Responsabilidade social e cidadania na construção civil: um estudo comparativo
Autor | Silvio Roberto Stefano/Adriane Bayerl Neves/Rita de Cássia Franco Sanches Bueno |
Cargo | Mestre em Administração pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Administração da FEAUSP. Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e Faculdade Novo Ateneu de Guarapuava, Departamento de Administração/Mestre em Adm |
Páginas | 79-89 |
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A prática da Responsabilidade Social nas empresas é uma força emergente. Essa nova força pode ser considerada conseqüência das transformações do final de século XX e do início do século XXI, e que ao mesmo tempo torna-se parte integrante das soluções dos complexos problemas gerados por essas transformações.
As desigualdades sociais, a violência, a fome, o analfabetismo e tudo o mais que envolve problemas da nossa sociedade deixou de ser uma preocupação exclusiva do governo. Observa-se, atualmente, que cada vez mais as pessoas se envolvem em causas sociais, transformando nossa sociedade mais solidária e participativa nas soluções dos seus próprios problemas.
Nesse contexto, incluem-se as empresas que, além de estarem participando, em número crescente, na resolução das mazelas sociais através de envolvimento em projetos sociais e filantrópicos, estão percebendo que o exercício da Responsabilidade Social é uma oportunidade de conquistar mercados e de se tornarem aliadas aos desejos e anseios de seus clientes, fornecedores, empregados e da comunidade onde estão inseridas.
A atuação com responsabilidade tem seu início no momento em que a organização investe na educação, saúde, bem-estar e progresso de seus próprios funcionários, colhendo, assim comprometimento, produtividade, satisfação e qualidade nos seus produtos e/ou serviços.
O presente trabalho teve por objetivo identificar o envolvimento das empresas da construção civil na cidade de Londrina relacionado à área social e seu impacto com o ambiente interno e externo, analisando seus projetos e programas, na percepção dos proprietários das empresas pesquisadas.
O trabalho foi elaborado através de pesquisas exploratórias e descritivas. Segundo Mattar (1999), é descritiva, pois visa analisar estudos nesse campo nas indústrias da construção civil de Londrina que abordem Responsabilidade Social e Cidadania Empresarial.
Foram coletados dados através de fontes primárias e secundárias. Os dados de fontes primárias referentes ao tema foram coletados por questionários aplicados através de entrevistas com os sócios-proprietários das
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empresas da construção civil na cidade de Londrina-PR, tendo como data de início maio e término outubro de 2001. Os secundários foram coletados através de pesquisa bibliográfica sobre o assunto.
Segundo dados do SINDUSCON (2001), em 2001, existiam na cidade de Londrina cerca de 280 construtoras (entre empreiteiras e construtoras) e aproximadamente 3.000 trabalhadores. A amostra probabilística, por conveniência, contou com 8 (oito) construtoras. A amostragem probabilística por conveniência é usada freqüentemente, para obter idéias sobre determinado assunto de interesse, tendo como objetivo minimizar o erro associado a estatísticas obtidas a partir das amostras selecionadas, usadas para descrever a população em estudo (MATTAR, 1999).
As possíveis limitações dos trabalhos relacionamse aos instrumentos de coleta de dados junto às empresas, adaptados dos Indicadores Ethos (2001) de Responsabilidade Social e Empresarial - Versão 2000.
A partir dos anos 80, nota-se que várias empresas têm se preocupado com problemas que envolvem a sociedade e o meio ambiente no qual estão inseridas. Elas passam a compreender a importância de se responsabilizarem por áreas como educação, saúde e moradia, nas quais o Estado não tem conseguido suprir eficientemente as necessidades da população. Rompendo o velho paradigma de que as empresas só se preocupam com a geração de lucros, tornou-se estritamente necessário para a empresa sobreviver no mercado com preços baixos, produtos de qualidade e marketing inteligente, ressaltando, também, que o consumidor está cada vez mais seletivo preferindo empresas que realmente se integram à comunidade.
A Responsabilidade Social, porém, não se confunde com filantropia ou benemerência. Seu conceito referese às estratégias de sustentabilidade em longo prazo das empresas que, em sua lógica de performance e lucro, passam a contemplar a preocupação com os efeitos sociais e/ou ambientais de suas atividades e o objetivo de contribuir ao bem-comum e à melhoria da qualidade de vida das populações. Assim, a responsabilidade social expressa compromissos muito mais amplos do que aqueles previstos em lei (obrigações trabalhistas, tributárias e sociais; cumprimento das legislações ambiental e de usos do solo, etc.). Expressa, principalmente, a adoção e disseminação de valores, condutas e procedimentos positivos dos pontos de vista ético, social e ambiental.
Além da contribuição ao desenvolvimento humano, as ações empresariais na área social oferecem retornos tangíveis e intangíveis, sob a forma de fatores que agregam valor, reduzem custos e trazem aumento da competitividade. Entre esses fatores, destacam-se: melhoria da imagem corporativa; criação de ambientes endógeno e exógeno mais favoráveis; redução do absenteísmo e elevação da auto-estima dos empregados; estímulos para melhoria dos processos de produção; incremento na demanda por produtos, serviços e marcas; ganhos de participação no mercado; e redução da instabilidade política, social e institucional local.
É fundamental, para o desenvolvimento da sociedade, que as empresas tenham consciência do seu papel. Toda e qualquer organização empresarial, independente do seu tamanho ou ramo, pode participar da melhoria da qualidade de vida, da promoção dos direitos humanos, da divulgação do conhecimento e da cultura, da preservação do meio ambiente. Enfim, toda e qualquer empresa pode - e deve - lutar por um mundo melhor. Isso é responsabilidade social. Isso é cidadania empresarial. A empresa pode ter inúmeras vantagens ao tomar essa iniciativa. Aumento da lucratividade. Respeito dos clientes. Satisfação dos colaboradores.
Atualmente muito se fala da participação de empresas em atividade sociais, demonstrando que essas se preocupam não só em produzir bens e serviços, mas também em promover o bem-estar social através da busca da valorização do homem, do meio ambiente e da cultura. Esses elementos são fatores determinantes do sucesso mercadológico. As empresas buscam vincular sua imagem à noção de responsabilidade social. "A nova postura da empresa cidadã baseada no resgate de princípios éticos e morais passou a ter natureza estratégica" (MELLO NETO; FROES, 1999, p. 54). Pode-se dizer que a eficiência não é só "fazer as coisas bem", mas "fazer as coisas boas", segundo princípios éticos.
Uma empresa socialmente responsável é aquela que, além de ser ética nos seus negócios, preocupa-se com questões tais como: a não utilização de mão-de-obra infantil, saúde de seus funcionários, não utilização de trabalhos forçados, segurança no trabalho, liberdade de associação e negociação coletiva, não discriminação de seus funcionários nem da sociedade em geral, respeito ao horário de trabalho para os trabalhadores, preocupação com questões ambientais e deve possuir um sistema de gestão coerente.
No Brasil, o movimento de valorização da responsabilidade social empresarial ganhou forte impulso na década de 90, através da ação de entidades não governamentais, institutos de pesquisa e empresas sensibilizadas para a questão. O trabalho do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) na promoção do Balanço Social é uma de suas expressões e tem logrado progressiva repercussão.
A obtenção de certificados de padrão de qualidade e de adequação ambiental, como as normas ISO, por centenas de empresas brasileiras, também é outro símbolo dos avanços que têm sido obtidos em alguns aspectos importantes da responsabilidade social empresarial.
A atuação incansável da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, pela...
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