigente, e no quanto a lha estava “decepcionada” pelo que
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