Consorcio de exportacao como alternativa de pequenas e medias empresas: um estudo de caso na cadeia textil.

AutorBarbieri Lima, Gustavo
CargoArtigo--Administração Geral

THE EXPORT CONSORTIUM AS A BEST INITIAL ALTERNATIVE FOR SMALL AND MEDIUM SIZED INDUSTRIES: A CASE STUDY IN CLOTHING

  1. INTRODUÇÃO

    O processo de globalização e a formação e consolidação de blocos econômicos, como a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e a União Européia (UE), que profetizam a livre circulação de bens, pessoas e capital entre os países-membros, assim como o acirramento da concorrência entre empresas que já não mais respeitam fronteiras, representam diversas ameaças e oportunidades que devem ser consideradas em decisões sobre a entrada em mercados internacionais (VEIGA; MARKWALD, 1998; VEIGA et al., 1999).

    No que diz respeito às ameaças, a decisão de ir para o exterior deve ser tomada tendo como base a competitividade no mercado interno de players internacionais. As empresas que não têm planos de internacionalizar-se vêem-se diante de uma situação em que podem, gradativamente, perder participação de mercado para concorrentes internacionais que chegam com produtos de alta qualidade e preços competitivos em seu mercado doméstico. A internacionalização, dessa forma, torna-se uma reação à concorrência (KOTABE; HELSEN, 2000).

    Já as oportunidades surgem em função do potencial de vendas em outros países. Esses ganhos podem contemplar, por exemplo, o aproveitamento de linhas de produto em mercados atrativos externos ou ainda oportunidades em mercados de diferentes estágios quanto ao ciclo de vida de produtos. Outro importante fator para a internacionalização é a redução de risco em um mercado em particular, por meio da constituição de um verdadeiro portfolio de mercados (KOTLER, 2000).

    Segundo a United Nations Industrial Development Organization (UNIDO, 2003), como resultado da desregulamentação econômica, de métodos de transporte aprimorados e da inovação em tecnologia de informação e telecomunicação, pequenas e médias empresas estão incrivelmente expostas à competição global. Ao mesmo tempo, entretanto, empresas isoladas encontram grande dificuldade em penetrar nos mercados internacionais. Em razão da produção relativamente pequena das empresas de pequeno porte, estas encontram dificuldades para competir com o baixo custo de produção de empresas multinacionais que são capazes de explorar economias de escala.

    Também, os ciclos de vida dos produtos têm-se tornado menores e, por isso, necessitam de desenvolvimento de produtos e serviços. Além do mais, empresas de pequeno porte não possuem os meios financeiros e know-how para posicionar seus produtos no mercado internacional com sucesso.

    Depois de analisar a possibilidade de internacionalizar-se, a empresa deve decidir em quais mercados entrar. Para isso, deve observar a atratividade dos diversos mercados potenciais. A decisão de como entrar tem relação com o grau de comprometimento com a atividade e também com o grau de investimento (KOTLER, 2000).

    Vários são os modos de entrada que uma empresa pode adotar: exportação indireta, exportação direta, consórcio de exportação, subsidiária própria no exterior, joint venture, licenciamento, investimento direto, franchising, que são estudados por diversos autores (ANDERSON; GATINGNON, 1986; ANDERSON; COUGHLAN, 1987; KOTABE; HELSEN, 2000; KOTLER, 2000). Todavia, em comparação às demais modalidades, os três primeiros modos são os mais indicados e vêm sendo utilizados pelas pequenas e médias empresas, principalmente por seu menor grau de comprometimento, investimento e risco envolvidos NOONAM, 1999; JOHANSON, 2000; JEANNET; HENNESSEY, 2001; PALIWODA; THOMAS, 2001).

    Ainda assim, deve-se salientar que tanto a exportação direta quanto a indireta apresentam algumas limitações para aquelas empresas que desejam internacionalizar-se e que não possuem intimidade com o mercado internacional nem com os trâmites inerentes ao processo de exportação KLEIN; ROTH, 1994). Tais limitações acabam por inibir ou desestimular a tentativa de pequenos e médios empresários de vender seus produtos no mercado externo.

    Para Paliwoda e Thomas (2001), o consórcio de exportação possibilita que empresas de pequeno e médio porte se reúnam por segmentos produtivos e/ou segmentos complementares--para exportar seus produtos para diferentes mercados, mantendo sua própria individualidade no mercado doméstico, concorrendo com grandes fornecedores e beneficiando-se de sua eficiência operacional e de baixos custos de produção --, constituindo uma alternativa para suprir as limitações apresentadas pelas exportações indireta e direta. As alianças entre empresas permitem superar as limitações de porte (GULATI, 1998).

    Segundo Keegan (1980) e Noonam (1985), um dos princípios que regem os consórcios de exportação é a prestação de serviços comuns aos associados (informação, capacitação gerencial, produtiva e tecnológica). Outro princípio é a capacidade de resposta a demandas de grande porte, o que não seria possível a uma pequena empresa que trabalha isoladamente.

