O controle de mercado através da eco-eficiência e do eco-consumo: uma análise a partir dos supermercados

AutorJulia Guivant
CargoDoutora em Sociologia, professora do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina
Páginas173-198
Dossiê
O controle de mercado através da
eco-eficiência e do eco-consumo:
uma análise a partir dos supermercados
Julia S. Guivant*
Resumo
Neste artigo discutimos inicialmente a mudança do papel dos super-
mercados no sistema alimentar, que tem iniciado o que alguns autores
consideram ser a sua terceira fase. Entre as diversas transformações
envolvidas nesse processo destacaremos duas: a) o papel dos supermer-
cados na conversão de consumidores em consumidores orgânicos e b) as
estratégias do setor supermercadista na gestão e construção sustentável.
A sustentabilidade tem passado a ser uma bandeira cada vez mais central
nas estratégias do setor de supermercados, algo obviamente possível
devido à imprecisão do conceito. Nossa análise se apóia fundamentalmen-
te na teoria da modernização ecológica e de forma secundária na nova
sociologia econômica dos objetos de mercado. A partir deste referencial
teórico ilustramos as tendências no setor varejista nos fluxos de mercado
globalizados e a influência da ação de organizações não-governamentais
e grupos de consumidores. Finalmente, mostramos o mosaico complexo
de tendências do setor, que exige uma perspectiva não essencialista ou
dicotômica para entender como as dinâmicas e demandas ambientais
passam a fazer parte não só do discurso, mas de práticas influentes destes
atores econômicos poderosos e que podem passar a ter conseqüências
não-premeditadas nas relações entre produção e consumo nas novas
regras da globalização dos mercados.
Palavras-chave: consumo sustentável, supermercados, teoria da moder-
nização ecológica.
* Doutora em Sociologia, professora do Departamento de Sociologia e Ciência Po-
lítica da Universidade Federal de Santa Catarina, coordenadora do IRIS (Instituto
de Pesquisa em Riscos e Sustentabilidade), presidente da ANPPAS (Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ambiente e Sociedade). Endereço
eletrônico: juguivant@uol.com.br. Página na Internet: www.iris.ufsc.br.
174 p. 173 – 198
Volume 8 – Nº 15 – outubro de 2009
1. Introdução
Na década de 90 o setor supermercadista passou a assumir no
contexto internacional novos papeis no abastecimento de
alimentos (com investimentos na área produtiva), no controle de
sua qualidade, na seleção de produtos a colocar nas prateleiras.
Os supermercados passaram a ser agentes centrais no processo
de transformação da esfera do consumo alimentar. A capacidade
dos supermercados de continuar produzindo novas opções de
consumo alimentar está se fortalecendo com iniciativas cada vez
mais importantes no que diz respeito às inovações e às escolhas
sobre a qualidade dos alimentos. E seu poder enquanto poderosas
forças corporativas transnacionais tem aumentado as criticas de
diverso tipo a suas práticas concentradoras de parte de governos,
organizações não-governamentais (ONGs), grupos de consumidores
e produtores e também acadêmicos (LAWRENCE & BURCH 2007).
Neste artigo discutimos inicialmente a mudança do papel
dos supermercados no sistema alimentar, que tem iniciado o que
alguns autores consideram ser a sua terceira fase. Entre as diversas
transformações envolvidas nesse processo destacaremos duas: a) o
papel dos supermercados na conversão de consumidores em consu-
midores orgânicos e b) as estratégias do setor supermercadista na
gestão e construção sustentável. A sustentabilidade tem passado a
ser uma bandeira cada vez mais central nas estratégias do setor de
supermercados, algo obviamente possível devido a imprecisão do
conceito. Mas, apesar desta imprecisão, como considerar as novas
estratégias e quais são seus significados?
Para a análise do papel dos supermercados na conversão dos
consumidores encontramos uma fonte de análise na proposta de Co-
choy (2007, p.109) de uma quarta versão da Sociologia Econômica.
De acordo com este pesquisador, a Sociologia Econômica desafia
as explicações econômicas sobre escolhas de mercado ao propor
investigar as raízes sociais, culturais e políticas dos comportamen-
tos econômicos. Ainda que reconhecendo a relevante contribuição
destas análises, Cochoy sugere que elas tendem a reduzir as rea-
lidades dos mercados a suas dimensões humanas (redes, idéias e
instituições). O que teria sido negligenciado é o papel dos objetos,

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