Ciência da Informação e Aptidão Agrícola: abordagens interescalares para planejamento de uso da terra

AutorVitor Vieira Vasconcelos - Paulo Pereira Martins Junior
CargoPós-doutor no Stockholm Environment Institute, Asia Centre, Bangkok, Tailândia, Bolsista CNPq - Doutor em Ciências da Terra pela Université Pierre et Marie Curie, Lise, França
Páginas221-245
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2015v12n2p221
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E APTIDÃO AGRÍCOLA: ABORDAGENS
INTERESCALARES PARA PLANEJAMENTO DE USO DA TERRA
Vitor Vieira Vasconcelos
1
Paulo Pereira Martins Junior
2
Resumo:
As inovações técnicas e metodológicas de programação, compartilhamento em rede,
análise de sistema de informação e sistemas de informação geográfica (SIG)
permitem a representação, armazenamento, tratamento e disseminação de
informações que antes não se havia disponíveis para diversos atores interessados.
Partindo desse contexto, apresenta-se proposta de modelagem conceitual sobre o
uso integrado das metodologias de Aptidão Agrícola para o desenvolvimento de
sistemas de auxílio à decisão sobre uso da terra, auferidas por meio de
metodologias da Ciência da Informação. São estruturados diagramas de modelagem
de conhecimento por meio dos métodos CommonKADS e Unified Modeling
Language (UML), para simular o processamento de perguntas básicas de um
produtor rural, tais como “O que plantar?”, “Onde plantar?”, “Como plantar?”. Por fim,
é apresentado uma matriz interdisciplinar explicitando a relação entre a aptidão
Agrícola por cultivar com atributos de solo e relevo, para auxílio à decisão em escala
de detalhe. O sistema proposto afigura-se um eficaz instrumento de orientação e
educação agropecuária e ambiental, por demonstrar alternativas ecologicamente
sustentáveis ao usuário e explicar a justificativa econômica para tais propostas.
Palavras-chave: Agronomia. Sistemas de Informação Geográfica. Ciência da
Informação. Sistemas de Auxílio à Decisão. Meio Ambiente.
1 INTRODUÇÃO
O planejamento de uso da terra para atividades agro-silvo-pastoris tem se
beneficiado, a longos anos, das técnicas de mapeamento para aptidão de atividades
econômicas rurais. Entre as técnicas utilizadas tradicionalmente, encontram-se a
Avaliação de Capacidade de Uso do Solo (LEPSCH et al., 1991), e o Sistema
1
Pós-doutor no Stockholm Environment Institute, Asia Centre, Bangkok, Tailândia Bolsista CNPq.
Doutor em Ciências Naturais pela Universidade de Ouro Preto, Ouro Preto, MG, Brasil, com
doutorado-sanduíche em Engenharia de Recursos Hídricos na Universidade de Chulalongkorn,
Tailândia. E-mail: vitor.v.v@gmail.com
2
Doutor em Ciências da Terra pela Université Pierre et Marie Curie, Lise, França. Professor no
Departamento de Geologia, Escola de Minas, Universidade Federal do Ouro Preto, na Rede de
Ciência dos Materiais, e no mestrado em Sustentabilidade Sócio Ambiental e Econômica da Escola
de Minas, Ouro Preto, MG. Pesquisador do IGTEC - Instituto de Geoinformação e Tecnologia, Belo
Horizonte, MG, Brasil. E-mail: maerteyn@gmail.com
222
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.12, n.2, p.221-245, Jul-Dez. 2015
FAO/Brasileiro de Avaliação de Aptidão Agrícola das Terras (RAMALHO FILHO e
BEEK, 1995). Ambos fornecem uma indicação preliminar sobre a aptidão das terras
para diferentes atividades produtivas, sobre sistemas de manejo diferenciados.
Também tradicional no meio agrícola brasileiro é o Zoneamento
Agroclimatológico (ou agroclimático) por cultivares. Exemplos típicos são os
zoneamentos para a Cana de Açúcar (MANZATTO et al., 2009) e da Nogueira-
Macadâmia (SCHNEIDER et al., 2011), com foco nas possibilidades de expansão
agrícola das respectivas cultivares para o Brasil. Na última década, também se
destacam como os zoneamentos agrícolas de risco climático desenvolvidos pela
Embrapa, com fins de subsidiar o seguro rural (OZAKI, 2007), bem como sua
extensão para simular os riscos frente às projeções de mudanças climáticas (ASSAD
et al., 2013). É característico dos zoneamentos agroclimatológicos a distribuição
espacial das restrições de umidade, precipitação, temperatura, bem como riscos de
geadas e outras intempéries (WOLLMANN e GALVANI, 2013).
Mais recentemente, uma nova modalidade de carta também tem se somado à
cartografia de planejamento de expansão rural. Trata-se das cartas de Zoneamento
Ecológico-Econômico, embora a formatação adequada de suas metodologias ainda
seja motivo de discussão acadêmica (MARTINS JUNIOR et al., 2009). Os atributos
mapeados englobam, no mínimo, as restrições legais de ocupação territorial
(unidades de conservação, áreas de preservação permanente, entre outros).
Contudo, também podem refletir acordos sociais de conservação de territórios
especiais, como corredores ecológicos e outras áreas de relevante interesse de
preservação (BOLFE et al. 2015). Mais ainda, o que embasa o conceito de
Zoneamento Ecológico-Econômico é uma tentativa de integrar os aspectos de
recursos naturais, sociais e econômicos sobre uma proposta territorial de
desenvolvimento sustentável (VASCONCELOS et al., 2013). A amplitude de suas
metas é desafiante, especialmente quantos aos limites epistemológicos da
cartografia moderna.
1.1 OBJETIVOS
Este artigo tem como objetivo abordar como o planejamento do uso da terra
pode ser potencializado por meio da abordagem técnica da Ciência da Informação.
Argumenta-se que, com os desenvolvimentos tecnológicos de bases de dados,

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