Partidos políticos e voto
| Autor | Márcio Florêncio Nunes Cambraia |
| Ocupação do Autor | Diplomata de Carreira, o Embaixador Márcio Florêncio Nunes Cambraia serviu em Montevidéu, Londres, Madri e Roma |
| Páginas | 103-119 |
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PARTIDOS POLÍTICOS E VOTO
PPartidos políticos podem ser vistos sob vários prismas, e ve-
remos aqueles mais uteis como ferramentas analíticas. Os
partidos funcionam como condutos de comunicação entre o
sistema político e a sociedade, no sentido de que trazem infor-
mações do meio ambiente para o sistema, além de disseminarem infor-
mações do sistema para o meio ambiente social. Nessa função, atuam
como mecanismos que recolhem informações na sociedade e as levam
para o sistema e vice-versa.
Trata-se de atividade que é estudada especicamente pela abor-
dagem cibernética e se verica quando, por exemplo, o deputado ou
senador, em campanha eleitoral, em contato direto e quotidiano com
o eleitor, ausculta seus sentimentos, seu modo de pensar, e leva essas
informações para o sistema e seus centros de decisão. Vê o nível de sa-
tisfação dos eleitores com o governo ou mesmo o grau de desgaste dos
governantes com seu eleitorado. Têm esses parlamentares, ademais, a
função de, simultaneamente, levarem a seus eleitores e à sociedade a
mensagem do sistema político, sob a forma de informações que buscam
explicar e justicar as ações governamentais.
Em outra perspectiva, os partidos atuam na articulação e agregação
de demandas, bem como na obtenção e processamento de apoios para o
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sistema. Ou seja, o partido, por meio de seus membros, principalmente
os parlamentares, recebe as demandas dos diversos segmentos sociais e
as reúne e as organiza de modo a serem levadas ao sistema sob a forma
de solicitações claras. Por exemplo, a necessidade de uma obra de in-
fraestrutura, como uma ponte ou uma estrada para sua região eleitoral.
O atendimento a essa reivindicação tenderá a representar apoio para
o sistema. Simultaneamente, o parlamentar atuará como defensor dos
pleitos locais e regionais junto aos órgãos governamentais, em atividade
que, para efeito de melhor compreensão, pode-se comparar à do lobista.
Ligada a essas funções está a tarefa de representar junto ao sistema
político os diversos segmentos sociais, as chamadas clivagens – as inú-
meras parcelas de opiniões, interesses, conjuntos de valores e visões em
que se subdivide a sociedade. Os partidos amalgamam e articulam essas
diferenças e as representam no espectro político, procurando apresentá-
-las de forma clara e coerente para a sociedade. Sem os partidos haveria
uma atomização, ou uma fragmentação que seria ininteligível para o
eleitor e dicultaria muito suas escolhas.
Ademais, os partidos tendem a organizar-se em torno de ideias com-
partilhadas por seus componentes, sobre como deve organizar-se e ser
governada a sociedade. As disputas eleitorais conguram, pelo menos
em princípio, a defesa, pelos partidos, de diferentes formas possíveis de
se governar. Essas formas são consubstanciadas nos programas partidá-
rios e objeto de divulgação por meio de propaganda.
Em grandes linhas, temos um substrato ideológico que traduz uma
cosmovisão, isto é, uma visão do mundo, um projeto de como deve ser
a sociedade e de que maneira deve ser dirigida. Essa visão traduz-se na
adoção de uma visão teológica, como o islamismo ou o cristianismo,
em uma interpretação democrática ou totalitária do governo, na busca
de manutenção de determinado status quo, ou de sua derrubada por via
revolucionária, etc.
Acima desse substrato ideológico é que se situam os programas
partidários que mostram em caráter prático como a sociedade deve ser
conduzida e administrada. Entram aqui as normas e prescrições progra-
máticas sobre a maior ou menor participação do estado na vida social,
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