Carolinas Brasileiras: sofrimentos, injustiças e denúncias sociais

AutorPollyanna de Souza Carvalho
CargoAssistente Social formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutoranda em Políticas Sociais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), com Bolsa da CAPES. Especialista em formação em Direitos Humanos e Movimentos Sociais pela ...
Páginas324-340
CAROLINAS BRASILEIRAS: sofrimentos, injustiças e denúncias sociais
Pollyanna de Souza Carvalho
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Resumo
É importante tecer, na realidade atual, apontamentos sobre as Carolinas brasileiras. Vistas pelo quadro da pobreza,
sofrimentos, desigualdades e lutas sociais, as Carolinas terão como pano de fundo a obra o “Quarto de despejo: Diário de
uma favelada”, da saudosa escritora Car olina Maria de Jesus (1914-1977). Como muitas Carolinas, Carolina de Jesus era
mãe, negra, trabalhadora, semianalfabeta, favelada, empobrecida, enfim, títulos que não caberiam neste trabalho, que
elenca uma pesquisa bibliográfica tangenciando trechos da supracitada obra, junto à pesquisa documental, sob a análise do
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a fim d e compreender a atualidade e os mar cadores segregacionistas
contra as pessoas pretas e pard as. O trabalho não finaliza a abordage m, mas, sinaliza que ainda há um longo caminho a
percorrer: na luta e resistência para resguardar os direitos das Carolinas do ter ritório brasileiro, autoritário e violento,
subsumido e relegado ao capital financeiro.
Palavras-chave: Carolina de Jesus; mulheres; racismo; direitos; capitalismo.
BRAZILIAN CAROLINAS: sufferings, injustices and social denunciations
Abstract
It’s impor tant to make reflections, in the present reality, about the Brazilian “Carolinas”. Look from the notion of po verty,
inequalities and social struggles, the Carolinas will have as backdrop the scene “Qua rto de despejo: Diário de uma favelada”,
wrote by Carolina Maria de Jesus ( 1914-1977). As many Carolinas, Carolina de Jesus was a mom, black, working, semi-
literate, slum, impoverished , in short, titles that would not fit in this study. Is listed at the bibliographical research tangenting
excerpts of the aforementioned study, with documentar research about of IBGE Brazilian Institute of Geography and
Statistics, to understand the atually situation and the segregationist scene Against black and brown people. Finally, dont end
our approach. But there is the long journey to walk: in the struggle and resistance to protect the right s of Carolinas along
Brazilian country, which is authoritarian and violent, subsumed and relegated to the financ e capital.
Keywords: Carolina de Jesus; women; racism; rights; capitalism.
Artigo recebido em: 04/07/2022 Aprovado em: 31/03/2023
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v27n1.2023.19
1 Assistente Social formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em Serviço Social pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutoranda em Políticas Sociais pela Universidade Estadua l do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF), com Bolsa da CAPES. E specialista em formação em Direitos Humanos e Movimentos Sociais pela
Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Pesquisad ora do NUFSTEV/UFF -Campos (Núcleo de Pesquisa em Famílias,
Sujeitos Sociais e Territórios Vulneráveis). E-mail: pollyannacecf@gmail.com.
Pollyanna de Souza Carvalho
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1 INTRODUÇÃO
Dizer que a igualdade é uma marca constitutiva da formação social brasileira é um ledo
engano. Dada a Revolução Francesa (1789), pregava-se três aspectos centrais: igualdade, fraternidade
e liberdade dos sujeitos sociais. Mas, na prática cotidiana do período iluminista, as camadas populares
continuaram na extrema pobreza, em um quadro de desigualdades e subalternidade. Se nos países
centrais a realidade concreta era permeada por diversas violências e contradições, nos países
colonizados e de capitalismo periférico vivia-se uma lógica ainda mais delicada, em função da inserção
de práticas e valores de “fora”, como o caso brasileiro. Na verdade, as sociedades colonizadas pelos
países europeus, sob a perspectiva eurocêntrica
1, sofreram exploração, saqueamentos, genocídios e
tentativas de destituição dos costumes e das tradições culturais, especialmente dos indígenas e dos
afrodescendentes.
Dito isso, os países colonizados, estudados por Dussel (1992) e Quijano (2005), foram
tratados desigualmente pelos países centrais, já que eram vistos como subdesenvolvidos, atrasados e
periferias do capital. Contraditório pensar nisso, uma vez que as colônias eram fontes de matérias-
primas, mão de obra, nichos territoriais e mercado. A força de trabalho mais explorada era a negra.
Os negros eram ali não apenas os explorados mais importantes, já que a parte principal da
economia dependia de seu trabalho. Eram, sobretudo, a raça colonizada mais importante, já
que os índios não formavam parte dessa sociedade colonial. Em conseqüência, os
dominantes chamaram a si mesmos de brancos (QUIJANO, 2005, s.p).
Analisando a questão de gênero, as mulheres, partes integrantes da reprodução da força
de trabalho e alijadas da esfera pública, eram perseguidas, mortas, estupradas e violentadas de
diferentes maneiras, sob o legado machista, patriarcal e capitalista. Não é à toa que estudos atuais
comportam a ideia de que a luta do movimento feminista se direciona contra o capitalismo em seu
estágio avançado: a financeirização (Cf: GAGO, 2020)2. Estudo de Federici (2017) ressalta que a
prática da dominação e da perseguição contra as mulheres foi uma estratégia histórica de exterminar
os seus corpos e resistência. Elas foram chamadas de adoradoras do “demônio” e de “bruxas” por
defenderem direitos, práticas básicas e tradições de suas comunidades, como: orações, cultivos de
sementes, plantações, curas, entre outras atividades, sobretudo na esfera privada da vida social.
Estas interpretações nos ajudam a conduzir este trabalho nos baseando na poetisa
Carolina Maria de Jesus, em o “Quarto de despejo: Diário de uma favelada”. Publicado inicialmente no
ano de 1960, ano anterior à ditadura civil, militar e empresarial no Brasil, ele desenha o itinerário de
uma mulher com ancestralidade e identidade negra, que foi excluída do acesso aos seus direitos no
Brasil. Na verdade, Carolina de Jesus desempenhou várias incumbências em sua vida: mãe,

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