Os conceitos de poder, de autoridade, de influência e de legitimidade
| Autor | Márcio Florêncio Nunes Cambraia |
| Ocupação do Autor | Diplomata de Carreira, o Embaixador Márcio Florêncio Nunes Cambraia serviu em Montevidéu, Londres, Madri e Roma |
| Páginas | 9-28 |
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OS CONCEITOS DE PODER,
DE AUTORIDADE, DE INFLUÊNCIA,
E DE LEGITIMIDADE
Os conceitos de poder, de autoridade, de inuência, e de le-
gitimidade são essenciais na Ciência Política e nas Relações
Internacionais. É necessário, portanto, ter visão cristalina
desses conceitos. Embora tenham como base ideias que
vêm sendo discutidas desde a antiguidade grega, trata-se aqui de vê-las
sob um prisma instrumental, como ferramentas analíticas para o enten-
dimento da realidade.
Por poder entende-se, de modo sintético e já consolidado, a capaci-
dade que tem A de obrigar B a fazer ou deixar de fazer algo, mesmo con-
tra a vontade de B. Evidentemente, os meios utilizados para o exercício
do poder são muitos, mas o recurso derradeiro é o uso da força física,
a ultima ratio, a razão última da manifestação de vontade. A categoria
poder está sempre ligada ao uso da coação, mesmo que esse uso seja
apenas potencial. Ou seja, a possibilidade, pelo menos, da utilização da
força é imanente ao conceito de poder.
Quando se fala em força física estão implícitas, na atual organização
estatal, estruturas como as forças policiais e militares. Se a imposição de
vontade se realiza no plano individual, como no caso da relação entre
um assaltante e sua vítima, teremos uma relação de poder, mas não de
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MÁRCIO FLORÊNCIO NUNES CAMBRAIA
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poder político. Como veremos adiante, a noção de poder político é mais
ampla e implica a ideia de comunidade, de uma coletividade.
Na sociedade moderna, o Estado detém o monopólio do uso legíti-
mo da força física. Podem existir, entretanto, situações extremas e anor-
mais, como a da Líbia atual, em que as milícias que lutaram contra o
antigo governo de Gada continuam armadas e controlam várias partes
do território líbio, que está fragmentado. O atual Estado líbio exerce
assim, na verdade, um poder nominal.
O poder político caracteriza-se pela imposição de vontade, mas em
relação a uma comunidade e não individualmente. O poder em si pode
manifestar-se no âmbito privado, mas o poder político verica-se no
plano público. É a relação que se dá entre o governo de um país e seus
cidadãos.
No livro “Sociologia de Max Weber” o professor Julien Freund expõe
com clareza o pensamento de Max Weber sobre as relações de poder e
o uso da força, para o que se deve ver especicamente as páginas 159 a
1611. Na obra “Poder e Sociedade”, Abraham Kaplan e Harold Lasswell,
sob uma perspectiva distinta, falam sobre sanções severas, como está no
capítulo quinto2.
O mesmo Julien Freund, professor da universidade de Estrasburgo,
em sua obra Qu’est-ce que la politique?3 procura discutir qual seria o
meio especíco da política, se a astúcia ou a força. Refere-se a uma tra-
dição que vem desde O Príncipe de Maquiavel com a imagem das quali-
dades da raposa e do leão, que deveria ter o político, o homem de estado.
A astúcia engloba o conjunto dos procedimentos indiretos que a in-
teligência utiliza. Trata-se da dissimulação, do engano, da intriga, da
insinuação, do segredo. A astúcia requer também a premeditação. Tra-
ta-se, ademais, da ação subterrânea ou nas sombras. Esse procedimento
é oportunista, busca o ponto fraco do adversário para feri-lo sem que
1 Freund, Julien. Sociologia de Max Weber. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária,
1975. Em nota prévia ao texto, o professor Freund diz que procura expor “tão claramente
quanto possível o pensamento sociológico de Weber”.
2 Kaplan, Abraham e Lasswell, Harold. Poder e Sociedade. Brasilia: Editora Universidade de
Brasília, 1979.
3 Freund, Julien. Qu`est que la politique? Editions du Seuil, 1965.
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