Cármen Lúcia: As turbulências e um ensaio de gestão

AutorFelipe Recondo
Páginas66-80
66
09
CÁRMEN LÚCIA: AS TURBULÊNCIAS
E UM ENSAIO DE GESTÃO
Felipe Recondo
12 | 09 | 2018
A presidente caminhou sobre linha que cortejava a
opinião pública sem combater polarização da Corte.
Cármen Lúcia deu azar. Nos dois anos em que comandou o
Supremo Tribunal Federal (STF), as crises políticas e as tragédias
se sucederam em ritmo incomparável. As investigações da Lava Jato
atingiram centenas de parlamentares, colocando o Congresso na
defensiva. Os escândalos de corrupção combaliram também o já
fragilizado e recém-empossado governo Michel Temer (MDB). O
STF seria chamado a ser o moderador numa Praça dos Três Poderes
desequilibrada.
Mas com todas as idiossincrasias do tribunal, os indícios de con-
taminação política, suas disputas internas e sua falta de coesão ins-
titucional, o Supremo chega ao nal desses dois anos fragmentado,
com a legitimidade questionada e politicamente exposto. E a ministra
Cármen Lúcia, que deveria representar o tribunal, não foi reconhecida
pelos pares como uma liderança e não conseguiu, no cargo, evitar
que o STF se tornasse, em vez de moderador, fator adicional na crise
política. Em alguns episódios, ela própria foi fator de desagregação
interna e conturbação externa.
Cármen Lúcia assumiu o STF exatamente doze dias depois que
o Congresso apeou Dilma Rousseff da Presidência da República, e
na mesma tarde em que a Câmara cassava o mandato do deputado
federal Eduardo Cunha (MDB–RJ). Na cerimônia de posse no STF,
Michel Temer posava de novo presidente, com a popularidade sem-
pre em baixa e com a legitimidade questionada, e Luiz Inácio Lula
da Silva mantinha-se discreto entre os convidados. Do lado direito
de Cármen Lúcia, o presidente do Congresso, Renan Calheiros

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT