Centralizaçao de capital na agricultura e problemas ambientais: uma leitura crítica

AutorArmando Wilson Tafner Filho, Benjamin Alvino de Mesquita, Welbson do Vale Madeira
CargoProfessor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA). Doutor em Desenvolvimento Socioambiental (NAEA/UFPA); E-mail: armandowilson@hotmail.com. / Professor do Departamento de Economia e dos Programas de Pós-Graduação em Políticas e Desenvolvimento Socioeconômico da UFMA. Líder do grupo de pesquisa Desenvolvimento Econômico e ...
Páginas244-262
CENTRALIZAÇAO DE CAPITAL NA AGRICULTURA E PROBLEMAS AMBIENTAIS: uma leitura
crítica
1
Armando Wilson Tafner Filho
2
Benjamin Alvino de Mesquita
3
Welbson do Vale Madeira
4
Resumo
Este artigo resulta de pesquisas nas áreas de Economia Política e Economia Agrícola e trata do processo centralização de
capital na agricultura. Na primeira parte faz um resgate teórico das categorias concentração e centralização de capital,
como as mesmas foram amplificadas no contexto de hegemonia das políticas neoliberais e de que maneira a forma de
funcionamento dos grandes grupos econômicos reduz as condições de sobrevivência dos pequenos produtores agrícolas.
Na segunda parte examina como essa centralização de capital se manifesta em termos de modernização agrícola e em
estratégias dos grandes grupos que atuam no setor para aparecerem como politicamente e socialmente adequadas. Nesse
sentido, como resultado de estraté gia de pesquisa, analisa as dinâmicas de alguns dos maiores grupos brasileiros que
atuam na produção e exportação de commodities. Na terceir a parte, explicita como o padrão irracional de consumo, do
ponto de vista da maioria da população, e a destruição da natureza associada à produção agrícola representam
características intrínsecas ao capitalismo. Por outro lado, aponta críticas e possíveis alternativas a partir da perspectiva da
Ecologia Política.
Palavras-chave: Centralização de capital; agricultura; problemas ambientais; ecologia política.
CENTRALIZATION OF CAPITAL IN AGRICULTURE AND ENVIRONMENTAL PROBLEM S: a critical reading
Abstract
This article is the result of research in the areas of Political Economy and Agricultural Economics and deals with the proces s
of centralization of capital in agriculture. In the first part, a theoretical review of the categories concentration and
centralization of capital is carried out, how they were amplified in the context of the hegemony of neoliberal policies and h ow
the way in which large economic groups operate reduces the conditions of survival of small agricultural prod ucers. The
second part examines how this centralization of capital manifests itself in terms of agricultural modernization and in the
strategies of the large groups that operate in the sector to appe ar as politically and socially adequate. In this sense, as a
result of the research strategy, the dynamics of some of the largest Brazilian groups that operate in the production and
export of commodities were analyzed. In the third part, it is explained how the irr ational pattern of consumption, from the
point of view of the majority of the population, and the destruction of nature associated with agricultural production represent
intrinsic characteristics of capitalism. On the oth er hand, criticisms and possible alternatives are pointed out from the
perspective of Political Ecology.
Keywords: Capital centralization; agriculture; environmental problems; political ecolog y.
Artigo recebido em: 14/02/2022 Aprovado em: 30/05/20
1
O presente artigo é uma versão resumida e compatibilizada dos textos apresentados pelos autores na mesa
“Concentração de capital, destruição da natureza e desarticulação da pequena produção agrícola: expressões do
capitalismo contemporâneo”, na X Jornada Internacional de Políticas Públicas, promovida pelo Programa de Pós -
Graduação em Políticas Públicas da UFMA.
2
Professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA). Doutor em Desenvolvimento Socioambiental
(NAEA/UFPA); E-mail: armandowilson@hotmail.com.
3
Professor do Departamento de Economia e dos Programas de Pós-Graduação em Políticas e Desenvolvimento
Socioeconômico da UFMA. Líder do grupo de pesquisa Desenvolvimento Econômico e Agricultura Brasileira (DEAB). Doutor
em Geographie Amenegement et Urbanism {Paris 3} e em Políticas Públicas (UFMA). E -mail: benjamin.alvino@ufma.br.
4
Professor do Departamento de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico da
UFMA. Membro do grupo de pesquisa Desenvolvimento Econômico e Agricultura Brasile ira (DEAB). Doutor em
Desenvolvimento Socioambiental (NAEA/UFPA); E-mail: welbson.madeira@ufma.br .
Armando Wilson Tafner Filho, Benjamin Alvino de Mesquita e Welbson do Vale Madeira
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1 INTRODUÇÃO
Desde o início da década de 1990, articulando-se à chamada globalização e a hegemonia
de políticas neoliberais, passou a ocorrer um crescimento geométrico de atividades articuladas às
commodities minerais e agrícolas em diversas regiões da periferia capitalista. Como elementos
decisivos nesse processo estão as grandes corporações, o sistema financeiro e a atuação do Estado,
que têm favorecido a centralização de capital e a abertura de novas fronteiras agrícolas na América
Latina. O primeiro aspecto (centralização) é analisado no tópico seguinte.
Quanto às expansões de fronteiras agrícolas, essas têm ocorrido inclusive em áreas
ocupadas por centenas de milhares de produtores não capitalistas e voltados às pluriatividades. São
favorecidas por incentivos fiscais dados às monoculturas de larga escala, intensivas de capital e com
necessidades crescentes por novas terras agricultáveis. Como consequência, a produção de alimentos
básicos fica cada vez mais prejudicada. Por outro lado, à proporção que a agricultura industrial avança
sobre territórios camponeses, quilombolas e indígenas, o grau de expropriação dessas populações
aumenta, novas assimetrias econômicas e sociais são estabelecidas e a disputa (desigual) pelo uso e
controle da terra torna-se um elemento central.
Ao mesmo tempo, cada vez mais, as grandes empresas do chamado agronegócio têm
buscado aparecer como “politicamente corretas” e anunciam ter políticas que favorecem a preservação
do ambiente e respeitam direitos das comunidades em que se enclavam e dos seus empregados, a
quem chamam de seus colaboradores. Entretanto, apesar de praticamente todas associarem suas
marcas ao termo sustentabilidade, colecionarem certificações e terem departamentos voltados para a
questão ambiental, não conseguem superar contradições relacionadas à dinâmica de produção e
comercialização em grande escala de suas mercadorias.
Avalia-se que essa é uma questão importante para analisar na medida em que as
autodeclarações de empresas têm servido de base para apoio estatal às mesmas e para definição de
compras por diversas categorias de consumidores. Na segunda parte deste artigo, portanto, procura-se
confrontar a hipótese marxiana relativa às tendências de progresso na agricultura capitalista, com as
supostas ações de grupos econômicos e agentes políticos que argumentam que agora no século XXI é
possível produzir e comercializar em grande escala com um mínimo de agressão ao ambiente e aos
direitos sociais. Como procedimento para analisar esse último aspecto foram examinados criticamente
as práticas de algumas das maiores empresas com atuação no setor agrícola no Brasil.
Como ressaltamos na terceira parte, na verdade foram criados termos escorregadios, tais
como Desenvolvimento Sustentável, Economia Verde”, “Capitalismo Consciente” etc, que passaram a

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