A consciência de classe na crise dos tempos pós-modernos

AutorFlávio Bezerra de Farias
CargoEngenheiro Civil (UEMA, 1976) e Economista (UFMA, 1976). Diploma de Estudos Aprofundados em Economia do Desen- volvimento (Panthéon-Sorbonne, 1978). Doutor de Terceiro Ciclo em Economia e Gestão (Amiens-Picardie, 1981). Doutor de Estado em Economia (Paris-Nord, 1988). De 1995 a 2015, realizou três pós-doutorados (dois em Paris-Nord e um em- ...
Páginas13-45
A CONSCIÊNCIA DE CLASSE NA CRISE DOS TEMPOS PÓS-MODERNOS
Flávio Bezerra de Farias
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Resumo
A superação da crise dos tempos pós -modernos implica determinaçõe s sociais, ecológicas, culturais e geopolíticas como
um todo, na luta contra o imperialismo global. Nesse contexto, a alternativa crítica e revolucionária considera o proletariado
como sujeito emancipador consciente e, portanto, recusa tanto a regulação liberal conservadora, quanto a regulação histor i-
cista popu lista. Busca, enfim, atualizar a antecipaç ão concreta comunista de um m undo melhor para os seres sociais e
naturais.
Palavras-chave: Questões social e ecológica; consciência de classe; crise da pós-moder nidade; partido proletário.
CLASS CONSCIOUSNESS IN THE CRISIS OF POST MODERN TIMES
Abstract
Overcoming the crisis of postmodern times implies social, ecological, cultural and geopolitical determinations as a whole, in
the struggle against global imperialism. In this context, the critical and revolutionary alternative considers the proletariat as a
conscious emancipatory subject and, therefore, rejects both conservative liberal regulation and histor icist populist regulation.
Finally, it seeks to update the concrete communist anticipation of a better world for social and natur al beings.
Keywords: Social and ecological questions; class consciousness; postmodernity crisis; proletar ian party.
Artigo recebido em: 12/02/2022 Aprovado em: 14/03/2022
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Engenheiro Civil (UEMA, 1976) e Economista (UFMA, 1976). Diplom a de Estudos Aprofundados em Economia do Desen-
volvimento (Panthéon-Sorbonne, 1978). Doutor de Terceiro Ciclo em Economia e Gestão (Amiens-Picardie, 19 81). Doutor
de Estado em Economia (Paris-Nord, 1988). De 1995 a 2015, realizou três pós-doutorados (dois em Paris-Nord e um em-
Sorbonne Nouvelle), três estadias de professor visitante (Paris -Nord) e uma de pesquisador visitante (Meddlesex-Londres).
Professor Titular Aposentado da UFMA. E-mail: flaviobezerradefarias@gmail.com.
Flávio Bezerra de Farias
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1 INTRODUÇÃO
Neste texto, contestam-se certas reificações pós-modernas vinculadas à grande ideologia
burguesa dominante, que apregoa a inexistência de alternativa ao capitalismo, a despeito de seu cará-
ter cada vez mais destrutivo da humanidade e da natureza. Considera-se que a resolução proletária da
crise estrutural na escala mundial, passa por um processo de socialização democrático e racionalmente
organizado para a satisfação de necessidades humanas, compatíveis com as possibilidades produtivas
humanas, de maneira ecologicamente sustentável, sem subsunção à produção como um fim em si
mesma. Considera-se, também, que o proletariado é o principal antagonista do imperialismo global, no
contexto da guerra permanente e sem limites.
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Quanto ao método, pretende-se romper com o isolamen-
to abstrato entre a questão social e a questão ecológica, como também com a questão geopolítica, em
tempos de pós-modernidade. Nessa situação historicamente determinada, em que vigoram as condi-
ções objetivas para a permanência da luta de classes, ambiciona -se analisar o processo de totalização
concreta no qual a reprodução unitária do capital social total torna-se, também, luta no quadro dos capi-
tais numerosos em grande crise estrutural, criando as condições objetivas para a radicalização das
lutas subjetivas sejam intercapitalistas, sejam entre os capitalistas e os proletários(MARX,1976).
