Consequências de uma expansão periférica e seus impactos sobre a população juvenil

AutorIracema Brandão Guimarães
CargoProfessora do Departamento de Sociologia e Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFBA e Pesquisadora do CNPQ, 2015.
Páginas23-44
Consequências de uma expansã o periférica...
Caderno s do CEAS, Salvador, n. 235, p. 23-44, 2015 23
CONSEQUÊNCIAS DE UMA EXPANSÃO PERIFÉRICA E SEUS
IMPACTOS SOBRE A POPULAÇÃO JUVENIL
Consequences regarding to a peripheral expansion and its impacts on the juvenile population
Resumo
O objetivo do presente Trabalho é demonstrar o interesse e
atualidade de uma discussão sobre os critérios que envolvem a
definição da periferia como local de residência da população
pobre e, em seguida, introduzir alguns elementos contextuais
sobre a residência em bairros populares, também, denominados,
genericamente, de periferia, para refletir sobre suas
consequências sobre grupos sociais, especialmente os jovens.
Para tanto, abordam-se as classificações de bairros, segundo os
critérios disponíveis e, em um segundo momento, tomam-se os
critérios teóricos e sociais, orientados por um paradigma da
sociologia urbana que supõe uma tendência a certo
desaparecimento da sociabilidade primária e sua gradativa
substituição pela sociabilidade considerada secundária, para
refletir sobre a importância deste fator, para o entendimento da
situação dos jovens, nos chamados bairros periféricos.
Palavras-chave: Cidades. Periferia. Jovens.
INTRODUÇÃO
Um ponto de partida quase obrigatório, para se falar na Periferia é o fato de tratar-se
de uma definição relacional que se contrapõe a um Centro referindo-se ao que está à
margem e correspondendo, geralmente, ao Subúrbio. Em um trabalho
Considerado pioneiro sobre o tema, Durham (1986, p. 96) associava esta localização
distante à concentração residencial da população pobre, no caso de São Paulo: “trata-se de um
espaço que lhe é próprio, onde se constitui a expressão mais clara de seu modo de vida,
formada pelos bairros mais distantes, mais pobres, menos servidos por transportes serviços
públicos”. Um mesmo tipo de população homogênea encontrava-se, porém, dispersa em
outros pontos da cidade, admitindo-se que poderia estar habitando tanto em cortiços, como
em casas de cômodos e outros padrões, geralmente encontrados em zonas consideradas
deterioradas, podendo mesmo subsistir como “enclaves” nos intervalos espaciais localizados
entre os bairros de classe média.
Este exemplo remete aos obstáculos para uma classificação dos bairros populares e
áreas residenciais da população pobre com base na relação Centro-Periferia, o que obriga, de
Iracema Brandão Guimarães
Professora do Departamento de
Sociologia e Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais da
UFBA e Pesquisadora do CNPQ,
2015.
Caderno s do CEAS, Salvador, n. 235, p. 23-44, 2015 24
certo modo, a recorrer-se ao outro termo, também utilizado para se referir às áreas
residenciais desta população, a favela, que é associada à forma como se deu a divisão do
espaço na cidade do Rio de Janeiro. A referência não é espacial, como a distância, mas as
diversas modalidades de ocupações inicialmente localizadas nos morros e geralmente
caracterizadas como ocupação desordenada, marcada muito mais pela precariedade e pela
falta de assistência e recursos do que pela sua localização geográfica, o que sugere um
tratamento igual e homogêneo. Entretanto, quando se considera o processo de ocupação,
entende-se que ele carece de homogeneidade: “a diversidade das favelas e da população
favelada permite colocar em cheque uma noção homogeneizadora destes espaços, o que
reforça a necessidade de se dar continuidade ao seu estudo como locais privilegiados, não só
de habitação popular - mas da pobreza urbana e de suas várias dimensões (VALLADARES;
MEDEIROS, 2003, p. 11).
A localização espacial, a heterogeneidade e as condições sociais da população
ocupante constituem importantes critérios para se refletir sobre um modo de adequação do
conceito de periferia - no sentido acima referido - para as áreas da moradia popular em
Salvador, sugerindo o interesse de se retomar uma visão da totalidade e seus critérios de
classificação. Isso permite considerar se as definições citadas inicialmente são aplicáveis
indiscriminadamente às áreas residenciais da população pobre em cidades brasileiras, muitas
vezes sem atentar para o aspecto de que se trata de áreas residenciais, que são histórica e
socialmente “produzidas”, no sentido de que o espaço social é entendido como fruto de
relações econômicas de dominação e de políticas urbanísticas, por meio das quais o Estado
ordena e controla a população (LEFEBVRE, 1991).
OS OBSTÁCULOS À CLASSIFICAÇÃO
Na busca de uma classificação das áreas e bairros aqui focalizados, os obstáculos
encontrados decorrem da própria história da urbanização desta cidade, muito anterior ao
período da sua intensificação entre os anos 40-50 quando ocorreu uma descentralização pouco
planejada expansão periférica que gerou quatro tipos gerais de ocupações, segundo
Brandão (1978, p. 160), a) os trechos degradados das zonas norte e sul de transição do centro
da cidade; b) as séries de habitações conhecidas por 'avenidas'; c) os bairros pobres surgidos
ou incrementados na primeira metade do século XX; d) as invasões, ou bairros de crescimento
rápido que se intensificaram entre os anos 1950-70.

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