A Construção Social dos Nacionalismos: os referendos de secessão na década de 2010
| Autor | Gustavo Alves Santana |
| Páginas | 27-44 |
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A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS
NACIONALISMOS
GUSTAVO ALVES SANTANA
Introdução
O nacionalismo é uma das principais ideologias políticas
contemporâneas. O próprio modelo de organização política padrão
no sistema internacional, o Estado-nação, é baseado nessa doutrina
justicando a existência de um Estado a partir de uma nação representada
por uma cultura limitada a um território especíco. Dessa forma, o
Estado em seu modelo moderno e a nação são intrinsicamente ligados.
Contudo, as Relações Internacionais concentram suas contribuições
teóricas amplamente no Estado e pouco se considera sobre a nação e os
nacionalismos.
Por outro lado, teorias tradicionais sobre o nacionalismo tem as
suas raízes em outras áreas das ciências sociais, como a antropologia e a
história. Todavia, tal fenômeno, principalmente no contexto pós-Guerra
Fria, detém uma dimensão internacional que faz com que não seja
possível compreendê-lo na atualidade de maneira total sem se considerar
fatores estruturais internacionais.
Dessa forma, o presente trabalho busca complementar tanto as
teorias modernistas e construcionistas acerca do nacionalismo com a
teoria construtivista de Relações Internacionais. Tal complementariedade
será usada para buscar compreender as características resultantes do
sistema internacional que possibilitam a ascensão dos nacionalismos a
os referendos de secessão na década
de 2010
CAPÍTULO II
28
Estado, democracia e sociedade
partir da socialização. Os objetos de estudo serão os diferentes referendos
de secessão ocorridos no decorrer da década de 2010, questionando se
tais ocorrências estão relacionadas entre si. A partir da hipótese de que
os movimentos nacionalistas são resultantes da estrutura internacional
construída socialmente a partir da socialização dos agentes, supõe-
se que os referendos de secessão em diferentes partes do mundo estão
relacionados não meramente a variáveis domésticas, mas também
globais.
Assim, o objetivo principal do presente artigo é fornecer
uma perspectiva teórica a partir das Relações Internacionais para a
compreensão do ressurgimento do nacionalismo na política internacional
pós-Guerra Fria como um fenômeno internacional estrutural que
resultou, dentre outras coisas, em uma onda de referendos por
independência na década de 2010. Para isso, utilizar-se-á contribuições
de teóricos construtivistas nas RI como Alexander Wendt e Martha
Finnemore e aplicar-se-á tais preceitos aos estudos de nacionalismo. A
metodologia da pesquisa é qualitativa, realizada a partir de uma revisão
bibliográca selecionada de pesquisadores tanto de nacionalismo como
de Relações Internacionais. Por se congurar como um esforço teórico,
as fontes utilizadas são majoritariamente secundárias.
O artigo divide-se em três seções. A primeira apresenta os debates
teóricos interdisciplinares acerca do nacionalismo e o contexto de seu
ressurgimento na contemporaneidade. Na seção seguintes realiza-se uma
análise teórica do nacionalismo a partir da abordagem construtivista
das Relações Internacionais. A terceira seção inclui os referendos por
independência realizados durante a década de 2010 e busca analisar
suas possíveis causas sistêmicas. Por m encontra-se uma conclusão
com os resultados gerais da pesquisa e uma breve revisão dos conteúdos
abordados.
Nacionalismo: teorias clássicas e o ressurgimento no nal do século XX
Os estudos sobre nacionalismo nas Relações Internacionais são
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