De acordo com a ideia geral de totalização concreta e contraditória entre a superestrutura
(política, ideológica, estatal, cultural etc.)e a base (técnica e econômica), própria ao materialismo dialé-
tico e histórico (MARX, 1977),no qual tem referência este texto, considera-se decisiva a implicação do
sujeito coletivo, isto é, a ação das “classes sociais, cuja práxis – e a partir daí a consciência e a afetivi-
dade é orientada para a organização global da sociedade, para a estruturação de conjunto das rela-
ções inter-humanas e das relações entre os homens e a natureza.” (GOLDMANN, 1970, p. 330). Por
isso, faz-se aqui uma crítica ao historicismo populista, que tenta revisar a categoria marxista de hege-
monia (especialmente em Gramsci) para desconstruir as categorias marxianas de revolução, emanci-
pação e classe social, na situação historicamente determinada da pós-modernidade (LACLAU, 2015,
Prefácio, p. 5 et seq.).
Enfim, neste texto, procura-se sublinhar a relação dialética entre a integração sistêmica
real e a ruptura proletária possível, como também entre a espontaneidade e a organização, e, portan-
to, entre a consciência de classe e a organização do proletariado , na situação de crise dos tempos
pós-modernos, em que urge superar a exploração econômica, a dominação política e a humilhação
social do homem pelo homem, como um todo, através de uma autêntica experiência de socialismo, não
como um fim em si mesmo, mas como transição voltada para a utopia concreta comunista (BLOCH,
1981). Visa-se, em suma, compreender e transformar o processo histórico da experimentação que se
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faz atualmente com o mundo social e natural, marcado por amplas e profundas agressões do imperia-
lismo global, inclusive a uma produção cultural criativa e autônoma.
2 A CONSCIÊNCIA DE CLASSE E O MITO DO FIM DA HISTÓRIA
Ao abordar o ser social e histórico como gênese, desenvolvimento e superação, conforme
a antecipação concreta comunista, Ernst Bloch (1991, Tomo I, p. 190) se engajou na grande ideologia
proletária, para combater “uma das características mais importantes” da grande ideologia burguesa: “a
harmonização prematura das contradições sociais. ”Nesse sentido, em meio às regulações estatizantes
e autoritárias de uma grande crise mundial, em 1942, o fundador da Teoria Crítica, Max Horkheimer
(1978, p. 352)sublinhou a discordância entre a principal tarefa histórica do proletariado e a reificação
que mais importa à classe capitalista, a saber: “enquanto o proletariado não fizesse sua própria revolu-
ção, não lhe seria deixado, nem para ele, nem para seus teóricos, outra escolha além daquela de se-
guir o Espírito do mundo no caminho que este Espírito escolheu de uma vez por todas. Na geopolítica
da Guerra-Fria, as organizações da classe proletária foram marcadas pela dominação das grandes
ideologias do socialismo democrático e do socialismo real, ambas voltadas tanto para a garantia da
“coexistência pacífica” entre os blocos ocidental e oriental, quanto da “emulação” entre o socialismo e o
capitalismo (BORDIGA, 1958, p. 1). Uma
[…] afirma um programa de colaboração social e política, concebe relações pacíficas entre
as classes, encerra a defesa dos inter esses operários no quadro da constituição, rejeita por
princípio o emprego da violência e da ditadura do proletariado, lhes substituindo por uma
gradual evolução da economia privada para o socialismo [… A outra] pretende não rejeitar
por princípio os métodos da insurreição, da ditadura, do terrorismo. Mas, ao mesmo tempo,
sustenta que convém adotar, nos países capitalistas, não somente métodos de ação, mas
também reivindicações e postulados de propagan da que podem ser compartilhados por clas-
ses proprietárias e não proletárias, assim como a possibilidade da coexistência pacífica de
classes sociais com interesses opostos no quadro das instituições; da democracia eletiva e
parlamentar; do bem-estar do povo e da nação; do futuro e do destino da pátria... (Ibidem).
Uma vez derrotadas e descartadas as alternativas totalitárias centrais (fascismo e nazis-
mo),prevaleceu uma manipulação imperialista ocidental tanto de uma regulação positivista do capita-
lismo (estatizante e socializante), no domínio da luta entre as classes fundamentais, buscando a inte-
gração socialdemocrática e a neutralização da ruptura proletária, quanto de uma regulação positivista
da primazia do capital-função (industrial e comercial) sobre o capital-propriedade (bancário e financei-
ro), no domínio da luta intercapitalista, prometendo controlar as forças do mercado (o liberalismo, o
privatismo, o rentismo, a especulação financeira etc.)através de três modalidades de planejamento, a
saber:o econômico (keynesiano),o administrativo (taylorista)e o político (fordista). Durante os trinta
anos dourados dos países centrais (de 1945 a 1975), entretanto, houve certa alternância com a imple-

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