    Dependendo do número de empresas envolvidas e do nível de suporte financeiro do governo, o custo para a presença num mercado estrangeiro cai a um décimo do valor se comparado a atuações individuais e à mesma proporção para a contratação de supervisores que viajam para supervisionar agentes (PALIWODA; THOMAS, 2001).

    Dessa forma, uma questão de pesquisa interessante seria: qual a importância dos consórcios na inserção internacional de pequenas e médias empresas da realidade empresarial brasileira, se comparados à exportação indireta e direta? Responder a essa questão implica explorar casos no Brasil e entender os desafios para o sucesso desse arranjo organizacional específico.

  2. OBJETIVOS

    O objetivo geral deste estudo é checar a importância e utilidade da formação de consórcios de exportação para empresas brasileiras de pequeno e médio porte, em detrimento da adoção da exportação indireta ou direta como estratégia ou modo de entrada no mercado internacional.

    Os objetivos específicos são:

    * Identificação de limitações da exportação indireta e da exportação direta como formas de inserção de empresas no mercado internacional.

    * Análise dos consórcios de exportação como facilitadores no canal de distribuição para o mercado internacional de pequenas e médias empresas.

    * Análise da experiência da Associação Brasileira do Vestuário (ABRAVEST) na criação, formação e organização de consórcios de exportação para pequenas e médias indústrias do setor vestuário, com a supervisão, assessoria e suporte financeiro da Agência de Promoção de Exportação (APEX-Brasil).

  3. REFERENCIAL TEÓRICO

    3.1. Modos de Entrada no Mercado Internacional para Pequenas e Médias Empresas

    Para a discussão sobre os modos de entrada no mercado internacional para pequenas e médias empresas, a seguinte seqüência será estabelecida: primeiro, o artigo apresenta de forma ampla as decisões de marketing internacional; depois, uma das decisões, sobre formatos de entrada, é mais bem explorada no que tange às pequenas e médias empresas, onde o foco é dirigido à exportação direta, indireta e finalmente aos consórcios de exportação. Para estes formatos, as características, vantagens e desvantagens são apresentadas.

    Antes de uma empresa se lançar em mercados estrangeiros, importantes decisões de marketing internacional devem ser tomadas (KOTLER, 2000) (Figura 1).

    [FIGURA 1 OMITIR]

    [GRÁFICO 1 OMITIR]

    O grau de integração vai desde a não-integração (Exportação indireta) até a completa integração (Exportação direta). Acompanhando essa progressão estão a transferência de autoridade e o crescente grau de controle (ANDERSON; GATINGNON, 1986; BELLO; LOTHIA, 1995; BERMAN, 1996

    Os tipos de exportação, suas características e as principais vantagens e desvantagens estão descritos no Quadro 1.

    3.2. O Consórcio de Exportação

    O consórcio de exportação é a união de esforços de pequenas e médias indústrias de um mesmo setor produtivo ou de setores complementares para vender seus produtos no mercado internacional (NOONAM, 1999; PALIWODA; THOMAS, 2001). Dessa maneira, as empresas consorciadas podem manter sua própria individualidade no mercado doméstico e otimizar sua produção e venda de produtos no exterior (MINERVINI, 1997; FRANÇA, 1999).

    Para a UNIDO (2003:3):

    Um consórcio de exportação é uma aliança voluntária de empresas com o objetivo de promover os produtos e serviços de seus membros no exterior e facilitar a exportação destes produtos através de ações conjuntas. Os membros de um consórcio devem cuidar que a cooperação prevaleça sobre a competição, com o intuito de acessar mercados-chave e tecnologia de última geração. Um consórcio de exportação pode ser visto como uma cooperação estratégica formal de médio-longo-prazo entre empresas que atuam como provedor de serviços, facilitando o acesso aos mercados internacionais. Conforme a APEX-Brasil (2003), o consórcio de exportação é o agrupamento de empresas com interesses comuns, reunidas em uma entidade estabelecida juridicamente. Esta entidade será constituída sob a forma de uma associação sem fins lucrativos, na qual as empresas produtoras desenvolverão maneiras de trabalho conjugado e em cooperação, com vistas nos objetivos comuns de melhoria da oferta exportável e de promoção das exportações.

    Para Maciel e Lima (2002), qualquer associação de empresas cuja finalidade seja entrar conjuntamente em mercados internacionais pode ser considerada um consórcio de exportação.

    Segundo Casarotto Filho e Pires (2001), o consórcio de exportação pode representar o instrumento adequado para a promoção e facilitação dessas alianças, aproximando, acompanhando e assessorando o conjunto de empresas, isto é, desenvolvendo uma rede de relacionamento entre as empresas do território e destas com as instituições. Essa rede de colaboração pode ter características específicas comuns de estratégia e gestão do grupo de empresas, ou um caráter genérico, ligado às problemáticas setoriais ou do ambiente competitivo das empresas. O consórcio deve responsabilizar-se pela avaliação, coordenação e...

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