Consumo de drogas em tempos de pandemia: reflexões sobre impactos na saúde mental

AutorRayssa Madalena Feldmann, Edna Linhares Garcia, Suzane Beatriz Krug
CargoPsicóloga, graduada pela Universidade de Santa Cruz do Sul- UNISC (2018)/Doutora em Psicologia Clínica (PUC-SP)/Graduação em Enfermagem e Obstetrícia (UFSM), pós-graduação em Administração Hospitalar e em Enfermagem do Trabalho, Mestrado em Desenvolvimento Regional (UNISC) e Doutorado em Serviço Social (PUC/ RS)
Páginas1-17
Revista Internacional Interdisciplinar INTERthesis, Florianópolis, v. 19, p. 01-17, jan./dez. 2022.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 1807-1384. DOI: https: //doi.org/10.5007/1807-1384.2022.e85907
Artigo
Original
CONSUMO DE DROGAS EM TEMPOS DE PANDEMIA:
REFLEXÕES SOBRE IMPACTOS NA SAÚDE MENTAL
Drug use in pandemic times: reflections on mental health impacts
rayssafeldmann@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-1911-7228
edna@unis.br
https://orcid.org/0000-0002-9542-6340
skrug@unis.br
https://orcid.org/0000-0002-2820-019X
A lista completa com informações das autoras está no final do artigo
RESUMO
Um novo tipo de coronavírus, causador de uma doença infecciosa denominada COVID-19, com grande taxa de
transmissibilidade, espalhou-se pelo mundo. A população recebeu a orientação de ficar em casa, em situação de
isolamento social, de forma a não atuarem como vetores de transmissão do vírus para os indivíduos de maior
vulnerabilidade. A pandemia do novo coronavírus trouxe efeitos sociais, econômicos e psicológicos em todo o mundo.
Apesar de serem medidas necessárias, deve-se levar em consideração os impactos do isolamento social à saúde mental
da população. Este estudo visa refletir sobre os efeitos da quarentena e o aumento dos comportamentos aditivos neste
período de pandemia, trazendo as implicações destes para a saúde mental e física da população. Trata-se de uma revisão
narrativa de artigos, reportagens e capítulos de livros publicados desde o início da pandemia, sendo as principais bases
de dados Medline, SciELO e Scopus Elsevier. Os achados apontam que a quarentena tem impactado negativamente
tanto na saúde mental quanto física da população, desencadeado sintomas psicológicos como ansiedade, depressão e
comportamentos aditivos; além disso, podem despertar sentimentos como tristeza e raiva, podendo ser pontuais ou se
estenderem após o término do isolamento. Entretanto, existem estratégias e intervenções que, quando adotadas em
conjunto, podem minimizar os efeitos psicológicos do isolamento e fazer desse momento menos adoecedor. Nesse
sentido, este estudo ressalta a importância da oferta, nos sistemas públicos de saúde, de tratamentos interdisciplinares e
estratégias de saúde pública eficazes, de modo que possam atender as necessidades da população , ofertando cuidado,
tratamento de maneira integral, pensando ainda em ações d e prevenção aos comportamentos aditivos a curto, médio e
longo prazo.
PALAVRAS-CHAVE: COVID-19. Pandemia. Saúde Mental. Drogas. Isolamento Social. Comportamentos Aditivos.
ABSTRACT
A new type of coronavirus, causing an infectious disease called COVID-19, with a high rate of transmissibility has spread
around the world. The population was told to stay in their homes, in social isolation, so as not to act as ve ctors of virus
transmission to more vulnerable individuals. The pandemic of the new coronavirus has brought social, economic, and
Rayssa Madalena Feldmann
Mestranda em Promoção da Saúde pelo Programa de
Pós-graduação da Universidade de Santa Cruz do Sul,
Santa Cruz do Sul, RS, Brasil
Edna Linhares Garcia
Doutora em Psicologia Clínica pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
São Paulo, SP, Brasil
Suzane Beatriz Krug
Doutora em Serviço Social pela
Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul
Porto Alegre,RS, Brasil
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Revista Internacional Interdisciplinar INTERthesis, Florianópolis, v. 19, p. 01-17, jan./dez. 2022.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 1807-1384. DOI: https: //doi.org/10.5007/1807-1384.2022.e85907
psychological effects all over the world. Although these are necessary measures, the impacts of social isolation on the
mental health of the population must be taken into consideration. This study aims to reflect on the effects of quarantine
and the increase of addictive behaviors in this period of pandemic, bringing the implications of these for the mental and
physical health of the population. This is a narrative review of articles, reports and book chapters published since the
beginning of the pandemic, the main databases being Medline, Scielo and Scopus Elsevier. The findings point out that
quarantine, has negatively impacted both the mental and physical health of the population, triggering psychological
symptoms, such as anxiety, depression and addictive behavior, in addition, can arouse feelings such as sadness and
anger, and may be punctual or extend after the end of isolation. However, there are strategies that, when adopted together,
can minimize the psychological effects of isolation and make this moment less unhealthy. In this sense, this study highlights
the importance of offering interdisciplinary treatments and effective public health strategi es in public health systems, so
that they can meet the needs of the population by providing comprehensive care and treatment, and by considering short,
medium, and long-term actions to prevent addictive behaviors.
KEYWORDS: COVID-19. Pandemic. Mental Health. Drugs. Social Isolation. Addictive behaviors.
1 INTRODUÇÃO
Um novo tipo de coronavírus, causador de uma doença infecciosa denominada
COVID-19, com grande taxa de transmissibilidade, espalhou-se pelo mundo (GUO et al.,
2020). No Brasil, o primeiro caso foi relatado no final de fevereiro de 2020, estando
decretado estado de quarentena desde o dia 7 de fevereiro de 2020, em virtude da Lei n.
13.979/2020 (BRASIL, 2020a). A partir disso, municípios e estados decretaram emergência
de saúde pública e estabeleceram que locais como escolas, igrejas, praças, clubes, bem
como outros lugares que possibilitem aglomerações de pessoas fossem fechados. A
população recebeu a orientação de ficar em casa, em situação de isolamento, sem contato
com o mundo externo, principalmente de forma a não atuarem como vetores de transmissão
do vírus para os indivíduos de maior vulnerabilidade, como idosos, imunodeprimidos e
pessoas com comorbidades (BRASIL, 2020b).
Com o objetivo de contribuir com a redução nos impactos da pandemia, realizando
uma queda no pico de incidência e do número de mortes, diversos países em todo o mundo
adotaram medidas como o isolamento de casos suspeitos, fechamento de escolas e
universidades, distanciamento social de idosos e outros grupos de risco, assim como
quarentena de toda a população (BROOKS et al., 2020; FERGUSON et al., 2020).
Contudo, as sensações e as percepções do isolamento social não têm sido
vivenciadas por todas as pessoas de forma cômoda (PREUSS; PEROTTI; SHUCK, 2020).
Izaguirre-Torres e Siche (2020) apontam que tal situação tem gerado um estresse mental
intenso; afirmam que mesmo os indivíduos que não sofreram com as emergências da
COVID-19 poderão ser afetados pelos efeitos da pandemia, como estresse, ansiedade,
depressão, podendo desencadear ainda algum transtorno mental. Acrescentam que, em
geral, a população confinada em suas casas tem encontrado dificuldades para lidar com o
turbilhão de emoções e sentimentos que este momento tem suscitado, como irritabilidade,

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