Democracia e dependência na América Latina: contribuições para o debate sobre a desigualdade no subcontinente

AutorThiago Logatto
Páginas45-65
45
DEMOCRACIA E DEPENDÊNCIA NA
AMÉRICA LATINA:
THIAGO LOGATTO
Introdução
A elevação das desigualdades socioeconômicas nos países
centrais, ao longo das últimas décadas, tem gerado debates e repercutido
nas Ciências Sociais. Cada vez mais se aponta o capitalismo como um
sistema que promove desigualdades, e que se apresenta politicamente
como um sistema de caráter oligárquico. Autores como Wolfgang Streeck
(2018) e omas Piketty (2014) têm apontado as consequências do
processo de concentração de capital, do progressivo desmantelamento das
políticas sociais e da deterioração da participação política das massas no
processo político. As mudanças colocadas pelos autores correspondem,
grosso modo, às transformações que vêm ocorrendo no capitalismo
dos países centrais desde o início da década de 1970 e da emergência
do neoliberalismo, como o intenso processo de nanceirização e
concentração de capital, e a progressiva eliminação de políticas de bem-
estar.
Com isso, vem à tona o debate sobre a relação entre capitalismo
e democracia, uma vez que a ofensiva neoliberal impõe novas condições
para o funcionamento do capitalismo. A lógica de nanceirização do
capital produtivo e da transferência de serviços públicos e sociais para
a esfera do mercado altera signicativamente o papel do Estado, e entra
em conito com participação política democrática. Assim, observa-
contribuições para o debate sobre a
desigualdade no subcontinente
CAPÍTULO III
46
Estado, democracia e sociedade
se uma tensão entre capitalismo e democracia, pois os interesses
dos detentores de capital, como empresários e investidores, acabam
prevalecendo em detrimento das demandas da população por políticas
sociais e distributivas. Defensores do liberalismo econômico tendem a
defender e legitimar a sobreposição dos interesses capitalistas em relação
às consequências políticas e sociais da acumulação e da desigualdade,
por considerarem a reorganização da economia através da ação do
Estado como uma interferência nas liberdades individuais. Portanto,
foi fundamental compreender, a partir do pensamento de Joseph
Schumpeter (1984) e Giovanni Sartori (1994), de que modo as suas ideias
legitimam a manutenção de interesses capitalistas dentro de um contexto
político democrático.
Por outro lado, a desigualdade econômica na América Latina é
um problema histórico de caráter estrutural, assim como a instabilidade
política e os vários regimes ditatoriais e autoritários que fazem parte da
história latino-americana. De modo a contextualizar a América Latina
em meio ao debate a respeito das desigualdades e das democracias
capitalistas contemporâneas, torna-se fundamental compreender a
inserção do subcontinente na economia mundial. A razão disso se
deve porque os condicionantes impostos a essa inserção são variáveis
que conferem um caráter especíco ao capitalismo latino-americano,
conferindo-lhe aspectos que podem ser observados, em maior ou
menor grau, em todo o subcontinente. Para isso, foi fundamental a
contribuição de autores como Ruy Mauro Marini (2011), eotônio dos
Santos (1991 e 2000) e Carlos Eduardo Martins (2011), que percebem
a inserção da América Latina na economia mundial condicionada
pela divisão internacional do trabalho; pela subordinação das classes
dominantes latino-americanas aos interesses do capital internacional; e
pela superexploração do trabalho. Os autores citados, que incorporam
a chamada Teoria da Dependência, buscam explicitar as características
e contradições do desenvolvimento do capitalismo latino-americano. A
partir das suas contribuições, foi possível posicionar a América Latina
dentro do debate sobre a desigualdade e as democracias contemporâneas.

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